A desnutrição infantil aumentou entre as crianças indígenas em 2023, 1º ano da atual gestão do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Nesse mesmo período, a escolarização entre crianças e jovens negros permaneceu muito baixa. Os dados estão na nova edição do Observatório das Desigualdades, lançada nesta terça-feira, 27.
A publicação apresenta mais de 40 indicadores. Eles mostram como diferentes grupos da população enfrentam questões como renda, educação, transporte público, mudanças climáticas, violência urbana e representação política.
De acordo com a edição, entre 2022 e 2023, houve um aumento de 16,1% na desnutrição entre meninos indígenas até 5 anos e de 11,1% entre meninas da mesma faixa etária. Além disso, a taxa de escolarização no ensino superior entre homens negros, por exemplo, é cerca de metade da observada entre brancos, e permaneceu sem alterações no período.
Nova edição do observatório das desigualdades
O levantamento é uma iniciativa do movimento Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades, que reúne 200 entidades, incluindo organizações do terceiro setor e associações de classe.
Esses dados revelam uma grande disparidade entre grupos étnicos e entre homens e mulheres, mesmo nos casos em que houve melhorias gerais.
“Estudamos múltiplas desigualdades porque elas se conectam, penetram em todas áreas e atividades da sociedade brasileira, e uma se torna causa da outra”, afirma Oded Grajew, fundador da Grow e membro do Pacto, segundo a Folha de S.Paulo.
De acordo com Grajew, a pesquisa tem o objetivo de “mostrar o tamanho das desigualdades e a agenda necessária para combatê-las”.
“Com esse levantamento, ninguém pode dizer que não conhece as desigualdades brasileiras nem sabe por onde começar e o que fazer”, observou.
O Observatório compila dados de órgãos governamentais e entidades do terceiro setor para medir e analisar desigualdades em vários setores sociais, propondo soluções em seguida.
Desnutrição infantil entre indígenas
As estatísticas sobre desnutrição infantil indicam que apenas os indígenas experimentaram um aumento na proporção de crianças abaixo do peso ideal até os cinco anos. Ademais, a média nacional de desnutrição nessa faixa etária diminuiu apenas 0,2%, segundo o Ministério da Saúde.
No campo educacional, a região Nordeste registrou a maior queda na taxa de escolarização líquida no ensino médio, de 65% para 62,5%, entre 2022 e 2023. Isso significa que somente seis em cada dez alunos dessa região, em média, estão matriculados conforme sua idade escolar.
Frequência em creches
O levantamento também destaca um aumento na frequência de crianças de zero a 3 anos em creches, de 30,7% para 33,2% entre 2022 e 2023. Contudo, esse aumento foi mais acentuado entre crianças não negras comparado às negras.
“A menor taxa de crescimento na cobertura foi em relação às meninas negras: apenas 2,4%”, destaca o Pacto em nota.
No Brasil, a taxa de escolarização no ensino médio é de 66% para alunos negros e 75% para alunos não negros (brancos, amarelos e indígenas, conforme a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE).
Desigualdade na escolarização
No ensino superior, essa desigualdade é ainda maior. A taxa de escolarização nesse nível de escolaridade entre homens negros é de 12,6%, metade da proporção entre brancos (24,5%). Entre mulheres, a diferença é semelhante, com 17% entre negras e quase 32% entre brancas.
Com base em pesquisas do IBGE, o levantamento aponta uma redução nos índices de extrema pobreza, embora a desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres tenha permanecido inalterada.
Desigualdade de renda
O percentual de pessoas em extrema pobreza no Brasil caiu de 2,8% para 1,7% em um ano até 2023. Entretanto, o 1% mais rico do país teve rendimento médio mensal per capita 31,2 vezes maior que os 50% mais pobres, um aumento em relação ao índice de 30,8 vezes em 2022.
“É muito difícil acreditar que a redução da desigualdade vá acontecer de livre e espontânea vontade dos governos”, diz Neca Setúbal, também membro do Pacto. “Isso exige recurso, exige política pública com dados, com evidências, e exige que você vá colocar recursos no apoio a grupos que não estão representados nas instituições públicas.”