Uma equipe internacional de pesquisadores mapeou os neurônios de uma mosca. É o primeiro mapa completo do cérebro de um ser vivo capaz de enxergar e se mover. “Esse conjunto de dados é um pouco como o Google Maps, mas para cérebros”, disse o pesquisador Phillip Schlegel ao site do UK Research and Innovation.
A mosca em questão – “exemplar” fêmea e adulta da espécie mosca-das-frutas – é pequena, sim. Seu cérebro tinha menos de um milímetro de largura. Mas estamos falando de um mapa com 139.255 neurônios e 50 milhões de conexões.
Parte desse mapa “é como saber quais estruturas em imagens de satélite da Terra correspondem a ruas e edifícios”, segundo Schlegel.
Anotar neurônios é como adicionar os nomes das ruas e cidades, horários de abertura de negócios, números de telefone, avaliações, etc., ao mapa – você precisa de ambos para que seja realmente útil
Phillip Schlegel, pesquisador e um dos autores do estudo que mapeou cérebro de uma mosca
Pesquisadores fatiaram cérebro em 7 mil pedaços para mapear neurônios
O cérebro da mosca foi cortado em sete mil fatias, cada uma com apenas 40 nanômetros de espessura. E as imagens de alta resolução foram analisadas usando inteligência artificial (IA).
- Para você ter ideia: o projeto gerou mais de 100 terabytes de dados (aproximadamente o armazenamento de 100 notebooks), revisados manualmente por cientistas e voluntários.
Os cientistas usaram IA para prever se cada sinapse no cérebro da mosca era excitatória (promove a continuidade do sinal) ou inibitória (reduz a transmissão do sinal). Isso forneceu uma visão mais profunda sobre o funcionamento dos circuitos neurais.
- Para você entender: os neurônios usam sinais elétricos para enviar mensagens. Cada neurônio pode ter centenas de ramificações que o conectam a outros neurônios. Os pontos onde essas ramificações se encontram e transmitem sinais entre neurônios são chamados de sinapses.
Um dossiê sobre a pesquisa foi publicado no site da Nature. E você consegue até fuçar no mapa do cérebro da mosca.
Semelhanças entre cérebros
Aliás, a pesquisa também revelou semelhanças na “fiação” de cérebros de moscas de espécies diferentes. Isso sugere que cérebros não são estruturas únicas, como flocos de neve.
- Próximos passos: futuras pesquisas irão mapear também o cérebro de moscas machos, explorando diferenças estruturais e variações que possam estar ligadas à individualidade ou a distúrbios cerebrais.
Relevância do estudo
O mapa pode ajudar a entender o funcionamento do cérebro humano, especialmente em condições como distúrbios mentais.
No futuro, esperamos que seja possível comparar o que acontece quando as coisas dão errado em nossos cérebros, por exemplo, em condições de saúde mental.
Mala Murthy, pesquisadora da Universidade de Princeton e uma das co-líderes da pesquisa
A pesquisa foi realizada pelo FlyWire Consortium, que inclui cientistas de instituições como a Universidade de Princeton, a Universidade de Cambridge e o Laboratório de Biologia Molecular do MRC. Mais de 76 laboratórios e 287 pesquisadores de todo o mundo se envolveram no projeto.