sexta-feira, novembro 22, 2024
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Elon Musk e seu projeto para a humanidade em Marte

Quem conhece Elon Musk (mesmo que à distância, como a maioria de nós) sabe bem que o principal projeto do bilionário sul-africano é colonizar Marte. Para isso, ele usa sua empresa espacial, a SpaceX.

No último ano, Musk, que está com 53 anos, intensificou seus projetos sobre o que será feito no Planeta Vermelho ao chegarmos lá. O The New York Times teve acesso a documentos que mostram o que Musk pediu a seus funcionários quando se trata de Marte, como se aprofundarem no design e detalhes de uma cidade marciana.

Uma equipe vem trabalhando em planos para pequenos habitats em formato de domo, e também estão analisando quais materiais poderiam ser utilizados para construí-los.

Outro grupo se concentra nos trajes espaciais e uma equipe médica pesquisa se podemos ter filhos lá. Musk até foi além, oferecendo seu esperma para auxiliar na colonização do planeta, conforme duas fontes do periódico.

Cybertruck
Musk imagina o Tesla Cybertruck como o “veículo oficial” dos colonizadores marcianos (Imagem: Divulgação/Tesla)

O bilionário já pensa em Marte desde sua infância, mas seu cronograma foi alterado, pois, em 2016, ele afirmou teríamos uma civilização autossustentável por lá entre 40 a 100 anos. Já em abril, ele disse a funcionários da SpaceX espera um milhão de pessoas vivendo no Planeta Vermelho em cerca de 20 anos.

“Há grande urgência em tornar a vida multiplanetária. Temos que fazer isso enquanto a civilização é tão forte”, disse ele em vídeo postado publicamente de suas observações. Ele está tão obcecado pelo projeto que já afirmou querer morrer no planeta.

Elon Musk e o papel de suas empresas na colonização de Marte

  • A visão de Musk sobre Marte fundamenta a maioria das seis empresas detidas por ele;
  • Segundo os documentos e fontes, cada uma delas poderia, potencialmente, contribuir com a criação de colônias no Planeta Vermelho;
  • Um exemplo é a empresa de construções de túneis de Musk, a Boring Company, que tem, em parte, obrigação de preparar equipamentos para escavar a superfície marciana;
  • Musk teria dito a algumas fontes que comprou o X, em parte, visando testes sobre como um governo liderado por cidadãos que governam por consenso funcionaria em Marte;
  • Ele também imagina os colonizadores marcianos dirigindo Cybertrucks por lá;
  • O bilionário, que possui fortuna aproximada de US$ 270 bilhões (R$ 1,46 trilhão, na conversão direta), disse que só acumula ativos para financiar seu projeto para Marte.

“É uma maneira de levar a humanidade a Marte, porque estabelecer uma cidade autossustentável em Marte exigirá muitos recursos”, disse Musk, em 2022, durante julgamento sobre seu salário na Tesla.

O Times rememora que é discutível se ele conseguirá concretizar seu plano de colônia em Marte ainda vivo.

Robert Zubrin, engenheiro aeroespacial que conhece Musk há 20 anos, e autor do livro “The Case for Mars” afirmou que “você não pode, simplesmente, pousar um milhão de pessoas em Marte”, além de que a colonização do planeta se desenvolveria ao longo de décadas.

O engenheiro aeroespacial entende ainda que Musk deixou seus planos marcianos um pouco de lado em prol de sua liderança no X, apesar de Linda Yaccarino ser a CEO da empresa. Musk é constantemente criticado por estar disperso entre as empresas que dirige.

Por exemplo, muitos acionistas da Tesla estão incomodados com o tempo que o dono da montadora de veículos elétricos vem dispendendo no X.

Fontes do periódico estadunidense afirmaram que pouco foi divulgado pela SpaceX sobre a expedição rumo à Marte (o máximo que temos são dois desenhos básicos de uma colônia datados de meados de 2018) porque a empresa vai enviar, primeiro, um foguete à Lua, sob contrato com a NASA.

Renderização de possível Base Alfa em Marte (Imagem: SpaceX)

Em sua investigação, o Times entrevistou 20 pessoas próximas a Musk e à SpaceX, além de revisar documentos internos, e-mails, publicações em redes sociais e documentos legais.

Mesmo os mais próximos estavam céticos que o bilionário conseguiria construir uma cidade marciana em vida. Uns pensam que ele só queria superar Jeff Bezos, dono da Amazon, que imagina humanos em estações espaciais gigantes em todo nosso Sistema Solar.

Outros, por sua vez, indicaram que Musk criou cronograma agressivo para que seu sonho se torne realidade logo (fazendo com que seus funcionários trabalhassem mais). Uns apontam que os desenhos da colônia são chamados de “pacote de propaganda”.

Nem Musk, nem SpaceX, quiseram comentar, diretamente, a reportagem. Porém, o bilionário publicou no X que não ofereceu seu esperma e não direcionou ninguém na SpaceX para trabalhar em uma cidade marciana: “Quando as pessoas pediram para fazer isso, eu disse que precisávamos nos concentrar em chegar lá primeiro”, ressaltou.

Musk e sua obsessão por Marte

Tudo começou quando o empresário tinha dez anos e leu o romance de ficção científica de Isaac Asimov, “Fundação”, de 1951, no qual o protagonista constrói uma colônia em uma galáxia visando salvar a humanidade da queda de um império estelar.

Eles encontram um planeta muito distante do centro galático e tentam preservar o conhecimento humano e a civilização lá, enquanto o centro da galáxia meio que desmorona.

Elon Musk, sobre “Fundação”, em entrevista concedida em 2013

Em 2001, ele tentou comprar um foguete russo para ir à Marte, afirmou Jim Cantrell, ex-funcionário da SpaceX que foi ao país europeu com o empresário. Porém, após três viagens, os russos não quiseram vender o foguete.

Um ano depois, ele fundou a SpaceX, que, logo, construiu foguetes parcialmente reutilizáveis e assinou contratos com o governo, incluindo com a NASA. Posteriormente, veio a Starlink, serviço de internet via satélite disponível no mundo todo (equem sabe em Marte, um dia?).

Visando o Planeta Vermelho, foi construída a Starship, foguete que, originalmente, vai levar astronautas da NASA para a Lua, mas que também pode transportar pessoas à Marte e, até, ser usada como pequena estação espacial.

Três fontes disseram que uma versão melhorada da Starship poderia oferecer espaço de convivência em seu nariz. Imaginam-se alojamentos em diversos andares, com direito a pista de corrida e cinema.

Em fala no Congresso Internacional de Astronáutica de 2016, Musk disse que seu foguete pode levar 100 pessoas por vez para o Planeta Vermelho, em viagens que seriam realizadas a cada dois anos. A NASA estima que uma viagem ao planeta duraria até nove meses.

Renderização de futura atualização da Starship (Imagem: SpaceX)

Documentos de 2018 de uma reunião entre engenheiros da SpaceX e pesquisadores para discutir a tecnologia necessária para sobrevivência em Marte mostram tópicos, como coleta de gelo para criar água e seleção da melhor região para construção de colônias.

Colônias marcianas

Musk também já deu vários insights sobre como ele pensa que as pessoas viveriam(ão) no Planeta Vermelho. Um dos principais assuntos relacionados ao tema trata da continuidade da vida no planeta, já que, a princípio, crianças não poderão viajar para lá por conta dos riscos, mas o bilionário acredita que elas poderão viver lá posteriormente.

Na entrevista de 2013, ele afirmou esperar criar sua própria espécie lá fora, ideia essa repetida ao longo dos anos a pessoas próximas e a funcionários da SpaceX.

Acho que é bem provável que queiramos fazer bioengenharia de novos organismos que sejam mais adequados para viver em Marte. A humanidade meio que fez isso ao longo do tempo, por meio de uma espécie de reprodução seletiva.

Elon Musk, em entrevista concedida em 2013

Ele também pensa sobre como aquecer os “humanos-marcianos” (a temperatura média por lá é de −60 °C). Em entrevista concedida em 2022, Musk afirmou que enfrentaria as temperaturas geladas do planeta a partir de várias explosões termonucleares que aqueceriam Marte, criando sóis artificiais.

Posteriormente, centenas de painéis solares construídos, provavelmente, pela Tesla, auxiliariam a aquecer as casas e a criar energia, informaram três fontes do Times.

Nos meses mais recentes, esses pronunciamentos e ideias passaram a ganhar contornos concretos graças à equipe da SpaceX. Os responsáveis pelo design industrial vem criando e atualizando renderizações de uma futura cidade, segundo fontes.

A colônia se concentraria em cúpula gigante voltada para vida em comunidade, com cúpulas menores espalhadas em seu entorno. Contudo, ultimamente, eles estão se concentrando nos materiais a serem usados nas cúpulas, pois Musk quer que elas pareçam “legais”.

O Times obteve um desenho interno, no qual vemos uma família com crianças pequenas em pé em um bairro residencial e olhando para as estrelas.

Em abril, o bilionário garantiu a seus funcionários da empresa aeroespacial que a colônia marciana seria autossustentável, algo útil caso acontecesse à Terra e os foguetes não conseguissem mais chegar em nosso planeta natal.

Para tanto, a Starship serviria como uma espécie de Arca de Noé, com plantas e animais sendo levados em sua primeira viagem à Marte, segundo fontes internas. Então, os colonizadores construiriam estufas marcianas para cultivo de alimentos.

Nesse sentido, a SpaceX costurou parceria com a Impossible Foods, empresa de carne alternativa à base de plantas, visando fornecer alimentos nos refeitórios da companhia, bem como testar esses alimentos como fonte de proteína para os colonizadores.

Representação de colônia em Marte (Imagem: SpaceX)

Proteção

Engana-se quem pensa que Musk está sozinho na crença da colonização de Marte na SpaceX. Documentos e fontes internas apontam que mais de 12 mil funcionários acreditam que isso possa se tornar realidade.

Inclusive, alguns deles costumam ir trabalhar com camisetas com frases, como “Occupy Mars” e “Rocket Parent”, além de dar sugestões sobre a colônia marciana em um site interno. Uma das ideias recentes se trata de construí-la na lateral de uma cratera gigante. Muitos desses funcionários vêm trabalhando mais de 100 horas semanais.

Um dos locais utilizados para trabalhar no projeto localiza-se em Boca Chica (República Dominicana), em complexo industrial denominado Stargate. O espaço é comparado a um cassino de Las Vegas por não possuir janelas e ser impossível saber se é dia ou noite.

Além disso, ex e atuais trabalhadores do complexo alegam que não há protocolos básicos de segurança, como fita de advertência próximo e ao redor de equipamentos perigosos.

Alguns funcionários aparentam não se incomodar com as recentes queixas de assédio sexual na empresa e afirmam valer a pena trabalhar lá em prol da colonização de Marte.

Um e-mail de despedida de uma ex-gerente acessado pelo Times traz informações de horas e condições “brutais”, especialmente para aqueles que são pais. Mesmo assim, ela disse que a SpaceX é “lugar surpreendente” e não “trocaria essa experiência por anda”.

Antigamente, segundo fontes, Musk visitava bastante as instalações de Boca Chica – uma vez por semana. Mas, agora, desembarca lá cerca de uma vez por mês. Algumas delas acontecem no meio da noite e ele aparece acompanhado de seu filho pequeno, X Æ A-12.

Mesmo assim, ele segue firme ao acreditar que consegue levar humanos ao Planeta Vermelho em pouco tempo. Em maio, um funcionário da NASA confirmou que a agência não imagina que pousemos no solo marciano antes da década de 2040.

Porém, no mesmo mês, Musk disse, no X, que que levaria menos de dez anos para isso acontecer e que haveria uma cidade em Marte em cerca de 20 anos. E acrescentou: “Com certeza, em 30, a civilização estaria assegurada.”

Starships atracadas em Boca Chica (República Dominicana) (Imagem: luckyluke007/Shutterstock)

Via Olhar Digital

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