Imagine fiordes a perder de vista, com braços de mar entrando por encostas verdejantes e de onde é possível avistar até fios d’água caindo de cachoeiras lá de cima. Agora pense em cidadezinhas aos pés de todo esse cenário que preservam tradições vikings e uma cultura muito própria. Pois essa é a realidade em algumas partes da Noruega, país escandinavo onde, por muitas vezes, a força da natureza reina.
Todas estas paisagens foram gratas surpresas durante minha jornada pela Escandinávia para a 7ª temporada do CNN Viagem & Gastronomia. As paradinhas estratégicas só foram possível graças ao Silver Dawn, cruzeiro da Silversea Cruises com roteiro fora do óbvio e um excelente serviço gastronômico, que atravessou a Noruega em direção a Copenhague, na Dinamarca.
Minha aventura começou na cidade de Tromsø, mais ao norte da Noruega, considerada a porta de entrada para o Ártico, já que fica a impressionantes 400 quilômetros acima do Círculo Polar Ártico. Depois, estiquei a viagem até Alta, que possui uma catedral dedicada à Aurora Boreal – e onde as noites de inverno parecem ser eternas.
A bordo do Silver Dawn, fui descendo o país e ancorando em locais como Sortland, Flåm e Bergen antes de zarpar para Copenhague. Foram dias inesquecíveis marcados por paisagens de tirar o fôlego e por descobertas excepcionais, que inclui visita à famosa produção do salmão norueguês, experiências em uma vila viking, “banho” em cachoeira de mais de 100 metros e, claro, todo o fascínio causado pelos fiordes.
Sortland e a produção de salmão
No norte da Noruega, o arquipélago de Vesterålen é formado por ilhas repletas de vilas de pescadores e de picos montanhosos, sendo o único lugar do país onde é possível observar baleias em qualquer época do ano.
É neste arquipélago que fica Sortland, pequena cidade de cerca de 10.000 habitantes com uma cartela de atividades ao ar livre, como hiking, caiaque e pesca. Logo no primeiro olhar, a cidade se destaca pelas casinhas azuis, um projeto do fim dos anos 1990 que ajudou a deixá-la mais colorida e que virou uma marca registrada usada pelo comércio, chamada de “Blåbyen”, ou, “A cidade azul”.
E que tal ver de perto como é a produção de uma das mais famosas matérias-primas do país, o salmão norueguês? A 30 minutos do centro de Sortland fica o Akvakultur i Vesterålen, centro educacional de aquicultura, onde podemos ter uma noção da produção sustentável de peixes.
A visita joga luz à aquicultura da Noruega, um dos mais importantes setores do país, que possui regras estritas para uma produção mais consciente nas águas geladas da costa. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a Noruega é o segundo maior exportador mundial de peixe e produtos pesqueiros em termos de valor. A aquicultura começou a se desenvolver aqui nos anos 1970 e, na década de 2000, mais que dobrou de tamanho, com o salmão do Atlântico como a espécie mais cultivada, seguida por truta e bacalhau.
Segundo o governo do país, as fazendas marinhas devem estar localizadas em mar aberto, nas águas frias e límpidas dos fiordes, afastadas das zonas de tráfego marítimo, e os peixes devem ter amplo espaço para nadar e crescer em ambiente limpo.
Por 150 coroas norueguesas (cerca de R$ 77), o passeio no Akvakultur i Vesterålen inclui visita guiada à exposição, um passeio de barco até o local onde os peixes ficam – o salmão pode chegar a 6 kg – e, no fim, uma degustação de peixes defumados de produção própria. As visitas podem ser agendadas de segunda a sexta-feira, e aos fins de semana no verão.
Flåm: cachoeira e vila viking
Após Sortland, a parada seguinte se deu em Flåm, uma vila dentro de um braço do fiorde que revela cenários de cair o queixo. Cachoeiras, picos nevados e encostas rodeiam a pequena comunidade, deixando a paisagem para lá de pitoresca e até poética.
Atrás de Flåm, um pouco mais adentro do território, está a comuna de Voss, conhecida como a capital norueguesa de esportes radicais, já que as redondezas proporcionam atividades como rafting, mountain bike, paraquedas e, nos meses de inverno, até esqui.
É em Voss que fica a Gôndola de Voss, passeio que dura cerca de 15 minutos e que nos leva ao topo do Monte Hanguren, a 820 metros acima do nível do mar. Lá em cima temos vistas privilegiadas do entorno e há um restaurante, ideal para um cafezinho quente em dias frios. Importante ressaltar que, aqui, o tempo muda constantemente e, mesmo se o dia estiver nublado e chuvoso, vale subir a montanha.
A partir de Voss, na estrada principal em direção a Flåm, fica um dos cartões-postais da região: a cachoeira Tvindefossen. Com 110 metros de altura, a queda d’água é apelidada de “fonte da juventude”, e sua força impressiona. A paisagem é linda e, por muitas vezes, é possível que nenhum outro turista esteja ao redor, deixando-nos sozinhos para contemplar esta maravilha natural.
Mas uma das descobertas mais interessantes por essa região foi a de, literalmente, saber como é ser viking por um dia. Isso porque entre Flåm e Voss fica o Viking Valley, que recria uma vila viking onde, um dia, já existiu um mercado viking durante os verões. A vila fica em Gudvangen, considerado o “vale dos vikings”.
Aqui há casinhas que remetem às moradias da Era Viking, com decorações próprias, assim como a réplica de um barco usado na época – eles faziam travessias muito longas e, por isso, também eram muito venerados.
“Nem todas as pessoas da Era dos Vikings eram vikings. Porque ‘Viking’ significa pirata profissional, e a maioria das pessoas eram fazendeiras. E você esquece disso da escola, pois aprende-se que os vikings eram invasores, saqueadores, e não eram pessoas boas. Mas essa não é a verdade das pessoas da Escandinávia”, conta Georg Hansen, líder viking da vila.
Esse também é um gostinho dos aprendizados que podemos ter por aqui, sendo que ainda é possível arriscarmos arco e flecha, arremessarmos machadinha e fazermos uma imersão na história e na cultura viking. Os bilhetes custam cerca de R$ 125 para adultos e R$ 55 para crianças entre 4 e 15 anos.
Para coroar o dia em Flåm, nada melhor que brindar com uma boa cerveja. De volta à vila, próximo de onde o navio fica ancorado, o Ægir Bryggeri é um pub viking que serve cervejas artesanais, incluindo uma IPA que já ganhou prêmio. Amarga, do jeito que gosto, foi uma ótima maneira de terminar as descobertas nesta incrível região.
Vale dizer que também é possível descobrir os arredores a bordo de um trem. O Flåm Railway é uma das atividades mais belas da Noruega e percorre encostas, cachoeiras e passa por dezenas de túneis.
Com duração de duas horas, o trem sobe do final do fiorde Aurlandsfjord até as montanhas, na estação Myrdal, a 867 metros acima do nível do mar. A viagem é de ida e volta imediata e sai a partir de 730 coroas norueguesas (R$ 380). A estação de Myrdal tem conexão com a linha de Bergen, que se conecta com trens que circulam entre a cidade de Bergen e a capital Oslo.
Bergen: vida cultural e mercado de peixe
Por fim, minha expedição pelos fiordes noruegueses terminou em Bergen, cidade que, na verdade, para muitos viajantes pode ser o ponto de partida em direção aos fiordes. Apesar de ser a segunda maior cidade do país, Bergen carrega um charme de cidade pequena, com casinhas nas encostas e algumas ruas estreitas de paralelepípedos.
O cais é bastante encantador e vivo, com vários edifícios de madeira antigos e coloridos, tanto que é um Patrimônio Mundial da Unesco. Chamado de Bryggen, é um resquício dos tempos em que a cidade era um núcleo para o comércio entre a Noruega e o restante da Europa. Hoje, uma volta por aqui revela lojas, galerias e restaurantes.
Nas redondezas fica o Fisketorget, mercado de peixes, um passeio delicioso com várias peixarias e restaurantes, onde podemos experimentar algumas iguarias. Já viu ostra com ouro? Aqui tem, assim como queijo marrom, receita milenar própria da Noruega, e peças de ouriço-do-mar fresco e king crab para comermos nas mesinhas.
Propícia para caminhar, Bergen também é ideal para ser vista de cima: o pico de acesso mais fácil é Fløyen, a 320 metros acima do nível do mar, acessado a partir de um passeio de seis minutos de funicular. Chamada de “cidade das sete montanhas”, podemos ir além: a mais alta delas é Ulriken, a 643 metros acima do nível do mar, acessível de teleférico.
Se tiver mais tempo na cidade, aproveite para curtir os pubs, uma tradição local; o Kode, museu de arte, artesanato, design e música; o Aquário de Bergen; seus restaurantes e a vida cultural, já que o local é também reduto de estudantes.
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