A cooperação entre diferentes grupos humanos é algo que impressiona os antropólogos e há muito é considerado a marca que nos diferencia de outros primatas. No entanto, agora uma nova pesquisa coloca em dúvida essa especificidade depois de observar dois diferentes grupos de macacos bonobos cooperando entre si.
Os bonobos são uma espécie de macacos que habitam as florestas tropicais da República Democrática do Congo, e até 100 anos atrás eram considerados uma subespécie dos chimpanzés. No entanto, eles não só são geneticamente diferentes, como se comportam de maneiras distintas.
As observações que permitiram chegar a essa conclusão foram feitas inicialmente em zoológicos, mas agora no novo estudo, publicado recentemente na revista Science, esses animais foram observados na natureza.
Ekalakala e Kokoalongo
Durante dois anos, Martin Surbeck, ecologista comportamental de Harvard, observou dois grupos de bonobos, na Reserva Kokolopori Bonobo, localizada na República Democrática do Congo. Em caminhadas na floresta, com ajuda do povo Mongodu, ele percebeu comportamentos que indicavam que os diferentes grupos de macacos pareciam cooperar entre si quando se encontravam.
- O encontro entre os dois grupos foi observado ainda na primeira viagem de Surbeck;
- Os dois grupos de bonobos forma reconhecidos e chamados de Ekalakala, o grupo com 11 adultos, e Kokoalongo, o com 20;
- Ao todo foram observados 95 encontros, que duraram em média uma hora, mas em algumas situações, eles permaneceram juntos por dias;
- Quando juntos, os macacos se comportaram como um único grupo, realizando tarefas em conjunto e compartilhando comida, mas ainda sim preservaram hábitos distintos;
- Não foi encontrado evidência de cruzamentos entre os Ekalakala e os Kokoalongo, e seus hábitos alimentares permaneceram diferentes.
Cientistas não envolvidos no estudo esperam que pesquisas semelhantes sejam conduzidas em outros locais para descobrir se esse comportamento é comum entre os bonobos ou exclusivo desses dois grupos. No entanto, essas novas investigações podem demorar a acontecer.
Isso porque, além desses animais viverem nas profundezas das florestas tropicais, os bonobos estão ameaçados pela exploração de madeira e pela caça furtiva e os cientistas teriam que enfrentar conflitos civis na República Democrática do Congo.