Funcionários da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) decidiram paralisar suas atividades por 24 horas nesta quinta-feira, 1º. A decisão, tomada em assembleia do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc) na segunda-feira 29, visa a pressionar o governo Lula por reajuste salarial e mudanças no plano de remuneração e cargos.
Paulo Garrido, presidente do sindicato, explicou que a categoria pede uma recomposição salarial escalonada: 20% em 2024, 20% em 2025 e 20% em 2026.
Segundo o Asfoc, a defasagem salarial desde 2010 é de 59% para nível superior e 75% para nível intermediário. O impacto anual estimado do reajuste é de R$ 907 milhões, beneficiando 6.527 trabalhadores, entre ativos e aposentados.
As negociações sobre carreiras e remuneração envolvem a Fiocruz e o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos. Outra demanda é o reconhecimento de resultados de aprendizagem, valorizando não apenas títulos acadêmicos, mas também especializações práticas.
“Um cirurgião pode ser altamente qualificado com várias especializações, sem ter cursado doutorado”, afirmou Garrido, em entrevista à Agência Brasil. “As especializações e atualizações são mais estratégicas para suas competências e desempenho na prática”.
Garrido mencionou que um acordo firmado em 2015 para implementar essa política não foi concretizado. O sindicato representa também trabalhadores terceirizados e bolsistas e participa do Conselho Deliberativo da Fiocruz. Ele valorizou o retorno ao diálogo com o governo, iniciado no ano passado, mas expressou insatisfação com o andamento das conversas.
A fundação conta com cerca de 13.500 funcionários e teve um orçamento de quase R$ 9,6 bilhões em 2023. No último ano, publicou 2.030 artigos científicos e produziu 91,59 milhões de doses de vacinas, além de prestar atendimento de saúde a cerca de 300 mil pacientes.
Pesquisadores da Fiocruz se sentem ‘desvalorizados’
“Chegam pelos jornais, todos os dias, notícias de diferenças de tratamento com algumas categorias, que estão mais valorizadas”, declarou. “Somos uma instituição estratégica a serviço da saúde e da ciência do país, e sempre estivemos presentes nos momentos mais difíceis, como na pandemia. Nós queremos ter a mesma valorização”.
O sindicato enviou ofícios à direção da Fiocruz e ao Ministério da Gestão, comprometendo-se a manter serviços essenciais durante a paralisação. A proposta do ministério, que não incluía reajuste salarial em 2024, foi rejeitada.
Garrido espera “um reconhecimento pelo governo a toda a contribuição da Fiocruz ao povo brasileiro, com valorização concreta de seus trabalhadores”. Ele afirma que a remuneração é importante para sustentar os profissionais que produzem remédios e vacinas, que enfrentam doenças e calamidades, e fazem descobertas reconhecidas mundialmente.
Nova assembleia e continuidade da greve
Uma nova assembleia está marcada para sexta-feira, 2, para avaliar os resultados das negociações e decidir sobre a continuidade da greve. O sindicato já discute uma paralisação progressiva, com greve de um dia por semana, caso o governo não atenda às demandas.
A Fiocruz informou que sua presidência e uma comissão de diretores têm se reunido com representantes do governo desde fevereiro. O objetivo é defender a importância da negociação da tabela remuneratória e das mudanças nas carreiras, refletindo o reconhecimento do trabalho dos servidores.
O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos não se posicionou.