O piloto Felipe Massa ajuizou nessa segunda-feira (11) um processo contra a Formula One Manegement (FOM), a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e Bernie Ecclestone, ex-chefão da Fórmula 1.
Em comunicado feito pelo estafe do brasileiro, o objetivo é o reconhecimento do título mundial da categoria em 2008, quando o campeão foi o inglês Lewis Hamilton.
A ação corre na divisão de King’s Bench da Corte Superior de Londres, na Inglaterra, e fala também em uma indenização de pelo menos R$ 407,6 milhões, mas o valor final deve ser ainda maior.
“Sempre disse que iria brigar até o fim. Como a FIA e a FOM decidiram não fazer nada, buscaremos a correção desta injustiça histórica nos tribunais. O assunto agora está com os advogados e eles estão plenamente autorizados a fazer o que for necessário para que a justiça no esporte seja feita”, disse Massa por meio de sua assessoria de imprensa.
A equipe jurídica se apoia em declaração dada por Ecclestone ao site alemão F1 Insider, em março de 2023, para mostrar que o regulamento da competição foi mal aplicado.
Na entrevista em questão, o ex-dirigente disse que considerava Felipe Massa o campeão de 2008, em razão da batida deliberada de Nelsinho Piquet, que prejudicou o compatriota no GP de Cingapura daquele ano. Além do reconhecimento como vencedor do título, o ex-ferrarista quer ser indenizado.
O valor que será cobrado tem três pontos centrais. O primeiro deles é o bônus que Massa receberia da Ferrari pelo título, na casa de 2 milhões de euros (R$ 10,87 milhões), conforme citado no processo.
Também são reivindicados valores estimados que seriam recebidos de patrocínios e oportunidades comerciais que Massa teria com o status de campeão mundial, assim como a diferença do salário que ele recebeu no restante da sua carreira na F1 e a quantia que receberia como campeão.
O montante exato será definido após prova pericial, mas a estimativa das perdas é de pelo menos 64 milhões de libras (R$ 407,6 milhões), sem correção ou juros. A análise financeira da equipe jurídica de Massa foi feita por um especialista em casos de natureza complexa como este e aponta que análise final resultará em um valor mais alto.
A movimentação de Massa pra reivindicar o título e a indenização começou com cartas de aviso legal sobre o caso, enviadas às partes envolvidas, procedimento obrigatório para dar sequência a processos judiciais na Inglaterra, onde a ação foi protocolada.
A etapa abre a oportunidade para uma conclusão extrajudicial, mas como não houve nenhum acordo, encerrado o último prazo para manifestação da Fórmula 1 e da FIA, abriu-se o caminho para a abertura oficial do processo.
Felipe Massa chegou ao GP de Cingapura, em setembro de 2008, disputando o título com Lewis Hamilton, que liderava o Mundial por apenas um ponto de diferença.
Massa foi pole position e liderava a prova até a 14ª volta, quando Nelsinho Piquet, da Renault, bateu deliberadamente seu carro, por ordens da equipe, para beneficiar o companheiro Fernando Alonso, que havia parado para reabastecer duas voltas antes.
O safety car foi acionado e, portanto os pilotos não puderam fazer ultrapassagens ou pit stops, caso não estivessem em situação de emergência como baixo nível de combustível ou problemas de segurança.
Como vários pilotos, Massa parou nos boxes assim que os destroços foram removidos da pista e voltou para a corrida em último lugar. Abastecido anteriormente, Alonso não parou e saiu de quinto para primeiro, posição na qual permaneceu até o final.
Hamilton ficou em terceiro e somou seis pontos, enquanto Massa ficou em 13º, sem pontuar. O Mundial acabou três corridas depois do GP de Cingapura e Hamilton foi campeão, com 98 pontos contra 97 de Massa.
Um ano depois, Nelsinho Piquet admitiu que batera de propósito por ordem de Flavio Briatore, então chefe da Renault, para beneficiar Alonso. O caso foi investigado pela FIA, que puniu os envolvidos.
Briatore foi banido da F1, embora a decisão já tenha sido revogada, e o engenheiro Pat Symonds, outro responsável pela ordem para a batida, foi suspenso por cinco anos – atualmente é o diretor técnico da F1.
A polêmica foi revivida no início de março de 2023, quando Ecclestone concedeu entrevista ao site F1-Insider na qual admitia que ele e o então presidente da FIA, Max Mosley, estavam cientes da armação ainda em 2008, após o episódio, antes mesmo da denúncia de Nelson Piquet, feita apenas no ano seguinte.
“Tivemos informações suficientes a tempo de investigar o assunto de acordo com os regulamentos (da época), deveríamos ter cancelado a corrida em Cingapura naquelas condições”, declarou.
“Decidimos não fazer nada. Queríamos proteger o esporte e evitar um grande escândalo. Por isso me esforcei para convencer meu ex-piloto Nelson Piquet a manter a calma”, disse Ecclestone, em referência ao período em que era chefe de Piquet na já extinta equipe Brabham.
O então chefão da F1 admitiu que poderia ter anulado o GP por causa da manipulação da Renault. “Naquela época, havia uma regra de que uma classificação ao Mundial após a cerimônia de premiação da FIA no fim do ano era intocável. Então, Hamilton foi presenteado com o troféu e estava tudo bem.”
“Felipe Massa se tornaria campeão mundial, e não Lewis Hamilton. Hoje me solidarizo com Massa, sinto muito por ele. Afinal, ele ganhou a corrida em casa, em São Paulo, mas foi enganado e não levou o título que merecia. Hoje, eu teria feito as coisas de outra forma”, reconheceu Ecclestone.
*Com agências