Aos pés da Cordilheira dos Andes, Mendoza é um dos destinos obrigatórios na lista dos amantes de vinho de todo o mundo. Com diferentes regiões produtoras e terroirs únicos, a província se destaca não somente pela uva Malbec, variedade ícone daqui, mas ganha cada vez mais visibilidade também com seus vinhos brancos e naturais, por exemplo.
Hoje, podemos encontrar nomes tradicionais que produzem vinhos ao lado de novatos (mas não menos experientes), em que o caminho tem apontado para os vinhos de mínima intervenção, em que se destaca o terroir e toda a competência dos winemakers.
Assim, minha seleção a seguir reflete exatamente isso: uma mistura interessante de produtores, rótulos, aromas e sabores que é melhor aproveitada aqui, diretamente nas vinícolas, as quais oferecem ainda tours, degustações e, na maioria das vezes, refeições em etapas harmonizadas.
Confira a seguir 10 das minhas vinícolas prediletas em Mendoza:
Susana Balbo
Susana Balbo é autoridade quando o assunto é vinho argentino e um dos nomes mais engajados em colocá-lo no mapa mundial, sendo a responsável por consolidar a uva Torrontés como uma das mais importantes da viticultura do país.
Dito isso, sua vinícola em Agrelo, em Luján de Cuyo, é imperdível de ser visitada em uma viagem a Mendoza. Inaugurada em 1999, o local nos oferece diferentes tipos de tour e degustações, assim como aulas de culinária harmonizadas com rótulos da casa.
De sua produção, meu destaque vai justamente para os Torrontés, que estão presentes nas linhas Crios e Susana Balbo Signature. Além de serem vendidos aqui mesmo, vale experimentá-los junto dos pratos caprichados em seu restaurante Osadía de Crear, de menu fresco, autoral, leve e criativo pelas mãos da chef Flavia Amad.
Vale lembrar que Susana possui ainda o Susana Balbo Winemakers House & Spa Suites, hotel na área de Chacras de Coria, do lado de Luján de Cuyo, com sete luxuosas suítes com tratamento de spa.
Susana Balbo (Bodega Dominio del Plata): Cochabamba 7801, M5509, Mendoza, Argentina / Informações pelo site.
Cheval des Andes
Fundada pelo francês Pierre Lurton, que vem de uma das grandes famílias de Bordeaux, na França, a Cheval des Andes nasceu como uma aliança entre o Château Cheval Blanc e a Terraza de Los Andes.
Chamado de Grand Cru dos Andes, o vinho da Cheval des Andes é uma mistura de duas variedades, Malbec e Cabernet Sauvignon, em que Petit Verdot pode ser adicionada dependendo da safra.
O resultado é um vinho que combina a expressão vibrante e intensa do Malbec argentino com toda a elegância e o savoir-faire de Bordeaux. Vale dizer que os vinhos são produzidos a partir de dois vinhedos próprios de grande altitude: Las Compuertas, em Luján de Cuyo, e La Consulta, no Vale do Uco.
A propriedade em Luján de Cuyo tem duas hortas orgânicas e uma fazenda com ovelhas, cavalos, vacas, lhamas e alpacas. Eles cultivam frutas, ervas e azeitonas, estas transformadas ainda em azeite.
Cheval des Andes: Thames y Cochabamba, Prerdriel, Luján de Cuyo, Mendoza, Argentina / Informações via site.
Catena Zapata
Eleita a melhor vinícola do mundo pelo World Best Vineyards, a Catena Zapata deu o pontapé na produção do Malbec, uva ícone de Mendoza.
Visitar a vinícola em Luján de Cuyo é uma verdadeira aula de história, além da arquitetura ser impressionante, com um prédio em forma de pirâmide e uma biblioteca sobre enologia. Estar aqui é ter a oportunidade ímpar de experimentar os rótulos mais disputados da casa, incluindo os Malbec com toda a tradição que carrega.
A Catena Zapata tem diferentes tipos de passeios guiados em grupo e propostas de imersão, com degustação de diferentes rótulos. Aqui também fica o Angélica – Cocina Maestra, onde o vinho é a peça central e não um mero complemento à comida, em que os vinhos são harmonizados com um menu de 10 passos.
Catena Zapata: Lobos s/n, Luján de Cuyo (5509), Mendoza, Argentina / Informações via site.
Domaine Almanegra
Ernesto Catena, da quarta geração da família à frente da Catena Zapata, lidera alguns projetos próprios no mundo do vinho, todos puxados pela inventividade e por princípios sustentáveis. Sob seu comando estão os rótulos da Almanegra, os quais são rodeados de mistério.
A marca trabalha com cinco tipos de vinho: tinto, branco, blend, Orange e Brut Nature Rosé, em que os cortes e varietais de cada um são mantidos em segredo – cabe a nós experimentá-los e tirar as próprias conclusões.
Vale pontuar que Ernesto possui uma fazenda biodinâmica certificada em Vista Flores, no Vale do Uco, em que é possível visitar o espaço e entender um pouco mais do processo que seus vinhos passam. Além da Almanegra, o espaço contempla ainda as bodegas Tikal, Siesta en el Tahuan e Stella Crinita.
Domaine Almanegra: Ruta provincial 92, M5515 Vista Flores, Mendoza, Argentina / Informações via site.
Tikal
A mesma propriedade no Vale do Uco de onde saem os vinhos Almanegra também dá vida aos rótulos naturais da Tikal, liderada por Ernesto Catena.
A Finca Tikal Natural é rodeada por animais e por vegetação, as quais ajudam na harmonia do ambiente. O local está aberto a visitas, em que podemos desfrutar de um verdadeiro dia de fazenda.
A visita inclui recepção, almoço e degustação de seis vinhos selecionados, podendo incluir os da Tikal, que se destaca com os blends tintos, todos carregando o título de naturais no rótulo. Ou seja, eles não recebem nenhum tipo de insumos no processo, sejam eles agroquímicos, microrganismos selecionados e conservantes, resgatando o modo mais ancestral de se fazer vinho.
Tikal: Ruta provincial 92, M5515 Vista Flores, Mendoza, Argentina / Informações via site.
Bodega L’orange
A L’orange é mais um dos projetos inventivos e para lá de interessantes de Ernesto Catena. A L’orange, porém, fica na região de Chacras de Coria, em Luján de Cuyo, e funciona como um verdadeiro laboratório de experimentos do artista e enólogo, que aqui produz vinhos orgânicos e biodinâmicos.
Na bodega temos ao dispor uma bela degustação dos melhores rótulos da casa e dos testes em andamento. Para tanto, o local funciona somente com reservas antecipadas.
Aberto há pouquíssimo tempo, o restaurante batizado de Che Wine segue os mesmos preceitos da arte de seus vinhos: uso de produtos frescos de produtores locais e muitos insumos da horta própria de princípios biodinâmicos. A cozinha opera sob uma ótica de gastronomia “viva” e artesanal. Quem chega é convidado a uma colheita para escolher a própria refeição.
Bodega L’orange: Alem 5170, M5528 Luján de Cuyo, Mendoza, Argentina / Informações via site.
Bodegas Caro
A Bodegas Caro é exemplo de vinhos argentinos de excelência com toques da tradição francesa. Isso porque a vinícola é uma junção da expertise de dois grandes nomes no mundo do vinho: Domaines Barons de Rothschild (Lafite), com tradição em Bordeaux, e a família Catena.
A Caro nasceu em 1999 e desde 2003 os vinhos são vinificados em um edifício histórico do século 19 e envelhecidos em caves subterrâneas no coração de Mendoza. A marca nos apresenta quatro linhas: Caro, Petit Caro e Amancaya são originadas a partir do blend entre Malbec e Cabernet Sauvignon, enquanto o Aruma é um 100% Malbec.
É possível degustá-los em uma visita à bodega que se inicia com introdução histórica e arquitetônica do local, passando pela história das famílias Rothschild e Catena e a gênese do projeto Bodegas Caro. Feita em grupos, a visita dura cerca de 1h30 e deve ser reservada com antecedência.
Bodegas Caro: Presidente Alvear 151, Godoy Cruz, Mendoza, Argentina / Informações via site.
Riccitelli Wines
Original de Cafayate, Matias Riccitelli tinha conhecimento dos vinhos de altitude da região de Salta antes de se estabelecer em Mendoza. Uma vez na terra do Malbec, o enólogo pôs em prática seu trabalho e fundou a própria vinícola em Luján de Cuyo.
É daqui que saem vinhos com método de vinificação de zero intervenção, os quais apresentam o que há de melhor de cada terroir. O Malbec, claro, faz parte de certos rótulos, assim como Cabernet Franc, Chardonnay, o rosé e o blend. Engajado com vinhos naturais e orgânicos, Matias também realiza projetos com a colaboração de pequenos produtores, como os vinhos da linha V.I.N.O, que significa Viticultura Independiente Natural y Orgánica.
É possível visitar a vinícola em Luján de Cuyo, assim como comer no bistrô do local, em que refeições de diferentes tempos são harmonizadas junto aos vinhos da casa.
Riccitelli Wines: Callejón de la Reta 750, Luján de Cuyo, Mendoza, Argentina / Informações via Instagram.
El Enemigo
A bodega e restaurante El Enemigo é um projeto que se iniciou em 2008 com um dos principais nomes da vitivinicultura argentina, Alejandro Vigil, o “Messi” dos vinhos argentinos, e com a historiadora Adrianna Catena.
A proposta foi construir uma microvinícola com restaurante utilizando as mais modernas técnicas de sustentabilidade e produção orgânica. O local é templo do El Enemigo, premiada linha de vinhos, e da Casa Vigil, restaurante em que o chef Ivan Azar desempenha um trabalho apetitoso em torno do conceito de cozinha de terroir.
O almoço pode ser curtido em diferentes etapas com vinhos harmonizados – todos os vinhos da degustação são servidos à mesa ao mesmo tempo, para que decidamos qual o melhor.
El Enemigo: Videla Aranda 7008, M5519 Maipú, Mendoza, Argentina / Informações via site.
Felipe Rutini é pioneiro em Mendoza com a fundação da Bodega La Rural em 1885 em Maipú. A vinícola passou a plantar vinhas no Vale do Uco em 1925, as quais deram origem às outras plantações em Mendoza.
Liderada hoje pelo winemaker Mariano Di Paola, a Rutini mantém a Bodega La Rural em Maipú e atualmente tem construído um novo local em Tupungato, no Vale do Uco, onde os vinhos de alto nível da empresa são vinificados, como os rótulos Trumpeter, Felipe Rutini, Apartado, Antología, Single Vineyard, Colección Rutini e Encuentro.
É na pequena propriedade em Maipú, porém, que ocorrem degustações e visitas, com direito a corredores com obras de arte. Ali fica ainda o Museu do Vinho, com milhares de relíquias históricas de valor incalculável.
Rutini: Monte Caseros 2625, M5513 Maipú, Mendoza, Argentina / Informações via site.