Uma erupção vulcânica ocorrida há cerca de meio bilhão de anos (Período Cambriano) proporcionou uma descoberta extraordinária ao preservar fósseis de trilobitas de maneira impressionante. Essas criaturas antigas foram soterradas instantaneamente por cinzas piroclásticas em um ambiente marinho raso, resultando na conservação de detalhes anatômicos que normalmente seriam destruídos ao longo do tempo.
Centenas de milhões de anos depois, esses fósseis oferecem um raro vislumbre tridimensional dos trilobitas e até mesmo das pequenas criaturas que habitavam seus corpos. Abderrazzak El Albani, sedimentologista da Universidade de Poitiers, na França, liderou uma equipe que analisou esses achados notáveis. “As trilobitas elipsocefalias cambrianas do Marrocos são articuladas e não distorcidas, revelando detalhes requintados dos apêndices e do sistema digestivo”.
Depósitos de cinzas vulcânicas: fontes cruciais de preservação de fósseis
A descoberta ressalta a importância dos depósitos de cinzas vulcânicas em ambientes marinhos como fontes para a preservação excepcional de fósseis. Embora existam mais de 22 mil espécies conhecidas de trilobitas que viveram por quase 300 milhões de anos, os fósseis com anatomia interna intacta são extremamente raros devido à degradação dos tecidos moles.
Segundo o estudo, publicado na quinta-feira (27) na revista Science, essa erupção vulcânica do Cambriano no Marrocos jogou cinzas sobre a região, soterrando subitamente muitas formas de vida. O evento se assemelha ao que aconteceu no ano de 79 em Pompeia, na Itália – onde pessoas foram preservadas em detalhes assustadores sob uma chuva de cinzas provocada por uma erupção do Monte Vesúvio.
Na Formação Tatelt, um leito fóssil marroquino com muitas camadas que abrangem idades diversas, há uma espessa faixa que compreende cinzas vulcânicas e detritos. Foi onde El Albani e sua equipe encontraram exemplares de duas espécies de trilobita.
Reconstrução 3D revela detalhes impressionantes dos trilobitas
Usando imagens microtomográficas de raios-X, eles reconstruíram a anatomia desses animais em três dimensões, revelando exoesqueletos articulados, sistemas digestivos e antenas em detalhes impressionantes.
Além disso, pequenos braquiópodes, que viviam em simbiose com os trilobitas, também foram preservados em suas posições de vida, sugerindo que morreram juntos, provavelmente enterrados vivos.
De acordo com um comunicado, com esse estudo, os pesquisadores resolveram um debate antigo sobre a boca dos trilobitas. A análise revelou pela primeira vez o hipostoma, uma estrutura de tecido mole anteriormente teorizada como parte de outra estrutura chamada labrum. A nova pesquisa mostrou que, em ambas as espécies estudadas, hipostoma e labrum são estruturas separadas.
Essa descoberta enriquece o conhecimento sobre os trilobitas, um dos grupos animais mais abundantes da história da Terra, além de destacar o potencial dos depósitos de cinzas vulcânicas em ambientes marinhos para futuras descobertas paleontológicas.