O uso de bonés azuis com a frase “O Brasil é dos brasileiros” por integrantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — incluindo o próprio presidente, que publicou um vídeo com o acessório nesta terça-feira, 4 — alterou a rotina da Jr. Bordados, que passou a comercializar as peças um dia depois de a estratégia da gestão petista viralizar nas redes. A reportagem é do jornal O Globo.
Desde que a estratégia da gestão petista viralizou nas redes sociais, a empresa familiar de Irajá, no Rio de Janeiro, afirma já ter vendido cerca de 700 unidades do produto e estima uma receita de R$ 35 mil em dois dias.
Os proprietários da marca, Vitória Gonçalves e Marcelo Júnior, começaram a comercializar o modelo usado por ministros de Lula logo depois da eleição da nova cúpula do Congresso.
A frase estampada nos bonés foi uma sugestão do novo ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Sidônio Palmeira, e foi pensada para fazer um contraponto ao famoso boné vermelho da campanha de Donald Trump nos Estados Unidos, que traz o slogan “Make America Great Again”.
Vitória e Marcelo também foram responsáveis pelo design do boné preto com a inscrição “CPX”, usado por Lula durante a campanha presidencial de 2022. Segundo Júnior, a ideia de vender o novo boné azul surgiu depois de um contato do jornalista Rene Silva.
“O Rene Silva me mandou a frase e pediu que eu fizesse o boné como o usado pelos membros do governo Lula no dia anterior”, disse Júnior em entrevista ao jornal O Globo. “Ele postou nas redes sociais e passaram a chegar muitos pedidos. Aumentamos a nossa equipe para suprir a demanda.”
Procurado pelo jornal O Globo, Silva disse que não teve envolvimento na criação do boné azul usado pelo presidente nesta semana, tendo atuado apenas no meio de campo entre o governo e a gráfica no caso do boné com a sigla “CPX” nas eleições de 2022.
O boné foi entregue a Lula por líderes comunitários durante uma visita ao Complexo do Alemão. À época, nas redes sociais, internautas lançaram diversas teorias sobre o termo. Alguns disseram que a sigla é uma abreviação de “complexo”, como são chamados os conjuntos de favelas cariocas. Outros afirmaram que o acrônimo se refere à “cupincha” e é utilizado por criminosos.
As duas versões estão corretas, apesar de setores da imprensa terem qualificado como “mentirosos” aqueles que disseram que “CPX” é usado como pronome de tratamento por bandidos.
O “CPX”, entendido como abreviação para “complexo”, refere-se de fato aos conjuntos das favelas cariocas. O termo é usado pelos moradores locais, pela polícia e pelo governo. A sigla aparece na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2023 do Estado do Rio de Janeiro.
A sigla também é usada entre os bandidos, segundo acórdãos (decisões proferidas por juízes em segunda instância) aos quais a reportagem teve acesso. Um documento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, por exemplo, mostra que “CPX” significa “cupincha”, ou seja, indivíduo com quem se tem amizade, companheirismo, camaradagem.
Lula entra em “guerra dos bonés”
Na segunda-feira 3, parlamentares da oposição usaram um boné com a frase “Comida barata novamente, Bolsonaro 2026” e gritaram “nem picanha, nem café”, com a carne embalada nas mãos, em referência a alimentos que puxam a alta da inflação.
O movimento ocorreu em resposta a ministros da gestão petista e aliados, que adotaram o acessório de cor azul.