sábado, novembro 16, 2024
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Evolução de caracol é observada em tempo real durante 30 anos

Em uma pequena ilha rochosa no arquipélago de Koster, na Suécia, cientistas acompanharam a evolução de caracóis marinhos no decorrer de 30 anos – e os resultados foram publicados este mês na revista Science Advances.

Após uma proliferação de algas tóxicas no local devastar toda a espécie Littorina saxatilis em 1988, pesquisadores conseguiram reintroduzir esses animais, criando uma oportunidade inédita de observar a evolução em tempo real. 

Iniciado pela ecologista Kerstin Johannesson, da Universidade de Gotemburgo, esse experimento permitiu que cientistas do Instituto de Ciência e Tecnologia da Áustria (ISTA) e da Universidade Norueguesa do Norte investigassem como uma espécie pode readaptar-se ao ambiente original, mesmo após mudanças significativas.

Dois ecótipos de caracóis marinhos da espécie Littorina saxatilis, adaptados a diferentes ambientes. O da esquerda, caranguejo, é maior e cauteloso com os predadores. O da direita, caracol de onda, é menor e mais destemido. Crédito: ISTA/David Carmelet

Como foi feita a reintrodução dos caracóis marinhos na ilha

O arquipélago de Koster abriga duas variedades principais de L. saxatilis, adaptadas a diferentes condições: o ecótipo “Crab” (caranguejo), adequado para sobreviver à predação de caranguejos, e o ecótipo “Wave” (caracóis de onda), moldado para resistir ao impacto das ondas. 

Enquanto os caracóis do primeiro tipo possuem conchas maiores e mais espessas, abrindo-se de maneira estreita para dificultar o ataque dos predadores, os outros são menores, com conchas leves e padrões específicos que os protegem do impacto constante do mar.

Em um comunicado, a equipe explica que a proliferação de algas de 1988 eliminou completamente os caracóis dos recifes menores, onde antes predominavam os ecótipos “Wave”. Quatro anos depois, Johannesson decidiu reintroduzir uma população do ecótipo “Crab” em um desses recifes, esperando que os caracóis se adaptassem ao novo ambiente marinho. Em cerca de uma geração anual, os caracóis começaram a se transformar, sinalizando uma adaptação que intriga os cientistas até hoje.

Ao longo dos 30 anos seguintes, os pesquisadores acompanharam de perto essa adaptação. Em uma primeira fase, observaram o fenômeno da “plasticidade fenotípica”, em que os caracóis rapidamente ajustaram características físicas ao ambiente das ondas. Além disso, conforme o tempo passava, surgiram alterações genéticas que foram marcadas principalmente por inversões cromossômicas, que ajudaram a consolidar as mudanças de forma e comportamento.

Diego Garcia Castillo, pesquisador do Instituto de Ciência e Tecnologia da Áustria, visitando o recife experimental. Crédito: ISTA/Pierre Barry

Diversidade genética favoreceu evolução rápida da espécie

O estudo sugere que a evolução acelerada dos caracóis foi possível pela presença de diversidade genética na população inicial. Embora os caracóis do ecótipo “Crab” tenham sido reintroduzidos, algumas variações genéticas semelhantes ao ecótipo “Wave” ainda existiam em baixa frequência, possibilitando o retorno de traços antigos sem a necessidade de evolução completa do zero. Outro fator que favoreceu a readaptação foi o fluxo gênico, ou seja, a troca genética com caracóis de ilhas vizinhas.

“Nossos colegas viram evidências da adaptação dos caracóis já na primeira década do experimento”, disse Diego Garcia Castillo, do ISTA, explicando que essa transformação rápida é notável e fornece uma base para prever como a evolução pode ocorrer em condições semelhantes. 

De acordo com a cientista Anja Marie Westram, coautora do estudo, a diversidade genética é crucial para adaptações rápidas, mas muitas espécies podem não contar com tal recurso em face das pressões ambientais atuais. “A adaptação é muito complexa e nosso planeta também está enfrentando mudanças complexas com episódios de extremos climáticos, mudanças climáticas que avançam rapidamente, poluição e novos parasitas”.

Os cientistas esperam que este estudo inspire mais pesquisas sobre adaptação de espécies em ambientes em constante transformação. Segundo Westram, entender como a diversidade genética facilita a adaptação pode ser essencial para desenvolver estratégias de conservação, protegendo habitats variados que sustentam a diversidade genética necessária para a sobrevivência de várias espécies.

Atualmente, a população de caracóis reintroduzidos em 1992 se estabilizou em cerca de mil indivíduos, um exemplo resiliente do poder adaptativo em ação. A experiência demonstra que, enquanto algumas espécies conseguem adaptar-se rapidamente, o mesmo pode não ocorrer para outras menos diversificadas geneticamente, especialmente em um planeta onde as pressões evolutivas estão aumentando.

Via Olhar Digital

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