Não só as mudanças climáticas agravaram as chuvas e as enchentes no Rio Grande do Sul (RS), mas o desmatamento também. A retirada da vegetação nativa, consequência da agropecuária local e das leis que flexibilizam a proteção ambiental, tornou a região mais vulnerável e agravou os efeitos das tempestades.
Desmatamento no RS agravou enchentes
Dados da ONG MapBiomas mostraram que, entre 1985 e 2022, o RS perdeu cerca de 3,5 milhões de hectares de vegetação nativa.
Para o professor Edson Vidal, do curso de Engenharia Florestal da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), e coordenador do projeto Corredor Caipira de Reflorestamento e Preservação na região de Piracicaba, o que agravou as enchentes na região foi a falta da proteção concedida pela vegetação.
Ele lembrou que desastres deste tipo não são novidades e que as mudanças climáticas já vêm afetando o mundo inteiro. No entanto, no caso do RS, a destruição da mata nativa piorou a situação.
Vegetação nativa protege o solo das enchentes
Vidal explicou ao Jornal da USP que a vegetação intermedia a água e o solo, ajudando a reduzir a velocidade das enchentes, permitindo que a água infiltre no solo e evitando a erosão. Se a vegetação estivesse presente como proteção no RS, as enchentes seriam “menos catastróficas”.
Ainda, ele lembra que, quando pensamos em vegetação, logo imaginamos grandes florestas. Esse não é necessariamente o caso e, nos estados do Sul, o bioma mais presente são os pampas, caracterizados por uma mata rasteira.
A ausência de árvores não significa que o bioma é menos importante e, para ele, esse preconceito acentua o desmatamento e a falta de proteção.
Por ela ser uma vegetação rasteira, as pessoas pensam que ela não tem uma função, mas ela absorve a água, funcionando como uma esponja.
Edson Vidal
- Além do preconceito, o desmatamento para a expansão urbana e para a produção agropecuária se deu de maneira descontrolada, segundo o professor;
- Mesmo as leis que existem estão sendo revertidas ou flexibilizadas. Vidal lembra o caso da redução da extensão mínima das Áreas de Preservação Permanente, que foi de 30-500 metros para 15-250 metros, nem perto do suficiente de uma proteção eficaz;
- Nas cidades, ele acredita que a realocação será o caso ideal para algumas. As que não puderem fazer isso, podem implementar diques como forma de proteção.