Depois de três horas de um espetáculo no rio Sena, a pira olímpica foi acesa pelo judoca Teddy Riner e pela atleta Marie-José Pérec, ambos franceses. Eles receberam a tocha de um homem mascarado, cujo personagem acompanhou toda a cerimônia, realizada nesta sexta-feira, 26, movimentando-se pela ruas da cidade.
O público presente, de cerca de 320 mil pessoas, assistiu a diversas apresentações artísticas ao ar livre, apesar da chuva em Paris.
A cerimônia durou cerca de quatro horas. O mistério sobre o portador da tocha olímpica foi revelado no final, quando surgiram Riner e Marie-José. Antes a tocha passou pelas mãos de lendas do esporte, como Rafael Nadal e Zinedine Zidane. Riner é tricampeão olímpico (2012, 2016 e 2020), enquanto Marie-José ganhou três ouros olímpicos no atletismo – dois nos 400m (1992 e 1996) e um nos 200m (1996)
Em meio ao desfile de 205 delegações em barcos que percorreram o Sena, shows foram apresentados nas escadarias laterais do rio. Um deles foi o da cantora norte-americana Lady Gaga.
O teor da cerimônia, no entanto, causou polêmica por abordar temas do estilo woke. O termo em inglês, cuja tradução literal é “acordou, despertou”, tem sido usado como gíria para referir-se à consciência sobre temas sociais e políticos, sobretudo o racismo.
Em uma das apresentações, drag queens se posicionaram em um palco, de uma maneira que remetia ao quadro A Última Ceia, de Leonardo da Vinci, feito entre 1495 e 1498.
A iniciativa causou indignação em boa parte das redes sociais, como fica claro no post publicado pela advogada Cláudia Wild.
“A abertura das Olimpíadas está a cara da anfitriã decadente: a gente achava que seria chique e sofisticada, mas transformou-se num triste espetáculo woke“, declarou. “Lacração e multiculturalismo politicamente correto na veia. Décadence et inélégance [decadência e deselegância].”
Na apresentação de Lady Gaga, inspirada no Moulin Rouge, ela cantou em francês e tocou piano na île Saint-Louis, perto da Catedral de Notre-Dame.
Protesto e população distante
A apresentação da cantora canadense Céline Dion, depois do acendimento da pira, de cima da Torre Eiffel, foi o ponto alto da cerimônia, por selar sua volta aos palcos depois do diagnóstico de um raro distúrbio.
Outras atrações foram destaque na cerimônia, cujo formato mostrou-se mais adequado para a mídia do que para a própria população, muito distante de algumas performances. A cantora maliana Aya Nakamura e a banda Gojira também se apresentaram.
Também não faltou protesto contra o próprio colonialismo francês, cuja segunda etapa ocorreu a partir de 1830 com a conquista de Argel, capital da Argélia. E se encerrou nos anos 1960, de forma sangrenta, por meio das guerras da Argélia (1962) e da Indochina (1964).
A delegação argelina não se esqueceu do fato e das sequelas em sua população, durante e depois da presença francesa. Realizou um protesto em meio ao desfile, quando um representante jogou uma rosa no Sena, em memória ao massacre de 1961, anterior à guerra de independência.