Embora o céu alaranjado que tem sido observado em várias regiões do Brasil nas últimas semanas possa parecer encantador, na verdade isso é um resultado preocupante das queimadas e da poluição atmosférica.
Micael Amore Cecchini, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), explicou ao Uol que a cor alaranjada no céu é causada pelo espalhamento da luz, que é intensificado pela presença de partículas de poluição na atmosfera.
Em condições normais, a luz azul é mais dispersa, dando ao céu sua tonalidade característica. No entanto, quando há muita poluição, partículas como fuligem e outros poluentes resultantes das queimadas fazem com que as cores quentes, como vermelho e laranja, se tornem mais evidentes, conferindo ao Sol e ao céu uma coloração alaranjada.
Ausência de frentes frias intensifica o problema das queimadas
Concentradas em grandes áreas da Amazônia, Pantanal e em partes de São Paulo, as queimadas lançam fumaça na atmosfera, que é transportada pelos ventos para regiões mais distantes, como o Centro-Oeste e o Sudeste. Cecchini destaca que a ausência de frentes frias agrava a situação. “Essas partículas permanecem na atmosfera por mais tempo em dias secos e sem chuvas, o que explica a persistência do Sol alaranjado”.
Os efeitos desse cenário vão além da mudança na cor do céu. A inalação de partículas tóxicas provenientes das queimadas pode causar problemas respiratórios sérios. “É como se estivéssemos respirando fumaça de cigarro”, disse Cecchini, sublinhando o risco da exposição prolongada a esses poluentes.
Além disso, a redução da luz solar, provocada pela poluição, pode afetar negativamente o crescimento das culturas agrícolas, que dependem de luz intensa para seu desenvolvimento.
Mudanças climáticas influenciam na alteração das cores do Sol e da Lua
Embora esse fenômeno não seja uma consequência direta das mudanças climáticas, há uma ligação indireta. O aumento na frequência de dias quentes e secos torna as queimadas mais prováveis, o que, por sua vez, agrava a poluição e intensifica o efeito do céu alaranjado. Isso evidencia os desafios ambientais enfrentados pelo Brasil, especialmente com o avanço do desmatamento.
As condições climáticas atuais também influenciam a tonalidade da Lua. A meteorologista Josélia Pegorim, do Climatempo, explicou ao G1 que a avermelhada que notamos no satélite está relacionada à interação da luz com os poluentes na camada baixa da atmosfera, mais próxima à superfície.
A falta de chuvas e ventos aumenta a concentração de poeira nesta camada, acentuando a coloração avermelhada da Lua, especialmente quando ela está próxima ao horizonte, devido ao reflexo da luz nas partículas de poluição.
Fatores meteorológicos, a ausência de chuvas e o transporte de poluição de outras regiões também contribuem para a coloração observada da Lua, refletindo a intensidade da poluição atmosférica. “Quanto mais poluído o ar, mais intensa será a cor avermelhada da Lua”.