Entre uma eleição e outra, a ex-prefeita Marta Suplicy (sem partido) trocou de lado na disputa à Prefeitura de São Paulo.
- Em 2020, Marta esteve ao lado do então candidato à reeleição Bruno Covas (PSDB), que tinha Ricardo Nunes (MDB) como vice.
- Agora, para a eleição de 2024, seu nome surge como alternativa para vice de Guilherme Boulos (PSOL), adversário da chapa Covas/Nunes no segundo turno quatro anos atrás.
O convite para Marta aconteceu após uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A indicação para ocupar o posto de vice de Boulos será do PT, parte de um acordo firmado com o PSOL ainda nas eleições gerais de 2022. A ex-prefeita deve retornar ao partido em breve.
Após ficar em quarto lugar, com pouco mais de 10% dos votos válidos, na eleição de 2016, Marta foi cotada para ser vice de Covas em 2020. Entretanto, a questão não foi para frente após resistências dentro do PSDB já que Marta ainda era vista como alguém do PT, partido ao qual pertenceu por 33 anos até o rompimento, em 2015.
Filiada ao Solidariedade à época, a ex-prefeita foi contra a orientação do partido de apoio a Márcio França (PSB) e decidiu ficar ao lado de Covas. A escolha levou à saída dela da sigla.
Quando se juntou à campanha de Covas, Marta disse que, mesmo tendo sido adversária da sigla em muitas eleições, “nós nos apoiamos quando a nossa cidade e estado foram ameaçados”.
Ela se referia ao apoio dado pelo avô de Bruno, Mário Covas, em 1998, na eleição vencida por ele contra Paulo Maluf (PP) para o governo de São Paulo. E sobre retribuição de Mário Covas, em 2000, quando Marta venceu o mesmo Maluf no segundo turno para a prefeitura paulistana.
A ex-prefeita foi uma das apostas da chapa Covas/Nunes para frear o crescimento de Guilherme Boulos na periferia da cidade.
A campanha de Covas lançou o “Martamóvel”, para que a ex-senadora pudesse realizar o deslocamento pela cidade sem se contaminar com o coronavírus, repetindo a estratégia de Boulos, que tinha veículo similar para os deslocamentos de sua então candidata a vice, a deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP).
Durante o pleito de 2020, Marta fez diversas críticas a Boulos, agora seu aliado.
Em um dos debates do segundo turno, em comentário nas redes sociais, a ex-prefeita o criticou por “uma reposta absurda” em que ele comparava São Paulo e o Brasil com a China, “onde em uma canetada você fecha a cidade”, em referência a restrições durante a pandemia de Covid-19.
Posteriormente, a ex-prefeita disse que o Boulos estava “tenso, pesado, com conteúdo fraco” e que Covas tinha “conteúdo, verdade, tranquilidade de quem sabe e conhece o que faz”.
No último sábado (13), após fazer sua primeira reunião com Marta, Boulos afirmou que a aliança entre os dois “está olhando para o presente e o futuro” e que as diferenças políticas “só mostra como é uma aliança que amplia”. “Não é uma aliança entre pessoas que pensam da mesma forma”, disse Boulos.
A união de Marta e Boulos pode ser vista como a do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e de Lula, que foram antagonistas em eleições anteriores, na avalição de Glauco Peres, professor de ciências políticas da Universidade de São Paulo (USP). “Era alguém que já estava meio fora, alguém que você diz ‘não vai mais para lugar nenhum””, analisa.
Em sua opinião, sua inserção junto ao eleitorado da periferia, pode virar um “ativo” na campanha. Isso junto a outros atributos de Boulos, como, por exemplo, a militância em movimentos sociais.
Com a vitória de Covas sobre Boulos no segundo turno, Marta foi oficializada pelo prefeito reeleito como secretária de Relações Institucionais. A ação marcou sua volta ao Executivo municipal após 16 anos.
Ainda se manteve no cargo após a morte do prefeito, em maio de 2021, quando Ricardo Nunes, então vice, assumiu o comando da prefeitura em definitivo.
Sua demissão aconteceu neste mês, reflexo da reunião dela com Lula. A gestão Nunes chegou a avaliar que houve quebra de confiança, como informou a CNN à época.
Em carta que escreveu para Nunes para anunciar sua saída do cargo, Marta disse que o cenário político da cidade prenunciava “uma nova conjuntura”.
“Diferente daquela em que, em janeiro de 2021, tive a honra de ser convidada por Bruno Covas para a Secretaria Municipal de Relações Internacionais, encaminho, nesta data, de comum acordo, meu pedido de demissão deste cargo”, disse na ocasião.
Para Jairo Pimentel, pesquisador do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a mudança de lado de Marta pode ser interpretada como um jogador que se transfere para um time que tem mais chances de vitória.
Nunes procura apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como uma maneira de se consolidar como candidato da direita na cidade.
“No contexto de mudança para o MDB, ela declarou que o PT havia se deteriorado no escândalo do ‘petrolão’ enquanto agora quem se deteriora é Nunes ao se unir ao bolsonarismo”, analisa Pimentel.
Na opinião do pesquisador, “cabe a ela explicar ao eleitorado as mudanças abruptas em sua carreira”, que criam “dissonâncias em sua imagem”.
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