Um novo estudo propõe uma visão intrigante sobre os impactos de grandes extinções na vida na Terra e, potencialmente, em outros planetas. A pesquisa sugere que eventos catastróficos não apenas reduzem drasticamente a biodiversidade, mas também podem ser gatilhos para o aumento da complexidade e diversidade da vida ao longo do tempo.
A hipótese central do estudo — publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society — desafia a visão tradicional de que extinções em massa representam apenas retrocessos. Coautor do estudo, o astrofísico Arwen Nicholson, da Universidade de Exeter, disse ao Live Science, “quando você tem um colapso, isso dá potencial para algo novo surgir”.
Os pesquisadores usaram um modelo computacional conhecido como Tangled Nature Model para simular como grupos de espécies evoluem em cenários de perturbações planetárias.
Modelagem da teoria de Gaia sobre extinções em massa
O estudo baseia-se na controversa hipótese de Gaia, proposta nos anos 1970 por James Lovelock e Lynn Margulis, que sugere que a Terra funciona como um sistema autorregulado em que organismos vivos interagem com o ambiente para manter e melhorar as condições de vida.
No novo estudo, os cientistas introduziram perturbações simuladas em um modelo ecológico, reduzindo temporariamente a capacidade de suporte do ambiente para observar os impactos a longo prazo.
Os resultados apontam que sistemas que sobrevivem a essas perturbações tendem a “reagir mais fortes”, apresentando maior diversidade e abundância de vida após milhares de simulações. Essa dinâmica é exemplificada por eventos históricos como a Grande Oxidação, há cerca de 2,5 bilhões de anos, que eliminou grande parte da vida anaeróbica, mas abriu caminho para o surgimento de organismos mais complexos.
Apesar disso, Nicholson admite que “a biologia é inevitavelmente mais complicada e sutil do que os modelos” e que os experimentos são abstrações das interações ecológicas reais.
Vida autodestrutiva?
- O estudo também desafia a hipótese de Medeia, defendida pelo paleontólogo Peter Ward, que argumenta que a vida na Terra é inerentemente autodestrutiva.
- Ward aponta que eventos como a Grande Oxidação, impulsionados pela evolução de organismos fotossintéticos, causaram extinções em massa.
- Ele afirma que “a diversidade surge em períodos longos de estabilidade”, citando recifes de coral como exemplo.
- Nicholson rebate essa visão, argumentando que os mesmos eventos que causam destruição também criam oportunidades para o surgimento de sistemas mais complexos.
- Segundo ela, “para um bioma aumentar em complexidade, é necessário algum tipo de convulsão na vida”.
Além de entender a evolução da vida na Terra, o estudo oferece potenciais insights para a busca de vida fora do nosso planeta. O coautor Nathan Mayne, também da Universidade de Exeter, sugere que planetas próximos à borda da zona habitável — onde a água líquida pode existir — podem ter maior probabilidade de abrigar vida devido a possíveis perturbações climáticas.
Contudo, cientistas alertam para as limitações do estudo. O astrobiólogo Charles Lineweaver, da Universidade Nacional da Austrália, observa que muitos dos parâmetros utilizados no modelo não são diretamente observáveis em exoplanetas. Ele considera prematuro afirmar que os resultados ajudarão a priorizar planetas para busca de vida.
Ainda assim, os pesquisadores defendem que o estudo representa um passo inicial para compreender os princípios gerais que podem moldar a vida em diferentes mundos.