A Polícia Federal (PF) informou que Miguel Gomes Pereira Sarmiento Gutierrez, ex-CEO das Lojas Americanas, e a ex-diretora Anna Christina Ramos Saicali, junto com outros ex-executivos, venderam R$ 287 milhões em ações antes da divulgação do rombo de R$ 25,3 bilhões, em janeiro de 2023. A informação foi divulgada nesta quinta-feira, 27, pelo jornal O Estado de S. Paulo.
A Operação Disclosure enquadrou os ex-executivos por uso de informações privilegiadas e outros delitos. A defesa de Gutierrez afirma que ele “jamais participou” de fraudes e colaborou com as investigações. A defesa de Anna Christina Saicali não se pronunciou.
A Americanas alega ser vítima de fraude pela antiga diretoria, que manipulou os controles internos. Anna, um dos principais alvos da operação iniciada nesta quinta-feira, está foragida. A polícia prendeu Gutierrez na Espanha, nesta sexta-feira, 28.
O juiz Márcio Muniz da Silva Carvalho, da 10ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro, decretou a prisão preventiva dos executivos. A PF incluiu os nomes na Difusão Vermelha da Interpol.
Investigações contra executivos
A investigação mostrou que Gutierrez e Anna venderam mais de R$ 230 milhões em ações da Americanas antes da revelação das fraudes contábeis. As vendas ocorreram em julho e outubro de 2022, segundo a PF e o Ministério Público Federal.
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Os investigadores afirmam que Gutierrez tinha envolvimento direto nas fraudes, “vez que participava do fechamento dos resultados”. A Procuradoria da República sustenta que há “inúmeras provas de que toda a fraude era comandada” por Gutierrez. A PF mostrou que ele “não só tinha conhecimento dos resultados verdadeiros como também sabia dos fraudados”.
Anna Christina Saicali, embora não tivesse a mesma posição de Gutierrez, também participou do fechamento dos resultados. A Procuradoria a descreve como uma das principais articuladoras das fraudes. Segundo a investigação, as vendas de ações ocorreram nos seis meses anteriores à divulgação do rombo, o que impactou significativamente no preço das ações da Americanas.
Rombo na Americanas
A descoberta do rombo, com a troca do CEO em agosto de 2022, levou os investigados a vender ações, antecipando-se ao fato relevante que causaria a queda do preço das ações da Americanas, em janeiro. Depois da substituição de Gutierrez, os investigados discutiram estratégias para amenizar os danos das fraudes. Eles tentaram levantar R$ 15 bilhões “mediante estratagemas falsos”.
José Timotheo de Barros, Márcio Cruz Meirelles, Fábio da Silva Abrate, Murilo Santos Corres, Carlos Eduardo Rosalba Padilha, João Guerra Duarte Neto, Jean Pierre Lessa e Santos Ferreira, Maria Christina Ferreira do Nascimento e Raoni Lapagese Franco Fabiano são outros ex-executivos investigados.
“A Americanas confia na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar os envolvidos”, informou a empresa ao Estadão.
A defesa de Miguel Gutierrez reiterou que ele “jamais participou ou teve conhecimento de qualquer fraude e que vem colaborando com as autoridades, prestando os esclarecimentos devidos nos foros próprios”.