Você já encontrou aquela pessoa que parece saber tudo, mas mal consegue amarrar os próprios sapatos? Ou talvez você seja a pessoa que tira notas altas em todas as provas, apenas para se surpreender com a autoconfiança inflada dos seus colegas. Bem-vindo ao mundo do efeito Dunning-Kruger – onde quanto menos você sabe, mais você acha que sabe.
Ok, ok, os ignorantes confiantes não são exatamente uma espécie nova, sempre tivemos “ignorantes confiantes” habitando este planeta. Mas a tese é relativamente nova. O efeito Dunning-Kruger foi descoberto e descrito pela primeira vez em 1999 pelos pesquisadores David Dunning e Justin Kruger na Universidade Cornell.
Os pesquisadores perceberam como as pessoas superestimavam suas próprias habilidades na vida cotidiana e cunharam o termo “dupla carga”. Isso foi usado para descrever que as pessoas excessivamente confiantes podem sofrer de duas coisas: ignorância e também ignorância de sua própria ignorância.
Dunning e Kruger testaram os participantes em vários assuntos, incluindo humor, gramática e raciocínio lógico. Eles descobriram que as pessoas que ficaram entre os 25% mais baixos em qualquer uma dessas pontuações de teste tendiam a se colocar no topo do ranking. Quando pontuavam no 12º percentil, estimavam-se no 62º. Por outro lado, as pessoas nos 25% mais altos previam suas pontuações como ligeiramente inferiores ao que realmente eram.
As análises desses resultados atribuíram as discrepâncias na autoavaliação à habilidade metacognitiva (a capacidade de pensar sobre o próprio pensamento). Na prática, melhorar as habilidades dos participantes em humor, gramática e raciocínio lógico ajudou-os a reconhecer as limitações de suas próprias habilidades e prever melhor suas próprias pontuações em testes subsequentes.
Só que imagina este fenômeno maluco em outras situações. Imaginou?
Exemplo 1 – Dunning-Kruger no trabalho
Em um estudo feito nos Estados Unidos, 42% dos funcionários de uma empresa de engenharia de software de alta tecnologia avaliaram seu próprio desempenho como estando entre os 5% melhores. Claro, isso é matematicamente impossível. No entanto, é importante porque mostra as oportunidades de aprendizado e crescimento que podemos perder no mundo corporativo.
Se 42% dos seus funcionários acham que 95% da empresa opera em níveis abaixo deles, isso significa que 42% dos funcionários não aproveitarão as oportunidades para aprender com aqueles que realmente estão no top 5%. Pronto, foi estabelecido o caos! Eles podem pensar que sabem tudo e, portanto, perder oportunidades de crescer e desenvolver suas habilidades.
Enquanto isso, se os verdadeiros 5% melhores não se veem como particularmente talentosos, podem perder oportunidades de liderança, como desenvolvimento profissional, programas de ensino ou até mesmo mentoria para novos funcionários. A autoconsciência do desempenho dos funcionários pode impactar significativamente o crescimento e desenvolvimento da empresa.
Exemplo 2 – Dunning-Kruger na estrada
Estudos mostraram que cerca de 80% das pessoas se classificam como “motoristas acima da média”, uma estatística que (novamente) é matematicamente impossível.
Um senso inflado de habilidade ao dirigir pode fazer com que motoristas tomem decisões precipitadas e se envolvam em acidentes. Novatos reais – aqueles com menos de seis meses de experiência na direção – têm oito vezes mais probabilidade de se envolver em um acidente. Isso não se deve necessariamente apenas à falta de habilidade como motoristas, mas também ao excesso de confiança.
Pensar que têm mais controle sobre o volante do que realmente têm faz com que tomem decisões imprudentes na estrada, levando a um número alarmante de acidentes e aumento das taxas de seguro. No entanto, se considerarmos apenas a falta de habilidade, o número desses acidentes poderia diminuir significativamente.
O efeito Dunning-Kruger é um fenômeno que ilustra que aqueles que estão excessivamente confiantes em suas habilidades podem não ser os melhores, enquanto aqueles que acreditam ser medianos, ou até mesmo um pouco abaixo, frequentemente demonstram grande habilidade. Também é importante lembrar que o efeito Dunning-Kruger foi questionado, e muitos acadêmicos agora acreditam que é um artefato estatístico, em vez de um efeito psicológico real. Será?
Como o Efeito Dunning-Kruger impacta as empresas e a sua vida no trabalho?
O ignorante confiante pode causar grandes problemas no ambiente corporativo, talvez no mercado de trabalho, quiçá na economia como um todo. Eita nóis!
Olha o tamanho do estrago:
- Decisões ruins: funcionários se achando experts tomam decisões malucas, ignorando conselhos de quem realmente entende.
- Contratações e promoções desastrosas: candidatos superconfiantes enganam gestores e são promovidos sem merecer, causando caos.
- Resistência a feedback: quem acha que sabe tudo não aceita críticas, prejudicando o próprio crescimento e a colaboração da equipe.
- Impactos financeiros: investidores inexperientes superestimam suas habilidades e causam prejuízos financeiros com decisões erradas.
Resultado? Muito achismo, pouca competência!
Então, como combater o Efeito Dunning-Kruger nas empresas?
Eu fiz uma listinha de como as empresas podem fazer para reduzir os danos do Efeito Dunning-Kruger. Se liga:
- Criar uma cultura real, eu disse, REAL de feedback: incentive os funcionários a aceitarem críticas construtivas sem drama.
- Avaliações de desempenho sempre que der, ou o mais frequente possível: use métricas claras e objetivas para que todos saibam onde estão pisando.
- Treinamentos e desenvolvimento: ajude os queridos funcionários a reconhecerem suas limitações e a melhorar suas habilidades.
- Valorize as sandálias da humildade: procure líderes que sabem que não sabem tudo e estão sempre dispostos a aprender.
- Busque conselhos de especialistas: antes de tomar grandes decisões, encoraje os funcionários a consultarem quem realmente manja do assunto, pô.
Assim, todo mundo ganha: menos ego inflado e mais competência!
Vamos ser sinceros: ninguém quer um ambiente cheio de “sabe-tudo” que não sabe nada.
Combatendo o Efeito Dunning-Kruger, as empresas podem criar uma equipe mais autoconsciente, colaborativa e eficaz. Reconhecer e mitigar esse viés é essencial para o sucesso a longo prazo.
Esse efeito está em toda parte, do mundo financeiro ao médico. Não podemos nos perder em só ter as ideias (elefante) e achar que nossas ideias são as melhores, e ter pouco trabalho em entender e fazer acontecer (limonada).
Pronto, achei o resumo: muito elefante e pouca limonada. A receita é Elefante e Limonada equilibrado para não se perder.
O primeiro passo de verdade para melhorar é admitir o que você não sabe.
Afinal, quanto mais você sabe, mais percebe que não sabe nada. Fala a verdade, você já sabia que não sabia nada, só não conseguia admitir. (rindo sozinho aqui).
Só sei que nada sei, já diziam uns pensadores por aí.
* Especialista de Inovação e criador do canal Elefante Limonada
Fontes:
[1] https://www.scientificamerican.com/article/the-dunning-kruger-effect-isnt-what-you-think-it-is/