Enfrentando uma série de denúncias de assédio sexual, o ex-ministro de Direitos Humanos Silvio Almeida agora é alvo de uma denúncia de assédio moral. O sociólogo Leonardo Pinho, ex-diretor de Promoção dos Direitos da População em Situação de Rua do Ministério dos Direitos Humanos, afirmou que foi xingado e ofendido por Silvio Almeida e que recebeu uma ameaça anônima, um dia antes da demissão do ministro.
Almeida foi demitido na noite de sexta-feira 6 depois das denúncias de supostos episódios de assédio sexual praticados por ele contra mulheres, incluindo a atual ministra da Igualdade Racial do governo Lula, Anielle Franco.
Em entrevista ao portal Metrópoles publicada nesta quinta-feira, 12, Leonardo Pinho afirmou que sua relação com o ex-ministro começou na transição de governo, quando Almeida o escolheu para chefiar a Diretoria de Promoção dos Direitos da População em Situação de Rua.
No ano passado, essa relação, que antes era boa, começou a se deteriorar. As conversas no gabinete do então ministro tornaram-se cada vez mais tensas sempre que Pinho discordava de alguma prática de Almeida.
Leonardo Pinho afirmou que Almeida frequentemente perdia o controle ao ser contrariado. O ministro chegava a gritar, xingar e bater no próprio peito e na mesa enquanto o confrontava.
“O ministro me chamou para o gabinete dele, me disse que eu era incompetente e uma vergonha”, declarou o sociólogo. “Deu murros na mesa, bateu no próprio peito, foi agressivo, gritou, levantou da cadeira dele e veio do meu lado, a uns 20 centímetros, para me intimidar. Pensei que ele ia me agredir, me dar um soco.”
Ameaça
Pinho também afirmou ter recebido uma ameaça por meio de uma ligação anônima, na quinta-feira 5. Segundo ele, uma voz masculina o instruiu a parar de falar sobre o assunto. “Não vou aceitar”, disse o interlocutor na ligação. “O complô vai ser desmantelado. Para de falar. O Silvio é sócio de grandes escritórios de advocacia. É sócio do Walfrido Warde.”
Silvio Almeida pediu que servidor gravasse reuniões
Em outubro, Almeida convocou Pinho ao gabinete e fez uma exigência específica. “Ele me pediu para gravar reuniões com a minha equipe, que tinha se recusado a assinar documentos fora do fluxo do ministério”, disse o servidor ao Metrópoles.
Além disso, o então ministro também solicitou que Pinho gravasse integrantes do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua (Ciamp). Esses membros haviam criticado o plano do ministério por falta de transparência.
“Eu falei ‘não’”, enfatizou o sociólogo. “Foi a mesma cena: ele se levantou da mesa, xingou e deu socos na mesa. Me disse que os meus dias estavam contados.”
Por outro lado, o servidor mencionou que não sofreu esse tipo de retaliação com ministros do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Leonardo Pinho participou de reuniões com os ex-ministros Damares Alves, dos Direitos Humanos, e Eduardo Pazuello, da Saúde. Ele comparou essas experiências com a convivência que teve com Silvio Almeida.
“Nunca fizeram algo parecido comigo”, afirmou.