Felipe Hintze, 31, conhece bem a beleza e as dores de ter um corpo gordo e tem emprestado sua experiência de vida para interpretar Dennis, um jovem que está em busca de autoaceitação no espetáculo “Névoa”, em cartaz no Teatro dos 4, na zona sul do Rio de Janeiro. Em entrevista à CNN, o ator conta que a peça propõe à plateia uma reflexão sobre bullying.
“O Dennis tenta lidar com os traumas deixado pelo bullying de uma forma mais apaziguadora, contrapondo outros personagens da trama. Isso que é interessante da peça, ela vai mostrando vários lados deixando a plateia reflexiva”, explica.
Além de ser um dos protagonistas do espetáculo, Felipe também é um dos produtores e relata que não teve nenhuma auxílio governamental para fazer a montagem, nem mesmo patrocínio. Ele diz que produzir um espetáculo sem apoio financeiro é um grande desafio, mas que traz uma enorme satisfação profissional.
“É uma luta diária. Se eu fosse depender de alguma lei ou incentivo fiscal poderia demorar muito tempo e talvez as empresas só se interessariam se tivesse alguém muito famoso no elenco. Por isso que a gente precisa do público, pagamos as contas com o dinheiro da bilheteria. Os perrengues são muitos e o trabalho é dobrado, mas a sensação de realização é absoluta. Vou sempre lutar pelos projetos que eu acredito.”
O ator — que esteve recentemente na novela “Família é Tudo”, da TV Globo — conta que nunca sofreu um bullying muito agressivo na época de escola, mas lembra que havia um garoto que o perturbava diariamente e debochava de seu corpo gordo. Felipe diz que a mãe o matriculou em uma escola de karatê e lá encontrou um aluno que tentou fazer provocações, mas dessa vez ele se defendeu com golpes.
“Respondi as provocações dando chutes no garoto. Depois desse episódio, ele nunca mais mexeu comigo. É muito triste que naquela época a única solução que eu encontrei foi responder com violência. Me envergonho disso, mas não me culpo pela atitude. A escola foi muito omissa e não tinha práticas de combate ao bullying. Hoje temos acesso a informação e mecanismos de combate ao bullying mais efetivos”, comenta.
Na adolescência, o ator se sentia muito rejeitado pelo fato de ser gordo, então demorou para ter autoconfiança. O artista descreve que a gordofobia foi um fator ainda maior do que o bullying para minar sua segurança pessoal.
“Era uma época que havia pouca representatividade e a sociedade ditava regras que o sucesso sinônimo de um corpo padrão. É um pensamento que percorre até os dias de hoje, mas agora a discussão sobre esses assuntos é mais abrangente.”
Felipe pontua que a arte foi importante para começar a se amar: “Quando descobri a paixão pela atuação e percebi que no palco eu poderia ser quem eu quisesse ser, eu adquiri uma autoconfiança. Eu acredito que a vida pode imitar a arte. Eu posso fazer príncipe no palco e posso ser príncipe da vida”, comemora.
O espetáculo “Névoa” fica em cartaz até o dia 26 de novembro no Teatro dos 4, na Gávea, dentro do Shopping da Gávea.
Serviço:
“Névoa”
Às terças, às 20h. Até 26 de novembro de 2024.
Teatro dos 4
Rua Marquês de São Vicente, 52 – Gávea/RJ
Telefone: (21) 2239-1095 – 97309-6234
Ingressos entre R$ 45 e R$ 90 na bilheteria do Teatro e no Sympla