Um artigo publicado esta semana no periódico científico Neurology Journals revela que astronautas que embarcam em viagens espaciais de longa duração estão sujeitos a dores de cabeça e enxaquecas, mesmo aqueles que nunca tiveram histórico desses problemas de saúde.
Liderada por Willebrordus P.J. van Oosterhout, PhD em neurociência pela Universidade de Leiden, na Holanda, a pesquisa destaca os efeitos das mudanças gravitacionais no corpo humano durante missões no espaço.
As adaptações necessárias para viver em um ambiente de gravidade quase zero podem impactar o sistema vestibular do corpo humano, responsável pelo equilíbrio e postura. Essas alterações podem resultar em sintomas como enjoo e dores de cabeça. O estudo sugere que mesmo após a primeira semana no espaço, as dores de cabeça persistem, possivelmente devido ao aumento da pressão intracraniana.
Pesquisa investigou 24 astronautas
A pesquisa contou com a participação de 24 astronautas de três diferentes agências espaciais: a NASA, dos EUA, a Agência Espacial Europeia (ESA) e a do Japão (JAXA), que passaram períodos de até 26 semanas na Estação Espacial Internacional (ISS) entre os anos de 2011 e 2018.
Antes do início das observações, nove deles relataram nunca ter tido dores de cabeça, e três tiveram episódios que interferiram nas atividades diárias no último ano. Nenhum dos astronautas tinha histórico de cefaleias recorrentes ou já havia sido diagnosticado com enxaqueca.
Durante o período total de 3.596 dias no espaço, os astronautas relataram 378 episódios de dores de cabeça, com 92% deles experimentando o desconforto durante o voo, em comparação com apenas 38% antes da missão.
A maioria das dores de cabeça foi classificada como do tipo tensional (90%), enquanto 10% foram identificadas como migrâneas. Curiosamente, as dores foram mais intensas e frequentemente semelhantes a enxaquecas durante a primeira semana de voo espacial.
Nenhuma dor de cabeça relatada após retorno à Terra
Após retornarem à Terra, nenhum dos astronautas relatou dores de cabeça nos três meses subsequentes, o que sugere uma relação direta com o ambiente espacial.
Apesar das descobertas significativas, o estudo apresenta algumas limitações, incluindo o fato de que os astronautas autodeclararam seus sintomas, o que pode ter afetado a precisão dos dados.
P.J. van Oosterhout enfatiza a necessidade de realizar mais pesquisas para compreender as causas subjacentes das dores de cabeça no espaço e desenvolver terapias eficazes para lidar com esses desconfortos, que representam um desafio considerável durante as missões espaciais.
Embora o estudo não prove uma relação direta de causa entre as viagens espaciais e as dores de cabeça, ele destaca uma associação que merece investigação extra para garantir a saúde e o bem-estar dos astronautas que desbravam o espaço sideral.