domingo, maio 11, 2025
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Dívidas superam receitas recordes dos clubes no futebol brasileiro

Relatório da consultoria Sports Value mostra que os 20 clubes com maiores receitas do Brasil fecharam 2024 com uma dívida acumulada de R$ 12 bilhões — valor que supera a receita total gerada no mesmo ano (R$ 10,9 bilhões). O crescimento das dívidas foi de 22% em relação a 2023, quando o endividamento somava cerca de R$ 10 bilhões.

Por estes dados, apesar de os principais clubes brasileiros terem obtido receitas recordes em 2024, o crescimento das dívidas indica a falta de planejamento e de gestão eficiente que prevalece no futebol brasileiro.

Os motivos por trás das receitas estão claros: valorização expressiva nas transferências de jogadores, que movimentaram R$ 2,9 bilhões em 2024 (alta de 53%), e a expansão das receitas de marketing, que cresceram 36% e atingiram R$ 1,9 bilhão.

Recursos vindos de bilheteria e estádios somaram R$ 1,1 bilhão (22% a mais), enquanto os programas de sócio-torcedor ultrapassaram pela primeira vez os R$ 850 milhões (crescimento de 17%).

Já os direitos de transmissão, que continuam sendo a principal fonte de receita, somaram R$ 3,3 bilhões, impulsionados pela formação de duas ligas que negociam os direitos: a Libra e a Forte.

Mesmo com a explosão das receitas, porém, os clubes seguem gastando mal e se endividando mais rápido do que conseguem gerar caixa. Dois dos fatores que causam o rombo são os juros elevados no Brasil e a dependência de empréstimos bancários e refinanciamentos de dívidas fiscais.

Só em 2024, as despesas financeiras com esses compromissos consumiram mais de R$ 1,5 bilhão. As dívidas fiscais, por sua vez, totalizam R$ 2,6 bilhões e representam 22% do total do passivo.

O Corinthians lidera o ranking de endividados, com R$ 1,9 bilhão (R$ 1,2 bilhão, se desconsiderada a Arena). Em seguida aparecem Atlético-MG (R$ 1,4 bilhão), Cruzeiro (R$ 981 milhões), Vasco da Gama (R$ 929 milhões) e São Paulo (R$ 853 milhões).

O modelo de endividamento crônico, em vez de servir como alavanca de crescimento, tem sufocado financeiramente os clubes, que gastam mais pagando juros a instituições financeiras do que investindo em reforços ou estrutura.

Esse cenário escancara a dificuldade histórica dos clubes brasileiros em fazer uma gestão eficiente. Mesmo com cifras bilionárias entrando nos cofres, muitos seguem sem planejamento financeiro sólido, com alta rotatividade de dirigentes, falta de governança e uso político das agremiações.

Despesas dos clubes do futebol brasileiro

O resultado é um futebol com pouco fôlego para competir em alto nível com grandes clubes europeus: mesmo com o talento dos jogadores e o aumento de público, a instabilidade financeira afeta investimentos de longo prazo e mina a competitividade internacional.

Contratações mal planejadas e a falta de paciência em seguir uma diretriz também têm agravado a situação financeira dos clubes. Em 2024, por exemplo, o Fluminense contratou Douglas Costa, que não marcou gols em 22 jogos e rescindiu o contrato antes do fim da temporada. Hoje ele atua no Sydney F.C, da Austrália.

O Corinthians investiu 4,5 milhões de euros em Pedro Raul, que marcou apenas quatro gols em 39 partidas e permanece com contrato até 2028. No momento ele atua por empréstimo no Ceará e tem ido bem.

O Internacional trouxe Alario por menos de 1 milhão de euros e o atacante marcou cinco gols em 36 jogos. Ele se transferiu para o Estudiantes, da Argentina.

Esses exemplos ilustram como investimentos mal planejados e a falta de paciência para a adaptação podem resultar em baixo retorno esportivo e financeiro.

Os clubes também enfrentam custos elevados com a troca frequente de técnicos. O Corinthians, por exemplo, gastou mais de R$ 15 milhões em 2024, por exemplo, com as demissões de Mano Menezes e António Oliveira incluindo multas rescisórias e custos associados às mudanças na comissão técnica.

Esse tipo de despesa compromete ainda mais o orçamento das entidades. Em vários clubes do futebol brasileiro, um paradoxo prevalece. As exceções são Flamengo e Palmeiras. De resto, nunca se ganhou tanto — e, ainda assim, o buraco financeiro só aumenta.

Via Revista Oeste

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