Na noite de terça-feira (19), com transmissão ao vivo pelo Olhar Digital, a SpaceX conduziu o sexto voo de teste do megafoguete Starship, o maior e mais poderoso veículo espacial já construído.
Embora o propulsor Super Heavy tenha pousado no mar em vez de ser novamente capturado pelos braços robóticos da torre Mechazilla (como aconteceu em outubro, ao fim do quinto lançamento experimental), a missão foi considerada um sucesso – saiba tudo aqui.
O que você vai ler aqui:
- Esta semana, a SpaceX realizou o sexto voo de teste do Starship;
- Embora o propulsor não tenha sido capturado pela torre de lançamento como na missão anterior, pousando no mar, o lançamento foi considerado um sucesso;
- Apesar da constante evolução do megafoguete a cada voo, ele levanta preocupações que vão além do desenvolvimento tecnológico;
- Por gerar níveis de ruído acima do aceitável, o veículo pode provocar danos às comunidades próximas ao decolar e ao retornar à base de lançamento;
- Ambientalistas temem o impacto dos estrondos sônicos em espécies ameaçadas e o efeito ambiental em áreas próximas protegidas;
- A SpaceX não se manifestou sobre o assunto.
A cada novo teste, a SpaceX avança mais rumo à reutilização rápida e completa do sistema. Isso significa que não apenas o primeiro, como também o segundo estágio, que dá nome ao complexo veicular, devem realizar pousos controlados na torre durante as futuras missões oficiais.
Impacto sonoro do Starship preocupa comunidades e ambientalistas
Apesar do progresso, a empresa liderada por Elon Musk enfrenta desafios críticos relacionados ao impacto sonoro dos lançamentos do Starship.
Medições feitas durante o quinto voo de teste revelaram que o foguete excede significativamente os limites aceitáveis de ruído, gerando preocupações sobre os danos potenciais às comunidades próximas à Starbase, local de lançamento da SpaceX no sul do Texas.
De acordo com um estudo conduzido por Kent L. Gee, engenheiro acústico e professor da Universidade Brigham Young, em Utah, nos EUA, o Starship produz níveis de ruído cerca de dez vezes maiores que os do Falcon 9, atual foguete principal da SpaceX.
Os dados coletados indicam que o ruído mais alto não ocorre na decolagem, mas cerca de 6,5 minutos depois, quando o booster retorna ao solo para pousar.
Naquela ocasião, o impacto sonoro do lançamento na cidade de Port Isabel atingiu 105 decibéis, comparável ao som de um show de rock ou de uma motosserra em operação. No retorno do propulsor, o ruído chegou a 125 decibéis, equivalente ao som de um tiro à queima-roupa.
Esses níveis de pressão sonora causaram eventos de sobrepressão na região que superaram as projeções da Administração Federal de Aviação (FAA).
A equipe de Gee avaliou o impacto sonoro em oito pontos a distâncias entre 10 e 35 quilômetros do local de lançamento. Embora os níveis de ruído tenham ficado abaixo do esperado em algumas frequências audíveis, em outros aspectos o impacto foi mais severo. Durante o teste, alarmes de carros dispararam e moradores relataram pequenos danos em suas residências.
Segundo o jornal The New York Times (NYT), testes independentes realizados pela consultoria Terracon reforçaram essas preocupações. Contratada por autoridades de Port Isabel, a empresa identificou picos de ruído de até 144,6 decibéis durante o retorno do foguete, excedendo novamente as expectativas.
Jared Hockema, prefeito da cidade, revelou receio de que esses níveis de pressão sonora possam causar danos estruturais às residências locais, especialmente em uma cidade de cerca de cinco mil habitantes. “Estamos todos a favor do desenvolvimento econômico e do trabalho que a SpaceX está fazendo”, disse ele ao NYT. “Só queremos um desenvolvimento econômico que ocorra de maneira que siga a lei e não prejudique os moradores ou o meio ambiente”.
O impacto sonoro do Starship também preocupa ambientalistas. A área ao redor da base de lançamento inclui uma reserva nacional de vida selvagem e um parque estadual, que abrigam aves e tartarugas ameaçadas de extinção.
O ruído gerado pelos lançamentos do megafoguete pode afetar esses animais, mas os dados sobre o impacto ambiental ainda são limitados. Casas na vila de Boca Chica, a menos de três quilômetros da plataforma de lançamento, também não foram incluídas nas medições realizadas até o momento, deixando lacunas importantes na análise.
Outro paralelo relevante é o histórico do Concorde, jato supersônico desativado que enfrentou severas restrições de voo nos EUA devido aos estrondos sônicos gerados durante sua operação. De acordo com o levantamento de Gee, o ruído do Starship em outubro foi cerca de 1,5 vez maior que o do Concorde, o que reforça a necessidade de medidas para minimizar os impactos futuros.
SpaceX projeta 400 lançamentos do megafoguete até 2028
A SpaceX não se pronunciou sobre os resultados dessas medições recentes, seguindo focada em seus objetivos de longo prazo. A diretora de operações da empresa, Gwynne Shotwell, revelou planos ambiciosos para realizar até 400 lançamentos do Starship nos próximos quatro anos, partindo tanto do Texas quanto do Centro Espacial Kennedy, na Flórida.
Gee e sua equipe também fizeram medições durante o voo desta terça-feira. Segundo eles, as condições climáticas e os ventos podem influenciar a propagação do som, tornando essencial a realização de estudos adicionais.
Ainda de acordo com a reportagem do NYT, a SpaceX já prejudicou bastante o meio ambiente, só este ano. Em alguns casos, a empresa não cumpriu promessas feitas quando propôs a construção da base de lançamento em 2012, incluindo o compromisso de manter uma “pequena pegada ecológica”. Isso tem gerado críticas e alimentado questionamentos sobre a abordagem da companhia em relação às comunidades locais.
Com o potencial de se tornar uma peça-chave no futuro da exploração espacial, o Starship ainda precisa superar desafios na Terra. Minimizar os impactos sonoros e ambientais não é apenas uma questão de regulamentação, mas um passo crucial para assegurar a sustentabilidade de sua operação em larga escala, garantindo que o progresso tecnológico caminhe lado a lado com a responsabilidade social e ambiental.