quinta-feira, novembro 21, 2024
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Escritora Roseana Murray anuncia livro após ataque de pitbulls

A escritora Roseana Murray, 73 anos, anunciou, nesta terça-feira, 28, que vai lançar um livro inspirado no ataque que sofreu em abril. Na época, três pitbulls a atacaram, enquanto ela caminhava em Saquarema, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro. Ela perdeu um braço e uma orelha no acidente. Chamado O Braço Mágico, a obra vai ser publicada em 15 de agosto.

“A primeira vez que me vi no espelho, meu rosto estava inchadíssimo e com cicatrizes horríveis”, disse Roseana Murray. “Foi um grande susto. Mas, depois, quando pude ver meu corpo todo, me aceitei de cara, porque já tinha fabricado O Braço Mágico na minha cabeça.”

Ela revelou a ideia do livro ainda no centro de terapia intensiva, mas encontrou o tom certo apenas ao interagir com seus netos. “Quando cheguei em casa, depois da alta, corri para colocar no papel”, explicou Roseana, que desenvolveu o projeto em menos de um mês depois do ataque.

“É um texto simples, curto, mas que me ajudou demais”, contou a escritora. “Fala sobre uma avó que conta para os netos que teve um acidente e perdeu um braço. Mas, com poesia, ela transforma o membro que está faltando em um braço mágico, que fará novas e belas coisas.”

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“Sinto que os meus netos Luiz, de 14 anos, e a Gabi, de 10, só queriam ver que estava viva”, afirmou Roseana Murray. “Nem perguntaram muito, só ficaram olhando, e acho que foi realmente tranquilo para eles. E essa reação deles só podia me inspirar.”

No hospital, Roseana também escreveu parte de uma coletânea de poemas para adultos sobre anjos. “Essa coletânea sobre anjos conversa sobre o questionamento existencial”, contou a escritora. “É um tom para adultos. Já havia começado antes do acidente, escrevi um texto ainda no CTI e sigo trabalhando nisso.”

Roseana Murray também anunciou um sarau

Entre os projetos antigos e inéditos, Roseana destaca a retomada de seu clube de leitura e anuncia um sarau no Dia dos Namorados, 12 de junho, no Hospital Estadual Alberto Torres, onde ficou internada. Ela passou 13 dias na unidade e saiu aplaudida pela equipe médica e funcionários.

“A gente pensa na potência que é o amor como força transformadora”, afirmou Roseana Murray. “Naquela condição comecei a comer, escovar os dentes, fazer tudo com a mão esquerda. A escrita com a mão é como de criança, mas está melhorando. Vou ser canhota, em tudo.”

Para o sarau, Roseana ganhou das editoras cerca de 300 livros, que serão distribuídos aos funcionários do hospital. “Estou rubricando esses livros todos com minhas iniciais com a mão esquerda”, disse a poetisa. Sobre o tratamento, contou que ainda precisa voltar ao hospital com frequência para cuidar dos curativos.

“Além da orelha, coloquei duas próteses no quadril, uma em cada lado”, disse Roseana. “Tenho também quatro curativos de feridas grandes e o meu ‘toco’, como costumo chamar o que sobrou do meu braço.”

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A escritora também contou sobre os traumas que ainda sente na pele. “Tenho dores terríveis no braço fantasma”, explicou Roseana. “Sinto como um choque, é uma dor intensa o tempo todo, assim como ocorre nas pernas, onde estão alguns dos ferimentos. Mas estou trabalhando isso com os remédios, que ajudam a diminuir a frequência da dor, e psiquiatra.”

O trauma também se manifesta em certa insegurança de sair na rua. “Só saio de casa para entrar no carro e ir para o hospital”, contou Roseana Murray. “Ainda não saio na rua porque fico com medo de cair e magoar os ferimentos.” Questionada sobre a possibilidade de mudar de casa, Roseana é categórica: “Deus me livre”.

Os cachorros estão em um abrigo da prefeitura. Já as três pessoas responsáveis pelos animais chegaram a ser presas, mas respondem ao processo em liberdade.

“Acho que não adiantaria nada se eles fossem presos”, comentou a escritora. “O que a gente precisa fazer é valer a legislação sobre os pitbulls no Brasil. Desde que me acidentei, vi muitas notícias sobre esse tipo de ataque. É um caso que precisa ser visto.”

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Sobre as lembranças do acidente, Roseana disse que as cenas surgem como flashes, mas que não se prende a isso.

“Tenho memória fragmentada sobre o que aconteceu, mas não me perturba”, disse Roseana Murray. “Saí do trauma, acho que com a história do braço mágico consegui dar a volta por cima. No momento de muita dor, a arte é o que te salva. Não é um clichê, é uma verdade. A literatura salva e precisa ser um direito de todos neste país.”

Entre os projetos futuros, o mais importante, segundo Roseana, é aproveitar o presente. “Daqui para frente os anos não são tantos”, afirmou a poetisa. “E quero ver meus netos crescerem, quero escrever muitos livros, não tenho muito tempo a perder. Não chorei em nenhum momento diante do que aconteceu, só agradeci pela vida.”

Via Revista Oeste

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