Enquanto o governo federal amplia sua presença em eventos ligados à militância social, estatais e entidades do Sistema S distribuem patrocínios milionários para bancar atos que destacam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O jornal Folha de S.Paulo divulgou as informações nesta segunda-feira, 26.
O dinheiro público financia conferências e festividades organizadas por associações próximas ao partido e reproduz bandeiras históricas da esquerda.
Na lista de beneficiados aparecem encontros com discurso político escancarado e saudação ao presidente como símbolo de esperança.
Em 2023, o evento ExpoCatadores, por exemplo, contou com R$ 1,45 milhão de cinco órgãos diferentes: BNDES, Caixa, Itaipu, Sebrae e Conselho Nacional do Sesi. O presidente participou pessoalmente do ato e discursou diante de apoiadores.
A ExpoCatadores é tradicionalmente palco para falas inflamadas em favor de Lula. Durante o evento, os organizadores exaltaram o petista com frases como “viva o presidente” e “esperança para a democracia”. Lula encerrou o encontro com um discurso político.
No ano seguinte, embora ausente por motivos de saúde, o petista foi homenageado com um vídeo, e o evento recebeu novamente aportes de estatais que totalizaram R$ 1,55 milhão.
As conferências promovidas por movimentos sociais voltaram com força desde a posse de Lula. Em 2023 e 2024, os encontros sobre ciência, tecnologia, cultura e segurança alimentar consumiram ao menos R$ 2,95 milhões em patrocínios do Banco do Brasil e da Caixa.
O presidente participou de duas dessas conferências, ambas acompanhadas de discursos que exaltam a volta do diálogo com a “sociedade civil”.
A prática remete aos dois primeiros mandatos do petista. Ainda em campanha, em 2022, Lula prometeu retomar as conferências que, segundo ele, reuniram milhões de brasileiros para “discutir os mais diferentes temas”.
O Conselho Nacional do Sesi destinou R$ 600 mil em 2023 e R$ 500 mil em 2024 aos atos de 1º de Maio organizados por centrais sindicais.
A Central Única dos Trabalhadores, principal captadora dos recursos, tem histórica ligação com o Partido dos Trabalhadores. Em ambos os anos, Lula discursou no evento e reforçou seu alinhamento com as pautas dos sindicatos.
Procuradas pela Folha, as instituições que financiaram os eventos alegam que os repasses seguem critérios técnicos. O BNDES justificou a verba com base em projetos de inclusão produtiva.
A Caixa e o Banco do Brasil citaram estratégias de marca. O Sebrae afirmou atuar dentro de sua missão institucional. Já o Sesi negou qualquer interferência do governo federal nos contratos.
A Secretaria de Comunicação da Presidência declarou que supervisiona os procedimentos de patrocínio, mas sem ingerência sobre decisões específicas.