quinta-feira, outubro 3, 2024
InícioCiência e tecnologiaEstudo alerta para 'apropriação verde' na expansão energética do Brasil

Estudo alerta para ‘apropriação verde’ na expansão energética do Brasil

Um estudo recente apresentou tendências preocupantes no setor de energia renovável do Brasil, especialmente no que diz respeito à privatização de terras para infraestrutura solar e eólica. Liderada por pesquisadores da UCL e da Universidade Boku, a pesquisa revela como corporações internacionais estão se apropriando de terras antes públicas e comuns.

Entre 2011 e 2021, o Brasil experimentou um crescimento significativo na capacidade eólica e solar, com a capacidade eólica aumentando de 1,2% para 11,4% e a solar de 0,1% para 2,6%. No entanto, essa transição para fontes de energia mais limpas tem um custo, já que parques eólicos e solares requerem terras substanciais.

Apropriação verde na energia renovável brasileira

Propriedade e investimento em ativos de energia eólica. O diagrama mostra a área do parque eólico por região e empresa para os proprietários de parques eólicos (parte superior) e os investidores em parques eólicos (parte inferior). (Imagem: Nature Sustainability)
  • O estudo publicado na revista Nature Sustainability, analisou dados de 2000 a 2021 e descobriu que investidores internacionais, predominantemente da Europa, detêm uma participação substancial nos ativos de energia renovável do Brasil.
  • Embora entidades brasileiras tecnicamente possuam a maioria dos parques eólicos, muitos são subsidiárias de empresas controladas por estrangeiros, principalmente da Itália e da França.
  • Alarmantemente, uma parte significativa desses projetos invade território legalmente ambíguo, com 28% dos parques eólicos confiando exclusivamente em registros ambientais e 7% construídos em terras comuns públicas.
  • Isso levanta preocupações sobre insegurança na posse da terra e o deslocamento de comunidades locais.
apropriação verde
Propriedade e investimento em ativos de energia solar fotovoltaica. O diagrama mostra a área do parque solar fotovoltaico por região e empresa para os proprietários de parques solares fotovoltaicos (parte superior) e os investidores em parques solares fotovoltaicos (parte inferior). (Imagem: Nature Sustainability)

Nosso trabalho destaca a importância de encontrar um equilíbrio entre o desenvolvimento de energia sustentável e a proteção de terras públicas e comuns. A privatização com supervisão deficiente e pouca transparência está sendo usada para apropriar e transferir terras de comunidades tradicionais para grandes corporações internacionais, apesar da grande insegurança na posse da terra.

Dra. Nadia Ameli, da Escola Bartlett de Meio Ambiente, Energia e Recursos da UCL, coautora do estudo ao Tech Xplore

Conflitos com comunidades locais

A história do Brasil de desigualdades fundiárias e governança fraca agrava o problema, com a apropriação de terras já sendo algo comum em setores como a agricultura. Esse fenômeno tem provocado conflitos sobre a posse da terra, especialmente com populações indígenas e tradicionais.

O autor principal, Dr. Michael Klingler, destacou ao Tech Xplore a importância do diálogo inclusivo com comunidades afetadas, ONGs e cientistas para abordar esses conflitos. Ele adverte contra a legitimização de apropriações de terras sob o pretexto de mitigação climática, enfatizando a necessidade de caminhos de energia renovável justos e equitativos.

A questão da terra é central para impulsionar ações climáticas eficazes e promover caminhos de energia de baixo carbono ‘justos’. A necessidade da transição energética não deve ser questionada, mas sim a maneira como esses projetos são implementados.

Dr. Michael Klingler da Universidade Boku, autor principal do estudo, ao Tech Xplore

Via Olhar Digital

MAIS DO AUTOR

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui