domingo, julho 7, 2024
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‘Estou com saudades’, diz deputada Lucinha em mensagem para miliciano, mostra investigação

Em troca de mensagens, Domício Barbosa, o Dom, diz que vai presentear a deputada com um cavalo. Em outros trechos, a deputada pede um encontro com o homem apontado como chefe financeiro da milícia.

As mensagens trocadas entre a deputada Lúcia Helena Pinto de Barros, a Lucinha (PSD), e o miliciano Domício Barbosa, o Dom, apontam para uma relação “fraternal” e “que transcende a amizade”, de acordo com as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público do Rio. Em uma delas, a deputada chega a dizer “estou com saudades“.

Lucinha é investigada por suspeita de envolvimento com a milícia. Investigadores afirmam que a deputada se valia do seu “prestígio como parlamentar para favorecer os interesses da organização criminosa.

Nas mensagens, Dom chama a deputada de “madrinha” e manda imagens de um cavalo, que seria dado como presente a ela.

Imagem de cavalo foi enviada a Lucinha como um futuro presente — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Em outras mensagens, ela pede a Domício Barbosa para marcar encontros com outros criminosos. Entre eles, estava Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, apontado como chefe da maior milícia do Rio.

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro deferiu uma medida cautelar de afastamento de Lucinha do cargo. O desembargador relator Benedicto Abicair fixou o prazo de 24 horas para que a decisão seja remetida ao Parlamento fluminense para que, em voto aberto e nominal, os deputados resolvam se ela vai permanecer afastada do cargo.

Lucinha é apontada como um braço político da milícia que atua na região de Campo Grande e Santa Cruz, na Zona Oeste da capital fluminense.

Operação apreendeu R$ 148 mil em espécie — Foto: Divulgação

A Operação Batismo, da Polícia Federal (PF) e da Procuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), cumpriu mandados de busca e apreensão na casa e no gabinete da deputada, na Alerj.

Na operação desta segunda-feira (18), foram apreendidos R$ 148 mil e duas armas na casa da deputada.

Pistolas apreendidas na casa da deputada Lucinha — Foto: Divulgação

Cavalo como presente

No dia 1 de dezembro de 2021, Domício, que chamava Lucinha de “Madrinha”, informa à deputada que comprou um cavalo e solicita um endereço para que pudesse entregar o animal.

Em seguidas, são enviadas diversas informações sobre o bicho, além de imagens e vídeos. No entanto, o cavalo não tinha sido entregue até o dia 14 de dezembro.

“Madrinha”, então, diz que vai marcar um encontro com Domício para buscar o mimo.

Conversas desde julho de 2021

Deputada Lucinha (PSD) — Foto: Divulgação Alerj

Nesse mesmo dia, Lucinha manda uma mensagem para Domício, indicando, para a Polícia Federal, uma clara relação de amizade: “Estou com saudades”.

Em seguida, ela manda uma foto em que aparecem o então presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano, a deputada Martha Rocha e uma terceira pessoa, não identificada.

A relação entre eles já vinha desde junho daquele mesmo ano. Domício envia mensagens dizendo que aquele era seu número novo e que estaria chegando a algum local. Ela responde que também estava chegando.

Além de diversas conversas que mostram Lucinha dentro do plenário da Assembleia Legislativa, “Madrinha” aparece dizendo a “Dom” que estava em Santa Cruz, área de seu curral eleitoral dominada pela milícia em que Domício atuava. As mensagens são do dia 23 de julho de 2021.

“Estou por Santa Cruz. Quer conversar? tipo 10h”, pergunta Lucinha, pouco antes das 9h.

Horas depois, já depois das 12h, Domício responde: “Acordei tarde hoje, porém se no horário da tarde a senhora estiver disponível eu vou”.

“Pode ser agora às 14h no mesmo local”, indica Lucinha.

“Estarei lá conforme o combinado”, diz Domício.

Encontro com milicianos

Em outro diálogo importante interceptado na investigação, no dia 2 de setembro de 2021, Lucinha diz que gostaria de conversar com Domício e mais outros dois criminosos, citados por apelidos: “Irmão” e “Pretinho”.

Miliciano Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho — Foto: Reprodução

“Irmão, de acordo com a Polícia Federal, é o codinome dado ao chefe da milícia, Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho.

Ele assumiu a maior milícia do Rio, de acordo com as investigações da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio, após a morte do irmão Wellington da Silva Braga, o Ecko.

Já Pretinho, de acordo com os investigadores do Grupo de Investigações Sensíveis (Gise-Facções) da Polícia Federal, seria o miliciano Rodrigo dos Santos, conhecido como Latrell, que ainda estava solto.

Latrell, preso em São Paulo — Foto: Arquivo Pessoal

Em 2022, ele foi preso pela Polícia Civil em São Paulo. A quebra de sigilo dos aparelhos que estavam com ele deu início às investigações que resultaram na Operação Dinastia, da PF e do Ministério Público.

Lucinha, no diálogo, diz que há um “assunto importante sobre Antates”, referindo-se à favela de Antares, em Santa Cruz, dominada pelos milicianos. “Também tem outros assuntos mais só pessoalmente. Ponto de encontro é o mesmo: Pracinha”

“Fechado, eu busco a senhora lá”, responde Domício. O encontro foi marcado para as 20h daquele dia.

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