sábado, junho 14, 2025
InícioDestaqueEm áudio, Cid critica condução da delação pela PF, revela Veja

Em áudio, Cid critica condução da delação pela PF, revela Veja

Um áudio inédito obtido pela revista Veja e divulgado nesta sexta-feira, 13, revela que o tenente-coronel Mauro Cid, enquanto colaborador da Justiça, fez acusações contra a Polícia Federal (PF) e sugeriu manipulação em seu processo de delação premiada.

A gravação foi enviada por meio do perfil de Instagram @gabrielar702, utilizado de forma desautorizada por Cid para se comunicar com interlocutores durante o período em que estava legalmente proibido de utilizar redes sociais.

A informação integra um conjunto de mais de 200 mensagens trocadas entre 29 de janeiro e 8 de março de 2024. Na gravação, Cid descreve e critica a condução dos depoimentos pelos investigadores da PF.

“Aí ele falava: ‘Nós temos outras informações’. Eu falei: ‘Porra, então vocês me passam as informações para eu poder saber’. ‘Por quê?’ ‘Porque esse telefonema que você falou aqui, foi uma das 100 ligações que eu recebi nesse dia, eu não vou lembrar’. Aí ele falou assim: ‘Mas isso é um ponto-chave’. Eu falei: ‘É um ponto-chave para você. Tem todo ponto, tudo aqui é ponto-chave que você está dizendo. Mas para mim não é”, diz o tenente-coronel no áudio.

Além das mensagens e áudios, Cid também teria compartilhado imagens pessoais, inclusive selfies tiradas em sua residência, vídeos e links de reportagens críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em uma das mensagens, ele relata: “Só durmo por exaustão, e às 5:00 já acordo esperando a PF”, revela. “E para ver as notícias, para ver o que vão falar de mim.”

O material sugere que, mesmo depois da homologação do acordo de colaboração premiada pelo ministro Alexandre de Moraes, Cid manteve conversas com terceiros nas quais tratava do conteúdo de seus depoimentos, criticava os investigadores e avaliava estratégias de defesa.

Segundo ele, seus advogados, Cezar Bitencourt e Jair Alves Pereira, trabalhavam com a hipótese de uma pena branda. “Dr Cezar acha que vou ganhar os dois anos…”, escreveu. “Foi o que pedimos depois do perdão total, para eu não ser expulso do EB [Exército Brasileiro].”

Em outro trecho, Cid afirma que Pereira acredita que não há materialidade contra ele. “Ele diz que não existe materialidade em nada, mas que o problema não é jurídico, é político”, revela. “Se fosse na primeira instância, tudo já estaria enterrado pelo tamanho abuso que estão fazendo com a minha vida para pegar o PR”, em referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Cid nega uso de redes sociais durante depoimento ao STF

As mensagens contradizem declarações feitas pelo delator em depoimento prestado no STF. Ao ser perguntado pelo advogado Celso Vilardi, da defesa de Bolsonaro, se teria usado redes sociais para tratar de sua colaboração, Cid negou.

“Quero saber se ele fez uso em algum momento para falar de delação de um perfil no Instagram que não está no nome dele”, perguntou Vilardi. Cid respondeu negativamente. Indagado novamente — “Ele nunca usou perfil de mídia social para falar com ninguém?” — voltou a negar. Ao ouvir a menção ao perfil @gabrielar702, hesitou: “Esse perfil, eu não sei se é da minha esposa”.

A defesa de Cid, diante da repercussão das revelações, apresentou ofício ao STF em que alega que as mensagens são “uma miserável fake news” e afirma que o perfil citado “nunca é e nunca foi utilizado por Cid”.

Segundo a manifestação, apesar da coincidência com o nome da mulher do militar, “com ela não guarda qualquer relação”. Ainda na quinta-feira, 12, a defesa solicitou que o perfil fosse investigado.

Alexandre de Moraes, durante sessão da 1ª Turma do STF - 11/02/2025
Alexandre de Moraes, durante sessão da 1ª Turma do STF – 11/02/2025 | Foto: Foto: Gustavo Moreno/STF

Nesta sexta-feira, 13, Cid foi levado a depor na sede da PF por suspeita de tentar fugir do país com um passaporte português, que teria sido providenciado com a ajuda do ex-ministro do Turismo, Gilson Machado, preso no mesmo dia. Durante esse depoimento, Cid teria aproveitado para reiterar a negativa de vínculo com o perfil do Instagram.

Em resposta ao episódio, Moraes determinou que a empresa Meta, controladora do Instagram, forneça em 24 horas todos os dados do perfil @gabrielar702. A apuração poderá confirmar ou descartar o envolvimento direto do delator com a conta.

A utilização do perfil em redes sociais durante a vigência do acordo de colaboração pode implicar consequências graves para Cid, inclusive a rescisão do acordo. Pelas regras pactuadas, o colaborador deve se abster de omitir informações, mentir, proteger investigados ou violar cláusulas de confidencialidade.

Caso a delação seja anulada, Cid volta a responder aos mesmos crimes atribuídos aos demais réus e pode ser condenado a até 40 anos de prisão. A revelação se soma a outro conjunto de mensagens já noticiado anteriormente por Veja, em que Cid discutia estratégias com pessoas próximas e fazia comentários sobre Moraes.

Via Revista Oeste

MAIS DO AUTOR

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui