Quando Jacoby Shaddix, vocalista da banda Papa Roach, disse que estava tentando ficar sóbrio, ouviu de um produtor que era isso que estava errado com as estrelas de rock de hoje em dia, e que estava deixando o rock “chato”. Mas, segundo o artista disse à CNN, ele não teve escolha. O álcool o transformava em quem ele não era, e destruía todas as suas relações.
Hoje ele consegue se manter mais saudável e se sente melhor para subir no palco e dar mensagens de esperança. Como com a música “Leave a Light On”, colaboração com a cantora de country Carrie Underwood. A canção está doando os royalties para a campanha “Talk Away the Dark”, que beneficia a Fundação Americana para Prevenção do Suicídio (AFSP).
No bate-papo, ele falou da importância desta campanha, lembrou do último show que a banda fez no Brasil, e adiantou: eles estão vindo em novembro para o país! Confira:
Então, minha primeira pergunta para você é que vimos uma trend do TikTok que vocês fizeram e tem um momento que Tobin diz: “Eu estou na banda Papa Roach. É claro que as pessoas nos pedem para vir ao Brasil diariamente”, então eu farei as honras. Quando vocês vêm ao Brasil? E, por favor, venham ao Brasil!
Ok. Então eu posso te dizer aqui. Nós estamos indo… Eu tenho minha agenda bem na minha frente. Eu sei que vamos em novembro.
Essa é uma ótima notícia. E eu sei que vocês fazem turnê no mundo inteiro e a última vez que vocês vieram ao Brasil foi em 2016. Mas eu tenho que perguntar, vocês ainda se lembram da energia do público brasileiro?
Ah, com certeza. Eu me diverti pra caramba. Foi logo antes de lançarmos nosso álbum, “Crooked Teeth”, e foi uma turnê turbulenta. Eu perdi meu passaporte no caminho para a turnê, e eu quase tive que cancelar um show na Colômbia por causa disso. Eu consegui um passaporte de emergência, e nosso promoter no Brasil teve que me levar para outra empresa de passaportes e obter um visto de trabalho. Foi uma provação, mas os shows foram incríveis. Eu sinto muito por ter passado tanto tempo desde a última visita. É um mercado que nós sabemos que ama Papa Roach, e sabemos que temos um monte de fãs lá que ouvem nossa música. Nós vemos os números de streaming. Nós vemos tantas pessoas no Brasil curtindo nossa música. Então nós estamos devendo vocês. Estou feliz que agora há uma data. Encontro marcado.
Vocês começaram em 1993, e agora estamos em 2024. O quanto você mudou como pessoa e como estrela do rock em todos esses anos?
Quando começamos essa banda, eu era uma criança tocando música na garagem e que tinha um grande sonho me tornar uma estrela do rock. E tinha todas as expectativas sobre como era ser uma estrela do rock. As festas e todas essas coisas malucas, eu fui e fiz tudo isso. E então percebi que aquilo era apenas um buraco vazio. Era apenas um poço sem fundo de escuridão. E eu tive que mudar minha vida, sabe?
Ter filhos e ser casado me inspirou a ser um homem melhor e um músico melhor, um compositor melhor, um pai melhor, um amigo melhor, um marido melhor, todas essas coisas. E eu tive alguns momentos realmente sombrios na minha vida por causa disso. Eu tive alguns momentos muito incríveis, esperançosos e transformadores, tive meus erros e meus sucessos em plena exposição na frente do mundo por quase toda a vida. E é uma maneira interessante de viver. Ainda manter uma identidade de quem você realmente é no fundo do seu coração e na sua alma. Quem você é como pessoa? Eu não sei, cara.
Ser uma estrela do rock é uma coisa estranha, para ser honesto. Eu estranhamente sou como uma estrela do rock sem querer ser uma, e só sou essa estrela quando estou no palco.
Você mencionou uma vez que está sóbrio há mais de dez anos. E quando pensamos em estrelas do rock, ainda há quem pense em drogas e álcool. Foi desafiador para você fazer essa mudança na sua vida? E você acha que esse conceito de estrela do rock evoluiu nesse sentido?
Absolutamente. O uso de drogas e álcool é promovido e encorajado neste meio. Eu me recusei a sucumbir a isso. Eu me entreguei a isso, e vi os resultados disso na minha vida. Foi como destruição. Destruição de mim mesmo, destruição dos meus relacionamentos. Eu simplesmente não era… Eu não era eu, e sabia disso. Em 2004, tentei ficar sóbrio pela primeira vez, e tive dificuldade. Eu ficava sóbrio por alguns meses, e então eu recaía. Eu estava na estrada, ficava solitário e bebia de novo. Foi só em 2012 que eu finalmente larguei a garrafa, e eu não bebo um gole de álcool desde 19 de fevereiro de 2012. Isso transformou minha vida de tantas maneiras positivas que eu nem posso contar.
É simplesmente… Seria morrer ou ser preso, sabe? Era nessa direção que eu estava indo. E eu lembro quando liguei para um dos meus produtores e disse: “Ei, cara, estou ficando sóbrio”. Foi bem antes de irmos para lá para começar a gravar um álbum chamado “Getting away with murder”. E o produtor respondeu: “Que merda você está fazendo? É isso que está errado com o rock and roll hoje em dia. Todos vocês, estrelas do rock, estão ficando sóbrios. Está deixando o rock chato”. E eu: “Cara, o rock and roll que se ferre. Estou tentando lutar pela minha vida”, sabe?
É isso que você enfrenta às vezes como artista. E isso só dura um certo tempo, sabe? Eu não podia deixar esse negócio me mastigar e me comer e me cuspir para fora. Eu tinha um propósito maior do que apenas fazer isso. E tem sido uma transformação que eu sou grato por ter sido ousado e corajoso o suficiente para lutar contra esse demônio. E o diabo perdeu contra mim. Eu não trabalho mais para ele.
Estou feliz que você esteja em um momento melhor da sua vida agora. Como você cuida da sua saúde mental lidando com uma vida na estrada e navegando pelos desafios desta indústria musical?
Eu tento manter um coração suave e compassivo estabelecendo limites sólidos e fortes em torno da minha vida e de mim mesmo. E isso tem sido, acho, que uma das coisas fortalecedoras que consegui fazer. É continuar a defender o que acredito ser certo para mim como pessoa, para que eu possa estar pronto e estar lá para minha banda, para que eu possa estar pronto e estar lá para minha família e meus filhos, para que eu possa estar pronto e estar lá para os fãs e ser alguém que é digno de subir naquele palco e falar uma mensagem de esperança, pegar a minha dor e transformá-la em um propósito. E acho que ser corajoso o suficiente para assumir uma postura por mim mesmo dessa forma me deu uma oportunidade de aprender como eu cuido de mim mesmo.
O que eu coloco no meu corpo, a comida que eu como. Açúcar me deixa deprimido. Açúcar é como depressão instantânea para mim. Além disso, exercícios físicos são outra coisa em que continuo me jogando. Uma manutenção espiritual diária do meu corpo, minha mente e meu espírito. Estou dedicado nisso. E eu leio isso [mostra uma bíblia]. Você sabe o que é? É uma Bíblia. Eu leio diariamente. Eu não forço minha opinião nas pessoas. Eu só sei que funciona para mim. E também o que eu permito na minha mente, que tipo de programação eu permito na minha mente, no meu coração, que tipo de televisão, que tipo de mídia, que tipo de filme eu assisto. Eu escolho não assistir muita coisa, eu sou como um ser sensível de certa forma. E eu sei como essas coisas me afetam a longo prazo.
Então eu tenho estado em um processo dos últimos doze anos de me desprogramar das coisas que o mundo me ensinou, porque não é. Eu não consigo seguir o mundo. Eu não consigo. Então essas são as coisas que me permitem ter alguma saúde mental.
Eu acho muito legal como você usa sua voz para coisas boas. Temos que falar sobre a música “Leave a Light On”, uma colaboração com Carrie Underwood. E vocês estão doando os royalties para a campanha “Talk away the dark”. Para aqueles que não conhecem essa campanha, você pode falar um pouco sobre ela?
Sim. É uma parceria com a Fundação Americana para Prevenção do Suicídio. E é uma organização que ajuda pessoas que estão tendo dificuldades. Também tem serviços para pessoas que foram deixadas para trás por pessoas que morreram por suicídio e as ajudam a lidar com o luto e tem grupos de apoio. Eu acho que é importante que as pessoas saibam que há quem possa ajudar. Às vezes não sentimos que temos alguém em nossa família a quem podemos recorrer, ou talvez sintamos que não podemos recorrer aos nossos amigos. A fundação americana também é parceira de um número na América. É o 988. Então você simplesmente disca esse número, e alguém do outro lado da linha te atende e ouve você. E te escuta.
E eu acho que essa mensagem de esperança que eles estão trazendo para as pessoas é importante. O suicídio é uma das principais causas de morte no mundo. Isso é terrível. E eu quero usar essa música para inspirar esperança, porque eu perdi amigos, perdi familiares para o suicídio, muitos deles. E então esse trabalho é importante. É um trabalho que continuarei a fazer e a fazer parte. Eu tenho falado sobre isso desde o nosso primeiro single, “Last resort”.
Aquela música era um pedido de ajuda. Eu conheci pessoas na estrada, cara a cara desde 2000, que nos disseram o quanto nossa música tem sido uma fonte de força e esperança para elas. E eu quero continuar essa mensagem. Eu quero pegar a dor e transformá-la em propósito. Eu acho que é importante para mim pegar as coisas com as quais eu luto emocionalmente, pessoalmente, espiritualmente, e transformá-las em meus pontos fortes. Porque se eu apenas permitir que a escuridão me derrube, me destrua e me desgastar, não é um bom lugar para estar.
E então eu vejo tantas pessoas por aí passando dificuldades que eu acho que é importante levar essa mensagem para as pessoas.
E como você decide o que compartilhar com seus fãs por meio da música?
Eu compartilho tudo. Acho que é isso. Eu sou um livro aberto há anos, e acho importante ser vulnerável com a forma como interajo com o mundo e como lido com a batalha da mente. Acho que me ajuda a entender quando escrevo sobre isso. É como se pegasse esse momento e eu colocasse em uma música, e então eu amadurecesse. E eu chego a um entendimento e a uma paz com isso. Eu amo esse processo.
Eu amo esse processo de pegar a escuridão e transformá-la em luz. Eu sinto que essa transformação… eu não quero ficar do jeito que eu sou. Eu quero continuar a evoluir e evoluir como homem, como escritor, como criador. Sabe, eu sou bem-sucedido às vezes, e sou um fracasso total em outras vezes, mas está tudo bem. Eu acho que estou disposto a me expor e ser vulnerável e apenas ser real. Tem muita gente por aí vendendo besteira. Eu não vou ser uma delas.
E falando sobre sua música, você é pai, e sua música também se conecta com diferentes gerações. Falar com seus filhos, suas conversas com eles, ajudam você a interagir com públicos mais jovens? Porque seus shows são cheios de diferentes gerações na multidão.
Ah, sim. Criar meus filhos tem sido minha maior alegria e um dos meus maiores desafios da vida. Ser capaz de ser pai e mentor desses jovens. Um deles tem 22 anos, o outro está prestes a fazer 20 em alguns dias, e tenho um de dez anos. E acho que a disposição de ser aberto e vulnerável abriu um diálogo entre mim e meus filhos onde eles podem vir até mim sobre qualquer coisa, não importa o quê. Eu disse aos meus filhos: “Não importa o que esteja acontecendo, bom, ruim ou desagradável, e você sente que precisa se abrir sobre isso, nunca tenha medo de vir até mim. Nunca tenha medo. Talvez eu não vá te dizer exatamente o que você quer ouvir, mas às vezes um pouco de amor com disciplina é bom, sabe?”. E acho que aprendi muito sendo pai. Me tornou uma pessoa melhor, de verdade.
E eles me inspiram. É como se às vezes eu pegasse a dor e a luta deles e colocasse em músicas. Nem sempre é sobre mim. Às vezes, escrevo sobre o que meu filho está passando, e acho que essa música é sempre um reflexo honesto da vida.
Aposto que significa muito para eles ver como inspiram você. E você pode enviar uma mensagem para seus fãs brasileiros?
Brasil, aqui é o Jacoby do Papa Roach. Vocês sabem que eu amo vocês. Vocês sabem que mal posso esperar para ver vocês. Toda vez que vejo mensagens com “venha para o Brasil”, isso me anima. E agradeço a vocês por ouvirem a nossa música. Agradeço a vocês por nos apoiarem por todos esses anos, e mal posso esperar para ver vocês aí.