Uma impressionante explosão levou os astrônomos à descoberta da primeira estrela magnética fora da Via Láctea – e sugere a possibilidade de existência de muitas outras na imensidão do Universo.
Esse magnetar recém-identificado, um remanescente compacto de uma estrela morta, é dotado de um campo magnético excepcionalmente poderoso. Ele reside na galáxia Messier 82 (M82), também conhecida como “Galáxia do Charuto”, situada a cerca de 12 milhões de anos-luz da Terra.
A detecção desse corpo ultramagnético ocorreu quando ele entrou em erupção violenta, emitindo uma energia intensa que persistiu por uma fração de segundo, conforme detalhado em um novo estudo publicado na revista Nature nesta quarta-feira (24).
Magnetares: ímãs mais potentes do cosmos
Referidos por alguns como os ímãs mais potentes do cosmos, os magnetares são variantes giratórias e altamente magnetizadas das estrelas de nêutrons – vestígios de supernovas – que brilham milhares de vezes mais intensamente que o Sol.
No entanto, suas erupções são tão breves e imprevisíveis que representam alvos desafiadores para os astrofísicos estudarem. Apenas três outras explosões magnetares foram documentadas nos últimos 50 anos (todos na Via Láctea), por isso os cientistas afirmam que essa descoberta abre novas perspectivas na busca por essas estrelas magnéticas em outras galáxias.
“A identificação de um maior número desses corpos celestes poderá fornecer insights sobre a frequência dessas explosões e o processo de dissipação de energia dessas estrelas”, comentou Ashley Chrimes, pesquisadora da Agência Espacial Europeia (ESA), que não participou diretamente do estudo, em comunicado à imprensa.
Estrela magnética foi descoberta por telescópio espacial europeu
Em meados de novembro de 2023, o telescópio espacial Integral da ESA detectou uma explosão breve e súbita de raios gama em direção à galáxia M82. Esse tipo de radiação também é gerado durante a formação de buracos negros, fusões de estrelas de nêutrons em órbita e outros fenômenos exóticos não relacionados aos magnetares.
“Sabíamos imediatamente que se tratava de um evento extraordinário”, afirmou Sandro Mereghetti, pesquisador do Instituto Nacional de Astrofísica da Itália e principal autor do novo estudo. “As explosões de raios gama podem ocorrer de diversas fontes no Universo, mas essa em particular emanava de uma galáxia próxima e brilhante”.
Observações subsequentes da explosão, realizadas horas depois com telescópios terrestres e espaciais, conseguiram localizar sua origem dentro da “Galáxia do Charuto”. Ao contrário do esperado brilho residual e das ondas gravitacionais associadas a uma explosão de raios gama convencional, os astrônomos apenas identificaram gás quente e estrelas, confirmando assim que a emissão provinha de um magnetar.
Denominado “terremoto estelar”, o fenômeno ocorre quando os intensos campos magnéticos de um magnetar causam uma leve distorção em sua rotação, rompendo suas camadas externas e liberando raios gama altamente energéticos para o cosmos, explicam os astrônomos.