O gin tônica conquistou os menus de bares, restaurantes renomados, botecos e mesas dos mais variados tipos. Apesar da simplicidade intrínseca da bebida, sua longa história e a fascinante trajetória dos ingredientes estão cheias de complexidade. A verdadeira água tônica é feita com quinina, uma substância amarga extraída da casca da árvore de cinchona, que, ao longo da história, tem sido usada medicinalmente para prevenir e tratar a malária.
A política da quinina e da árvore de cinchona é complicada e entrelaçada em uma história sombria de colonialismo; populações indígenas na América do Sul colhiam a casca da árvore nativa de cinchona para tratar a malária, o que, ao ser descoberto pelos conquistadores europeus, possibilitou a agressão colonial sem a ameaça da malária. No início do século 19, oficiais britânicos da Companhia das Índias Orientais misturavam a solução medicinal de quinina com um pouco de açúcar, gin e água para torná-la mais palatável. O coquetel rapidamente ganhou popularidade persistente em todo o mundo colonial.
Como a quinina não é usada medicinalmente hoje em dia, a água tônica contém apenas vestígios do elixir amargo para fins de sabor. Além disso, a tônica moderna tem muito mais açúcar do que sua contraparte medicinal tinha, o que traz um equilíbrio.
Embora a combinação de gin com tônica seja historicamente relevante, a dupla, não surpreendentemente, também combina bem em termos de sabor — o sabor herbáceo e predominante de zimbro do gin London Dry Botânico é perfeitamente equilibrado pela doçura da água tônica. “A diferença entre um gin tônica medíocre e um excelente é simples: a qualidade dos ingredientes”, diz Alê D’Agostino, mixologista do Guilhotina, bar que já chegou a vender mais de 400 gin tônicas em uma única noite. “
“Se hoje a coquetelaria mundial tem essa supervalorização, devemos agradecer ao gin tônica. Foi esse coquetel, que aparentemente é simples, que começou a fazer as pessoas a beberem destilados sem ser puros, mas com um quê de complexidade.”
Alê D’Agostinho, mixologista do Guilhotina, bar renomado de São Paulo
O movimento gin tônica surgiu após um boom global, onde diversos países europeus, principalmente a Espanha, se tornaram um sucesso – a taça grande, com boca larga, se tornou uma febre em restaurantes e bares, transformando-se em um coquetel “gourmet”.
“Na Espanha, há bares especializados oferecendo menus inteiros dedicados a diferentes variações da bebida, os chamados ‘gin bars’, onde os clientes podem escolher entre uma vasta seleção de gins, tônicas e guarnições, criando assim uma experiência única”, diz D’Agostino. No Brasil – com toda a tropicalidade que há por aqui – a bebida também ganhou estrelato. Segundo Laércio Zulu, mixologista responsável pela carta de drinques do restaurante Tuy Cucina, o gin tônica conquistou o gosto dos brasileiros pela combinação sem muita margem de erro que o coquetel oferece. “Além disso, é doce, leve, tem a profundidade dos botânicos e é agradável. As marcas de gin perceberam que a junção de tudo isso era algo perfeito para potencializar o mercado da coquetelaria e fizeram um ótimo trabalho de marketing. Deu certo”. Para Zulu, a receita perfeita é 1 parte de gin para 2 partes de água tônica, finalizada com uma fatia de limão, em um copo alto. “E gelo de boa qualidade para não deixar o drinque aguado”, diz.
Não é só gin e tônica
Outra boa razão para o ressurgimento do gin tônica é a proliferação de destilarias artesanais que produzem gins com perfis de sabor únicos. Um exemplo é o Jardim Botânico Gin – microdestilaria que fica ‘escondida’ dentro do bar Drosophyla, no centro de São Paulo – que produz um gin premiado e que, a cada lote, é aperfeiçoado pelo mestre destilador Robert Adair. “Hoje, o gin já não é mais visto apenas como uma bebida simples, com o aroma predominante do zimbro. Os destiladores estão explorando uma vasta gama de botânicos – ervas, frutas e especiarias – criando gins que vão desde o floral até o cítrico, picante e até mesmo defumado”, completa Zulu.
Além disso, as águas tônicas de boa qualidade se tornaram cada vez mais populares, com marcas premium oferecendo bebidas com sabores sutis que complementam os diversos perfis dos gins. “Essas tônicas premium muitas vezes contêm menos açúcar e evitam o uso de adoçantes artificiais, resultando em uma bebida mais equilibrada. Elas vêm em sabores variados, como tônicas aromáticas, cítricas ou com toques de ervas, o que permite maior flexibilidade e inovação na criação de coquetéis”, diz a bartender Cristiana Negreiros, do Oculto Bar, em Pinheiros. Ainda segundo ela, o modo de preparo também é importante – a técnica de verter a tônica a 45° próximo ao copo é importante, para não perder as borbulhas, na hora de misturar também levemente de baixo para cima. “O gin tônica também tem um apelo interessante: é uma bebida com menor valor calórico, e a taça tem um forte apelo estético, o que ajuda a transformar o coquetel em algo quase como um adorno. Uma peça de estilo de vida”, completa Érica Maiera, do Mammasan.
Então, na próxima vez que saborear um gin tônica, lembre-se: você está bebendo uma história rica e complexa.
Guilhotina Bar
A casa tem balcão sob responsabilidade do premiado mixologista Alê D’Agostino, que trouxe para o menu drinques refrescantes. Entre os clássicos, o Gin Tônica (R$45) que leva gin, tônica e cascas de laranja e limão.
Guilhotina Bar: Rua Costa Carvalho, 84 – Pinheiros – São Paulo – SP / Tel.: (11) 3031-0955 / Funcionamento: terça a sexta, das 18h à 1h, sábado das 17h à 1h.
Tuy, Cocina
Com gastronomia ibérica contemporânea, que une e reinventa sabores da Espanha e Portugal, e drinques autorais, o Tuy Cocina fica nos Jardins, em um ambiente moderno e descontraído. Entre os drinques tem o London Mule (R$52), feito com Tanqueray, limão, tônica e espuma de gengibre.
Tuy, Cocina: Rua Padre João Manuel, 1156 – Jardins – São Paulo – SP | Tel.: (11) 91641-1309 ou (11) 3167-7774 | Funcionamento: domingo e segunda, das 12h às 22h, terça a sábado, das 12h à meia-noite.
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