“Quem é campeão de perder eleição é você”. A frase de Jilmar Tatto (PT), então candidato à Prefeitura de São Paulo, para Celso Russomanno (Republicanos) quatro anos atrás, em 2020, marcava uma ideia introjetada na cabeça dos marqueteiros eleitorais.
O embate na TV Cultura marcaria a última eleição em que Russomano tentaria ser escolhido para comandar a capital paulista.
Deputado federal no sétimo mandato, ele está desde 1994 em Brasília defendendo a pauta dos direitos do consumidor, reproduzida quase que diariamente em seus programas de televisão.
Candidato em três eleições — 2012, 2016 e 2020 –, o político está fora do páreo pela primeira vez nos últimos 12 anos. Ele e o partido decidiram apoiar o atual prefeito, Ricardo Nunes, do MDB.
“Não serei candidato. Dentre os candidatos que se apresentam, ele [Nunes] é o mais ponderado, mais tranquilo, não tem culturas radicais. Esse antagonismo que a gente tá vivendo só atrapalha o país”, disse Russomanno à CNN.
O desempenho de Russomanno nas pesquisas eleitorais garantiu a ele palco, público e plateia durante três campanhas e interferiu inclusive nos debates e nas estratégias de campanha.
Em sua estreia como candidato à prefeito, Russomanno travaria embates com Fernando Haddad (PT) e José Serra (PSDB).
Àquela época, em 2012, a pesquisa Datafolha feita um mês antes da eleição trazia o deputado com a liderança isolada e 35% do eleitorado nas mãos. Derreteu. Terminou a eleição com menos de 22% e viu os adversários indo para o segundo turno.
Como estratégia, o PT tinha mirado Russomanno nos últimos debates. Pesou contra o deputado uma ideia de implementar uma tarifa progressiva de ônibus por quilômetro rodado.
“Ele era sempre o primeiro colocado pelo recall da aparição dele na mídia e pelo desconhecimento de outras oportunidades. O afunilamento que o segundo turno gera te obriga a escolher um adversário ideal no primeiro [turno]. Por isso, o Haddad entendeu que fazia mais sentido ter o Russomanno como adversário ideal”, afirma o marqueteiro Felipe Soutello, que participou da estratégia da campanha de José Serra em 2012.
O cavalo paraguaio dificulta o terceiro colocado a se posicionar porque o debate entre os dois primeiros acaba sendo potencializado, e os que vêm atrás acabam tendo mais dificuldade para se colocar no cenário. A campanha fica mais trabalhosa
Felipe Soutello
Em 2016, nova tentativa: Russomano largava com 33% das intenções de voto no Ibope do fim de agosto. Em queda livre, é esmagado pelo então “outsider” João Doria, que vence no primeiro turno, deixando o então prefeito Haddad em segundo. Mais uma vez amargando um terceiro lugar, Russomano termina a eleição com 13%.
Em 2020, no auge da pandemia, Russomano chega a bater 28% nas campanhas Real Time/Big Data e XP/Ipespe, mas é ultrapassado por três adversários e termina em quarto lugar, com 10% dos votos, apesar de reivindicar o título de “candidato bolsonarista” na cidade.
Para ele, há dois principais motivos que foram decisivos para as três derrotas.
Tempo de televisão e falta de condição financeira. Quando você não tem tempo de TV, não dá pra se defender. Eu saía na frente e acabava virando um grande alvo
Celso Russomanno
Com o candidato aposentado das eleições majoritárias, o efeito Russomanno não será sentido em 2024.
O Republicanos, no entanto, quer um papel na candidatura de Nunes. O presidente municipal do partido, vereador André Santos, prometeu levar currículos para a mesa do atual prefeito.
“O Russomanno não será candidato, mas nós queremos poder indicar nomes para vice do prefeito. Entendemos que o partido tem direito de reivindicar essa possibilidade. Evidentemente, a escolha final é dele, mas queremos poder contribuir também com sugestões”, afirmou à CNN.
Para quem já viveu três campanhas figurando como pedra e vidraça em debates, entrevistas e propagandas de TV, fica o aprendizado.
(As campanhas) me ensinaram primeiro a escutar para compreender o que São Paulo precisa. Quem escuta acaba tendo boas ideias. A maior lição que eu daria para os candidatos é: escutem, ouçam… A arrecadação (da cidade) é enorme mas ainda hoje o recurso não chega na ponta
Celso Russomanno
Estrategistas de campanhas ouvidos pela CNN apostam que a ausência do “efeito Russomanno” deve deixar as pesquisas mais fiéis à realidade das urnas logo no primeiro momento.
Acreditam, no entanto, que como Mappin e Mesbla, a “marca” Russomanno mais do que nunca se transformou em uma “grife em extinção”.
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