A Dinamarca está prestes a implementar uma taxa de cerca de R$ 583 por ano para cada vaca, com o objetivo de “compensar as emissões de gases de efeito estufa”. Esta será a primeira taxação de carbono na agricultura global.
Depois de meses de negociações, a coalizão governista fechou um acordo na segunda-feira 24, para um tributo de 120 coroas dinamarquesas (R$ 93,40) por tonelada de CO₂ equivalente da pecuária, incluindo vacas e porcos.
O Parlamento dinamarquês deve votar a taxa ainda neste ano, estabelecendo um valor inicial de 300 coroas (R$ 235) por tonelada em 2030, subindo para 750 coroas (R$ 587) por tonelada em 2035.
Para incentivar os agricultores a reduzirem as emissões, o imposto será implementado gradualmente, com uma dedução de 60% (180 coroas) por pelo menos dois anos. A vaca dinamarquesa média emite 6 toneladas de CO₂ equivalente anualmente, o que resultaria em uma taxa de cerca de 720 coroas (R$ 564) por animal, com base na taxa inicial.
O metano produzido por animais ruminantes, como vacas e ovelhas, e os fertilizantes nitrogenados sintéticos usados na alimentação são grandes fontes de gases de efeito estufa. A pecuária é responsável por aproximadamente 11% das emissões globais, com a contribuição com quase dois terços desse total pelas vacas.
Para agricultores da Dinamarca, a medida é “loucura”
O acordo dinamarquês, que visa a aplicar a taxa a partir de 2030, surge depois de protestos de agricultores em toda a Europa contra medidas ambientais da União Europeia. Mette Frederiksen, primeira-ministra da Dinamarca, espera que o imposto “seja referência regional e global” para iniciativas semelhantes.
A organização de agricultores Bæredygtigt Landbrug criticou o acordo, enquanto alguns grupos ambientais argumentaram que muitas deduções tornariam o imposto ineficaz. “Acho que é loucura”, disse Peter Kiær, presidente do Bæredygtigt Landbrug.
Segundo ele, isso dificultaria o investimento em tecnologia num país que já é um dos maiores produtores verdes do mundo. “[O governo] não está ouvindo os agricultores.”
Posições do governo
Lars Aagaard, ministro do Clima da Dinamarca, afirmou que a agricultura é o maior emissor de gases de efeito estufa do país. “Isso não pode continuar”, disse. “A agricultura deve contribuir e fazer parte do futuro verde.”
Søren Søndergaard, presidente do Conselho de Agricultura e Alimentação, disse que os agricultores que adotarem soluções climáticas aprovadas e economicamente viáveis “poderão evitar completamente o imposto”.
Peder Tuborgh, CEO da Arla Foods, alertou que o regime de impostos pode afetar injustamente agricultores orgânicos, que já fazem esforços significativos para reduzir emissões. Ele pediu uma análise mais aprofundada dos políticos sobre o impacto dessas medidas.
Notícias recentes
A Nova Zelândia recentemente desistiu de um imposto similar para reduzir as emissões de metano de ovelhas e vacas. A Comissão Europeia está estudando um sistema de comércio de emissões agrícolas para toda a União Europeia, considerando opções em que agricultores e proprietários de terras paguem diretamente por suas emissões.
Kristian Hundebøll, CEO do DLG Group, destacou a importância de ancorar o imposto na Europa, em vez de ações unilaterais da Dinamarca. Em Bruxelas, Alexandre Paquot, diretor-geral-adjunto da comissão climática, disse que incluir a agricultura no sistema de comércio de emissões do bloco deve trazer “novas oportunidades para os agricultores”.