O coronel Jorge Eduardo Naime, ex-comandante de operações da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), entregou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um documento escrito por ele em 29 de dezembro de 2022. No texto, o coronel alertava a cúpula da PMDF sobre a necessidade de desmobilizar o acampamento de manifestantes em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília.
Segundo Naime, a resistência partiu de militares ligados ao Comando Militar do Planalto do Exército Brasileiro (CMP-EB), chefiado pelo general Gustavo Henrique Dutra de Menezes — integrante da equipe que auxiliava o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na transição de governo.
PMDF tentou agir, mas general barrou operação
“Fomos surpreendidos com o cancelamento da operação por decisão do comandante do CMP-EB”, escreveu Naime no ofício entregue ao STF.

O documento da PMDF sobre acampamento também registra uma reunião entre Naime e o general Dutra, que então comandava o CMP-EB. Durante o encontro, o coronel alertou para os riscos de manter o acampamento em funcionamento.

“Faz-se mister destacar que a decisão exarada possui implicações negativas para a segurança pública e para a tranquilidade pública no Distrito Federal, além do desgaste institucional frente à comunidade”, afirmou Naime. “É público e notório, com ampla divulgação na mídia, que integrantes do acampamento situado no QGEx vêm se envolvendo em atos atentatórios contra a ordem pública nesta capital.”
Relato da PMDF contraria versão do general ao STF
Dutra ocupava o posto de comandante do CMP durante os episódios do 8 de janeiro. Hoje, é o quinto subchefe do Estado-Maior do Exército.
Em depoimento ao STF, o general afirmou que se reuniu com o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, em 6 de janeiro de 2023. Chamou a visita de “cafezinho de cortesia”. Disse ainda que a maioria dos presentes seria de pessoas em situação de rua.
O ofício, no entanto, contraria a versão do general. Naime atribui à PMDF a responsabilidade por conter danos e reforça que a corporação só recuou porque o Comando Militar do Planalto interveio.
“Tais atos já trouxeram prejuízos materiais para o patrimônio público e privado”, descreveu Naime. “Que somente não foram de maiores dimensões e gravidade pela pronta resposta da PMDF. Na mesma esteira, tem-se que, para atender à solicitação do CMP/EB, este Departamento.”