A atriz paraibana Marcélia Cartaxo, 60, conhecida principalmente por interpretar a personagem Macabéa, no filme “A Hora da Estrela“, disse nesta segunda-feira (13) que o longa-metragem foi imortalizado ao ser remasterizado.
O filme de Suzana Amaral (1932-2020), que é baseado no livro homônimo de Clarice Lispector (1920-1977), passou por uma restauração digital em qualidade 4K (quatro vezes maior que Full HD).
“A gente entra para a história. Vai ficar imortalizado. Essa é a grande importância [da remasterização]. Já está revitalizado nas telas. Vai ficar para toda a vida. E eu vou levar a gratidão pelo resto da minha vida”, disse Marcélia em entrevista à CNN.
Após ter passado pela digitalização, o filme reestreia nos cinemas nesta quinta-feira (16).
“Agora, com esse formato digitalizado, a gente vai poder ver referências da Clarice e da Suzana Amaral, dessa interpretação que é tão difícil, que é feita em outro tempo, outra comunicação, sem deixar de ser atual. Esse filme é importante, vai ficar para a história, é um marco”, avalia a atriz.
Na entrevista à CNN, Marcélia Cartaxo também relembrou o processo de preparação para interpretar Macabéa, personagem que é descrita no livro de Clarice Lispector como “cabelo na sopa”, que “não dá vontade de comer”.
A personagem sai de Alagoas, no Nordeste brasileiro, e vai para o Rio de Janeiro, no Sudeste, em busca de uma vida melhor. A história gerou identificação automática para Marcélia, que é de Cajazeiras, na Paraíba, e viajou para São Paulo para gravar o filme.
“Eu saí de uma cidade do interior direto para fazer a Macabéa. Quando eu cheguei em São Paulo, me deparei com essa personagem que era quase eu. Não me senti estranha com a Macabéa. Eu não tinha nem um preparo psicológico, na época, para entender profundamente esse personagem”.
Para se envolver ainda mais com Macabéa, Marcélia foi para São Paulo de ônibus, numa viagem que durou três dias.
“Não teve passagem de avião, nem hospedagem em hotel, nada disso, para que eu pudesse observar os nordestinos que estivam imigrando para São Paulo e entendesse o que eu realmente ia fazer”.
O filme foi lançado originalmente em 1985, e a atriz recebeu o Urso de Prata do Festival de Cinema de Berlim pelo seu trabalho.
Apesar dos quase 40 anos do longa, a atriz acredita que ele continua atual e que as novas gerações deverão gostar da obra e se identificar com ela.
“Acho que existem outras Macabéas ainda hoje, mas em outro contexto, porque a gente está vivendo uma época tecnológica. O tempo hoje é outro, tem uma velocidade muito grande, mas com a mesma violência, as mesmas invisibilidades”, diz.
No entanto, Marcélia destaca que, hoje, há também muitos exemplos de mulheres fortes, opostas a Macabéa. “As mulheres estão aparecendo mais, em todas as funções, e vamos avançando e resistindo”.
A relação do avanço feminino na sociedade é feita também pela atriz ao refletir as mudanças propostas pela diretora do filme para o livro de Clarice Lispector.
“O grande feito da Suzane Amaral é que ela pegou esse personagem [Macabéa] e transformou em protagonista. Ela virou protagonista da história dela. No livro da Clarice Lispector, o narrador é que era o protagonista”, finaliza.
Assista ao trailer do filme