A ditadura de Nicolás Maduro foi pega de surpresa pelo resultado eleitoral, de acordo com Francisco Torrealba, um alto oficial do regime venezuelano. Ele diz que monitorava confiante a votação em um centro de comando em Caracas, no mês passado.
Os gráficos mostravam uma alta participação em redutos tradicionais do regime, o que parecia garantir uma vitória.
Torrealba relatou ao The New York Times que a alta participação e a repressão aos eleitores da oposição indicavam uma vitória certa para Maduro.
“Estávamos calmos, pois fizemos tudo o que era necessário para alcançar uma boa vitória”, afirmou ele sobre o clima no dia 28.
No entanto, a contagem de votos revelou um abandono massivo de apoiadores de Maduro.
Abandono de apoiadores da ditadura de Maduro
Referindo-se a María Corina Machado, que apoiava Edmundo González, um ativista do regime comentou: “Fomos traídos porque disseram que iriam votar em Maduro; e o que fizeram? Votaram naquela mulher”.
Com a chegada dos resultados, o conselho eleitoral, sob o controle do regime, interrompeu a transmissão por cerca de duas horas. Pouco depois da meia-noite, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) declarou Maduro vencedor.
Analistas e líderes da oposição imediatamente questionaram a legitimidade dos resultados e órgãos internacionais fiscalizadores atestaram a fraude eleitoral.
A crise política resultante desse embate já causou pelo menos 11 mortes em protestos, mais de mil prisões e uma crise diplomática.
Reações internacionais e dilemas de Maduro
A reeleição de Maduro não foi reconhecida pelos Estados Unidos e muitos países da América do Sul e Europa. Estudos, incluindo um do New York Times, respaldaram as contagens de votos da oposição. Maduro intensificou a repressão e rompeu laços com nações que rejeitaram sua vitória.
A eleição colocou Maduro em um dilema: manter-se no poder a qualquer custo ou aceitar uma negociação política.
“Ele permitiu que González, um diplomata aposentado, o desafiasse, enquanto proibia líderes opositores como María Corina de concorrer”, publicou o NYT. “O regime usou o aparato estatal para dificultar a campanha de González”, completou o jornal.
Estratégias do regime e da oposição
Segundo análise do NYT, Maduro confiou em sua máquina política, que por anos usou o poder financeiro do Estado para garantir votos por meio de favores e coerção.
As pesquisas internas do regime mostravam Maduro atrás de González, mas próximo o suficiente para que o partido acreditasse poder reverter a situação com alta participação.
Avanços tecnológicos permitiram que ativistas do partido monitorassem o progresso dos eleitores por meio de um aplicativo.
“Fazer política é o que sabemos”, disse Nicolás Maduro Guerra, deputado e filho do ditador.
Tecnologia e monitoramento da votação
A oposição, por sua vez, também usava tecnologia para monitorar a votação. María Corina organizou grupos para obter contagens impressas das máquinas de votação.
Esses documentos permitiriam recriar os resultados e detectar fraudes. A oposição usou um aplicativo para relatar a participação e fazer upload das atas. Apesar dos esforços do regime para suprimir a capacidade de monitoramento da oposição, muitos conseguiram enviar os comprovantes.
À medida que as contagens se acumulavam, a oposição se convencia de que González estava a caminho de uma vitória histórica. Regiões que tradicionalmente votavam no chavismo mostraram um afastamento de Maduro, segundo análises da oposição.
“Fomos tomados pela euforia”, disse o organizador da oposição, Andrés Schloeter.
Interrupção e alegações de fraude
No entanto, a celebração foi interrompida quando urnas perderam conexão com a sede do conselho eleitoral, atrasando a transmissão dos resultados. O regime atribuiu a falha a um ataque de hackers, mas analistas acreditam que foi uma manobra para mudar a estratégia.
Após a interrupção, Jorge Rodríguez, chefe de campanha de Maduro, declarou uma “vitória para todos”.
“Foi aí que percebemos: Eles vão roubar a eleição”, revelou Schloeter ao New York Times.
Enquanto isso, o regime realizou um comício de vitória, com milhares de funcionários públicos e ativistas chavistas celebrando.
Declaração de vitória e contestação dos resultados
Pouco depois da meia-noite, Elvis Amoroso, chefe do conselho eleitoral, declarou Maduro vencedor, com sete pontos percentuais a mais que González.
Contudo, tais números não correspondiam ao banco de dados do conselho eleitoral. A oposição postou 83% das contagens de votos online e mostrou González 37 pontos percentuais à frente.
Torrealba afirmou que as contagens da oposição são falsas e que o partido governante não publicaria suas próprias contagens. Em 2013, o partido divulgou contagens para refutar alegações de fraude, mas, desta vez, considerou a eleição como fato consumado.
“Sou Nicolás Maduro Moros, o presidente reeleito da República Bolivariana da Venezuela, e defenderei a nossa democracia!”, proclamou Maduro.
Enquanto o ditador comemorava a vitória, a opositora María Corina afirmava à imprensa que, de todas as atas que o CNE liberou, cerca de 40% do total mostram que Edmundo Gonzáles venceu com 70% dos votos. Veja a declaração:
Grande denúncia de fraude eleitoral feita por María Corina Machado! Segundo a opositora, todas as atas que o CNE liberou, cerca de 40% do total, mostram que Edmundo Gonzáles venceu com 70% dos votos. O CNE, que é controlado por Nicolás Maduro, se recusa a liberar as demais atas. pic.twitter.com/VzNy98j3Mj
— Hoje no Mundo Militar (@hoje_no) July 29, 2024