Quem olha hoje para a Chiquinho Sorvetes — que tem 750 lojas no Brasil, faturou R$ 935 milhões no ano passado e projeta crescimento vigoroso para os próximos anos, inclusive com prospecção de retomar a abertura de lojas nos Estados Unidos — não imagina quão difícil foi o começo do negócio, nos anos de 1980, no interior de Minas Gerais.
O filho do criador de Francisco Olímpio de Oliveira, fundador da Chiquinho Sorvetes, contou a Oeste como foi a trajetória que trouxe o grupo até aqui — e não omitiu os percalços.
Nascido em Frutal, no interior de Minas Gerais, Isaías Bernardes de Oliveira cresceu em uma família humilde. Trabalhou duro no sítio dos pais junto com seus 11 irmãos. Na década de 1980, aos 16 anos, teve de se mudar para a zona urbana da cidade para dar sequência aos estudos. Dividia o tempo entre o colégio e o trabalho de empacotador em um supermercado. “Quando não fazia entrega de bicicleta, ajudava no balcão”, contou. “À noite, ia para o colégio. Chegava em casa cansado, ‘arrebentado’.”
Já na área urbana, seu pai, Francisco Olímpio de Oliveira, o Chiquinho, decidiu empreender. Abriu uma pequena sorveteria — que no começo vendia um pouco de tudo. Isaías decidiu deixar o emprego no supermercado para ajudá-lo. “Meu pai me disse: ‘Vou te pagar apenas um salário mínimo’”, contou. “‘Se te pagar mais, a sorveteria não vai sobreviver’.”
Isaías dobrou o horário
A sorveteria cresceu, e Chiquinho precisou contratar mais um funcionário, para o turno da noite. O filho não perdeu a oportunidade e decidiu laborar nos dois horários. Ele disse que valeu a pena, porque passou a receber o dobro do que ganhava antes. “Trabalhava das 7h até às 23h30”, contou. “Todos os dias. Não tinha férias, nem folga.”
Em 1985, a família abriu a segunda sorveteria. Alguns anos depois, a terceira loja, maior, foi aberta. Isaías conta que o empreendimento cresceu de tal forma que tiveram de expandir o negócio para Guaíra, outra cidade do interior mineiro. “Depois, abrimos em Ribeirão Preto (SP)”, disse. “Então fomos estruturando, crescendo. Típico do mineiro que vai comendo pela borda.”
Quando chegou a 35 lojas, em 2005, Isaías, que passou a ser o dono da empresa, reuniu a família para tratar do negócio que estava crescendo. Em virtude do aumento da demanda, contrataram a primeira agência de publicidade para fazer a comunicação da marca. “Começamos a fazer propagandas na televisão”, contou Isaías. “Organizamos tudo junto com a família.”
Ele ainda conta que, quando a sorveteria apareceu na televisão, o negócio expandiu ainda mais. Hoje, a Chiquinho Sorvetes tem mais de 750 lojas espalhadas pelo Brasil e consolidou-se como uma das maiores redes de sorveteria do país.
O segredo da sorveteria Chiquinho Sorvetes
“Desiste”, disse Chiquinho a Isaías no pior momento do negócio. “É melhor fechar a sorveteria.” Era o início do plano cruzado, no fim dos anos 1980. O empreendimento estava endividado.
Desesperado, entra em um ônibus e viaja para Belo Horizonte (MG). O objetivo: negociar com o banco. Chegou à rodoviária de madrugada. Esperou o dia amanhecer e foi à agência. Cansado, passou o dia inteiro sem conseguir negociar. Voltou à cidade. Dias depois, retorna à capital mineira. Depois de tantas conversas com o gerente, consegue negociar a dívida. Se não fosse a insistência, madrugadas na estrada e esperas intermináveis no banco, hoje a Chiquinho Sorvetes não existiria.
Segundo Isaías, foram o trabalho duro e a persistência que o tornaram dono de uma das maiores redes de sorveteria do país.
O grupo (que também inclui uma agência de publicidade e uma empresa de logística) faturou R$ 935 milhões no ano passado. Neste ano, tem como meta fazer R$ 1,2 bilhão. O plano é seguir crescendo de 20% a 30% ao ano. Ele pretende retomar o empreendimento em Miami, nos Estados Unidos, que teve de parar por causa da pandemia. Enquanto isso, Isaías continua trabalhando para fazer a Chiquinho Sorvetes crescer mais.