A empresa Wisley A. de Sousa Ltda, principal vencedora do leilão para a compra de 300 mil toneladas de arroz importado, disse ter “solidez e experiência” para atender o contrato.
A companhia, cujo nome fantasia é “Queijo Minas”, arrematou o maior lote do certame realizado na quinta-feira 6, para importar 147,3 mil toneladas do grão. Em troca, receberá R$ 736,3 milhões do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A vitória da empresa registrada em nome de Wisley no leilão milionário vinha sendo questionada pelo fato do estabelecimento ser voltado para a venda de queijos na região central de Macapá, no Estado do Amapá.
Em nota divulgada pela assessoria de imprensa, a Wisley A. de Sousa Ltda afirma ter mais de 17 anos de experiência no comércio atacadista, armazenagem e distribuição de produtos alimentícios em todo Brasil. A empresa destacou que é capacitada e está pronta para acelerar a importação de arroz.
A empresa afirmou ter assumido o compromisso “ciente de que a importação é necessária para reduzir o preço final ao consumidor” e que cumprirá o cronograma de fornecimento do arroz estabelecido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e que cumprirá rigorosamente as normas de controle e qualidade.
A Queijo Minas tem agora capital social de R$ 5 milhões, segundo informações da Receita Federal. Porém, dias antes do leilão, no dia 24 de maio de 2024, o capital social era de R$ 80 mil.
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Na nota, a empresa afirmou ter alcançado faturamento superior a R$ 60 milhões em 2023, mas não explicou a mudança do valor do capital social dias antes do leilão.
Disse, ainda, que seus resultados financeiros vêm crescendo a cada ano “com a ampliação do leque de marcas alimentícias que a empresa representa e distribui no Norte do país”.
“A empresa lamenta que grupos com interesses contrariados estejam tentando afetar sua imagem e deturpar a realidade num momento em que é essencial o país encontrar formas de assegurar o abastecimento de arroz para a população”, diz a nota.
“Por isso, a Wisley está disposta a acelerar a importação de modo que o consumidor final não seja penalizado com o aumento que pode chegar de até 40% no preço do arroz aos brasileiros”, acrescenta o texto.
ASR Locação de Veículos e Máquinas Ltda
A ASR Locação de Veículos e Maquinas Ltda, empresa responsável por arrematar o terceiro maior lote no leilão, de R$ 112 milhões, disse que as críticas sobre não ter como atividade principal o transporte de grãos são uma forma de “boicote” por parte das grandes empresas em relação às pequenas que foram bem-sucedidas no certame. As declarações foram dadas ao portal Poder360.
O empreendimento tem como atividade principal o aluguel de máquinas, equipamentos industriais e veículos para órgãos públicos municipais.
“Ninguém nasce grande. A crítica é porque somos pequenos, então por que as grandes não entraram [no leilão]? Ora, porque o agronegócio está contra isso, eles boicotaram, não entraram no leilão e pensaram que ele não seria realizado, mas foi”, disse o proprietário da ASR, Crispiniano Espíndola Wanderley, ao Poder360.
A locadora, com sede em Brasília, tem capital social de R$ 5 milhões e tem 45 funcionários. Está enquadrada no Lucro Presumido, indicando faturamento anual de R$ 4,8 milhões a R$ 78 milhões.
O empresário informou à reportagem que já está em negociação com produtores tailandeses e vietnamitas para efetuar a compra do grão e que no início da próxima semana deve pagar os 5% de garantia ao governo, no valor de R$ 5,6 milhões. No entanto, ele não esclareceu como o pagamento será feito.
“Somos iniciantes, mas tudo tem que ter a primeira vez. Somos pequenos, mas não podemos ter o espírito pequeno”, afirmou Wanderley.
A ASR pretende fechar parceria com transportadoras locais para a logística do arroz no Brasil. Os lotes adquiridos chegarão aos portos de Ceará e Pará, uma distância de, no máximo, 70 km para onde ele precisará destinar o produto.
Wanderley analisa uma possível participação no novo leilão previsto para quinta-feira, 13.
“O governo vai pagar R$ 5, mas o arroz chegará no porto para a gente a mais ou menos R$ 4,30, talvez R$ 4,50”, disse. “A margem é muito pequena, o volume é grande, mas o lucro é pouco.”
Mesmo assim, disse ter sido vantajoso participar do primeiro leilão. “A gente vive de oportunidade”, afirmou.
O deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) acionou o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para apurar possíveis irregularidades no certame.
Nas petições entregues na sexta-feira, 7, van Hattem alega haver indícios de fraude para restringir a competitividade do certame. Disse se tratar de “um esquema que envolve muito dinheiro com empresas que nunca tiveram capacidade para importar o cereal”.
O deputado afirmou que se reunirá na segunda-feira, 10, com o presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), Fernando Quadros, para tentar anular o resultado do leilão.
Quadros autorizou o certame depois de revogar a liminar da 4ª Vara Federal de Porto Alegre, que havia suspendido o leilão. Em seu despacho, o presidente do tribunal decidiu que a suspensão da licitação causaria “grave lesão à ordem público-administrativa.”
Conab diz que Bolsas de Mercadorias devem avaliar empresas
A Conab afirmou na sexta-feira 7 que é responsabilidade das Bolsas de Mercadorias avaliarem as empresas vencedoras do leilão.
O comunicado foi publicado depois de veículos de imprensa noticiarem que uma das empresas vencedoras do pregão milionário vende queijos no Amapá.
A Conab disse que as associações privadas atuam como intermediárias no processo de leilão.
O leilão
Ao todo, quatro empresas venceram o leilão de arroz realizado pelo governo Lula na quinta-feira 6 para a compra de 300 mil toneladas de arroz importado. Dos 28 lotes, 11 não tiveram interessados. Os 17 lotes, arrematados pelas quatro empresas, totalizaram 263 mil toneladas de arroz e mais R$ 1,3 bilhão.
A disputa foi promovida pela Conab para garantir o fornecimento de arroz no país por causa das enchentes no Rio Grande do Sul. O Estado responde por cerca de 70% da produção nacional do grão.
Entretanto, produtores rurais e analistas afirmam que a compra é desnecessária porque a maior parte do arroz foi colhida antes das chuvas e que vai atrapalhar a produção nacional.