A atriz Fernanda Torres, 59, vive Eunice Paiva no filme “Ainda Estou Aqui“. Esposa do deputado Rubens Paiva, Eunice teve papel fundamental na busca por respostas pelas famílias dos desaparecidos políticos durante a Ditadura Militar.
Em entrevista à CNN, Torres falou sobre a importância da personagem na história do país: “Ela combateu o estado autoritário através de uma imensa delicadeza combativa”.
Esse traço dela, segundo a atriz, é mostrado através do filme de acordo com as decisões do diretor Walter Salles.
“Esse filme é uma loucura porque o Walter foi tirando tudo”, continuou Fernanda Torres na entrevista. “Na atuação, na roupa, no cenário, na edição, no roteiro, na música. Ele foi subtraindo, subtraindo… ele foi muito fiel à Eunice, que era essencial.”
“A Eunice era uma mulher essencial”, explicou Torres. “Ela não gastava o tempo dela com nada que não fosse objetivo, contundente, persuasivo, com extrema delicadeza.”
“>A sutileza da personagem, segundo Torres, também é transmitida através do longa como um todo. “O filme não te empurra na música, não te empurra na câmera, não é espetaculoso em nada… mas você vai ficando cúmplice daquela mulher, você vai tendo falta daquele pai, e, nisso, ele [o filme] é irresistível”, finalizou.
Fernanda Torres interpreta Eunice Paiva nos anos antes e após o desaparecimento de Rubens Paiva, vivido por Selton Mello na adaptação cinematográfica do livro escrito por Marcelo Rubens Paiva. Já a mãe de Torres, Fernanda Montenegro, incorpora Eunice no fim da vida.
Livro que inspirou filme “Ainda Estou Aqui” ganhará continuação
Quem foi Eunice Paiva, personagem central de “Ainda Estou Aqui”?
Em “Ainda Estou Aqui”, o longa é marcado pelo estado dos dois protagonistas: pela ausência de Rubens Paiva (Selton Mello) e pela presença de Eunice (Torres). Ao longo do filme, o público se envolve cada vez com a força da mulher que cuidou dos cinco filhos enquanto buscava respostas sobre o paradeiro do marido.
Eunice Paiva nasceu em São Paulo e cresceu no bairro do Brás, segundo informações do dossiê Memórias da Ditadura, reunido pelo Instituto Vladimir Herzog.
Ela morava com o marido e os cinco filhos no Rio de Janeiro quando, em janeiro de 1971, os militares foram até sua casa para prender Rubens Paiva. Eunice e a filha Eliana, com 15 anos, também foram levadas ao Destacamento de Operações e Informações (DOI) do Exército. Eliana ficou presa por 24 horas, enquanto Eunice permaneceu por 12 dias, submetida a interrogatório.
Depois de ter sido liberada pelos militares, Eunice Paiva então começou a busca pelo paradeiro do marido, que nunca mais foi visto.
Eunice Paiva começou a cursar Direito em 1973. Ela atuou como uma das pessoas que pressionaram o governo para a promulgação da Lei nº 9.140, que determinou que as pessoas desaparecidas pela Ditadura Militar fossem consideradas mortas e fosse possível, finalmente, que as certidões de óbito fossem emitidas.
Após 25 anos, ela conseguiu apenas em 1996 que o país emitisse o atestado de óbito de Rubens Paiva.
Ainda segundo o Instituto Vladimir Herzog, Eunice Paiva fundou o Instituto de Antropologia e Meio Ambiente (IAMA), em prol da defesa e autonomia dos povos indígenas, em 1987. Em 1988, foi consultora da Assembleia Nacional Constituinte, que promulgou a Constituição Federal Brasileira.
A Comissão Nacional da Verdade, órgão criado para apurar os crimes da Ditadura Militar no país, ganhou o nome do ex-deputado em seu braço no estado paulista, realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Segundo informações da Comissão da Verdade, Rubens Beirodt Paiva foi enviado ai Quartel da 3ª Zona Aérea do Rio de Janeiro, onde sofreu as primeiras torturas na sede comandada pelo brigadeiro João Paulo Moreira Burnier. Segundo os depoimentos reunidos e o relatório da CNV, foi determinado que o ex-deputado foi torturado de forma “extremamente violenta”, que “pode ter sido a causa principal da morte”.
Isso só se tornou público e a resposta só foi dada à família de Rubens Paiva em 2014.
Eunice Paiva morreu em 13 de dezembro de 2018, aos 86 anos. Ela lutou contra o Alzheimer nos seus últimos 14 anos de vida.
Assista ao trailer de “Ainda Estou Aqui”:
“Ainda Estou Aqui”, além de ter sido escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para tentar representar o país e conseguir uma indicação no Oscar 2025, teve uma boa temporada nas premiações da indústria em 2024. O longa conquistou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza de 2024, considerado uma das mais importantes premiações internacionais para a indústria, além de ter sido o mais votado pelo público no Festival de Vancouver, do Canadá.
No Brasil, “Ainda Estou Aqui” também foi bem recebido pelo público e foi escolhido como o melhor filme nacional de ficção da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
O filme estreia nas salas de cinema do país na próxima quinta-feira (7).
“Ainda Estou Aqui”: conheça história que inspirou filme com Fernanda Torres