Um novo estudo, publicado na revista científica Current Biology na última terça-feira (10), mostra que sementes fossilizadas foram encontradas no estômago de um dos primeiros pássaros a viverem na Terra, indicando que eles comiam frutas. A descoberta diverge da hipótese de que essas aves se alimentavam de peixes, que surgiu pelo seu bico conter vários dentes fortes.
A ave Longipteryx chaoyangensis viveu há mais de 120 milhões de anos onde hoje é o nordeste da China e foi descoberto em 2000.
“A Longipteryx é uma das minhas aves fósseis favoritas, porque é muito estranho — tem um crânio longo e dentes apenas na ponta do bico”, diz Jingmai O’Connor, curadora associada de répteis fósseis no Neguanee Integrative Research Center do Field Museum e principal autora do estudo, em comunicado à imprensa.
“O esmalte dentário é a substância mais dura do corpo, e o esmalte dentário do Longipteryx tem 50 mícrons de espessura. Essa é a mesma espessura do esmalte de enormes dinossauros predadores como o Allosaurus, que pesava 4.000 libras, mas o Longipteryx é do tamanho de um gaio-azul”, explica Alex Clark, aluno de doutorado no Field Museum e na University of Chicago e coautor do artigo.
Na época em que o Longipteryx foi descoberto, os cientistas sugeriram que seu crânio alongado, semelhante ao do martim-pescador, significava que ela era uma ave caçadora de peixes. No entanto, essa hipótese foi contestada por vários cientistas.
“Existem outras aves fósseis, como Yanornis, que comiam peixes, e sabemos disso porque espécimes foram encontrados com conteúdo estomacal preservado, e os peixes tendem a se preservar bem. Além disso, essas aves que comiam peixes tinham muitos dentes, ao longo de seus bicos, ao contrário de como o Longipteryx só tem dentes na ponta do bico”, diz O’Connor. “Simplesmente não fazia sentido.”
Durante uma visita ao Museu Shandong Tianyu de Natureza, na China, a pesquisadora notou que dois espécimes de Longipteryx pareciam ter algo em seus estômagos. Diante disso, ela consultou uma colega paleobotânica e curadora associada de plantas fósseis do Field Museum, Fabiany Herrera, que conseguiu determinar que as pequenas estruturas redondas nos estômagos dos pássaros eram sementes dos frutos de uma árvore antiga.
No entanto, por viver em um clima temperado, as aves Longipteryx provavelmente não comiam frutas o ano todo, o que levantou suspeita de que sua dieta era mista e incluía, também, insetos quando não havia frutas disponíveis.
A descoberta marca a primeira vez que cientistas encontraram qualquer conteúdo estomacal de uma ave do grupo enantiornithine na Biota Jehol, da China. “Sempre foi estranho que não soubéssemos o que eles estavam comendo, mas este estudo também sugere um problema maior na paleontologia, que as características físicas de um fóssil nem sempre contam toda a história sobre o que o animal comia ou como vivia”, diz O’Connor.
Segundo os pesquisadores, a nova hipótese é de que o bico alongado das aves Longipteryx servia como arma, sendo usada para exibições agressivas. “Ter um bico como arma faz sentido, porque ele move a arma para mais longe do resto do corpo, para evitar ferimentos”, aponta Clark.
“Não há pássaros modernos com dentes, mas há esses pequenos beija-flores muito legais que têm projeções queratinosas perto da ponta do rosto que lembram o que você vê no Longipteryx , e eles os usam como armas para lutar uns contra os outros”, completa O’Connor.
Os pesquisadores esperam que, além de descobrir mais sobre a vida de um pássaro pré-histórico, a pesquisa ajude a iluminar questões mais amplas na paleontologia sobre o quanto os cientistas podem (ou não) confiar em características esqueléticas para contar a história do comportamento animal.
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