No início deste ano, o Olhar Digital noticiou que o intrigante exoplaneta J1407b tem anéis até 200 vezes maiores que os de Saturno. Agora, uma nova descoberta revela que esses anéis giram “na contramão”.
J1407b pode ser um planeta independente, que vaga pelo espaço sem estar preso a uma estrela. Existe ainda a possibilidade de que ele esteja em uma órbita extremamente ampla ao redor de V1400 Centauri.
Além dos já citados anéis imensos, esse mundo alienígena possui várias luas, uma delas do tamanho da Terra. De acordo com o novo estudo, disponível no repositório online arXiv e aguardando revisão por pares, esses anéis e luas podem estar girando no sentido oposto ao esperado.
Simulações computacionais explicam anéis reversos do exoplaneta J1407b
Liderada pelo físico Wenshuai Liu, da Universidade Normal de Henan, na China, a pesquisa foi baseada em simulações computacionais para entender como um planeta gigante e seu sistema de anéis poderiam se formar e evoluir em torno de uma estrela como V1400 Centauri.
Os modelos obtidos sugerem que as interações gravitacionais entre planetas, formados a partir de gás e poeira ao redor da estrela, poderiam empurrar alguns desses mundos para órbitas alongadas. Esse fenômeno também poderia fazer os anéis de J1407b girarem no sentido contrário ao movimento de rotação do planeta.
Em 2007, J1407b passou entre a Terra e V1400 Centauri, bloqueando parcialmente a luz da estrela. Esse evento, registrado pelo programa Pesquisa de Planetas em Super Grande Angular, foi identificado três anos depois e revelou várias peculiaridades.
Primeiro, o tamanho de J1407b o coloca entre um planeta gigante e uma anã marrom, categoria intermediária entre planetas gasosos e estrelas. Também foi naquela ocasião que se descobriu que a estrutura dos anéis desse exoplaneta é tão extensa que atinge 200 vezes o tamanho dos anéis de Saturno, com lacunas que indicam a presença de luas em sua órbita.
Outro ponto intrigante é a possibilidade de J1407b ser um planeta errante, sem ligação com V1400 Centauri. Embora ele tenha cruzado a linha de visão entre a estrela e a Terra em 2007, não foram registrados novos trânsitos desde 2010.
De acordo com o site Inverse, em 2017, o observatório ALMA, no Chile, detectou J1407b em uma posição inesperada, sugerindo que ele pode não estar preso à gravidade de V1400 Centauri. Esse fato, somado à ausência de novos sinais, reforça a teoria de que ele pode ser um planeta independente, vagando pelo espaço sem uma estrela hospedeira.
O debate sobre a verdadeira natureza de J1407b se intensifica pelo fato de que, se estivesse orbitando V1400 Centauri, sua gravidade provavelmente não manteria os anéis e luas em uma órbita tão ampla. A gravidade da estrela deveria desestabilizar essas estruturas nas aproximações orbitais de J1407b.
Mecanismo pode ser o mesmo que empurrou Júpiter para longe no Sistema Solar
Em 2016, uma equipe de astrônomos sugeriu que o sistema de anéis de J1407b poderia resistir ao puxão gravitacional da estrela se girasse no sentido oposto. A pesquisa de Liu, agora, complementa essa ideia, ao apresentar uma possível explicação para o movimento retrógrado dos anéis.
Os modelos de Liu propõem que, durante o processo de formação de planetas gigantes, as interações gravitacionais entre eles poderiam empurrar J1407b para uma órbita alongada. Esse processo lembra o que ocorreu em nosso Sistema Solar, quando Júpiter, em seus primeiros anos, foi empurrado para mais perto do Sol.
No caso de J1407b, as interações com o fluxo de poeira e gás ao redor podem ter feito com que o disco de material ao redor do planeta começasse a girar no sentido oposto à sua rotação e ao movimento ao redor da estrela.
Ainda há questões em aberto sobre a origem dos anéis e a órbita exata de J1407b. Para confirmar as hipóteses, os astrônomos precisariam de uma imagem direta do planeta, o que exigiria localizá-lo novamente em sua posição atual. Esse é um desafio considerável, tendo em vista o caráter enigmático e possivelmente solitário desse corpo celeste.