A disputa pelo protagonismo na operação que prendeu nomes ligados ao Hezbollah no Brasil e o encontro entre o embaixador israelense com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) colocam em xeque a relação do governo Lula com Israel. Fontes ouvidas pela CNN chegam a dizer que até mesmo a demora na liberação dos brasileiros pode ter sido intencional e política.
A figura do embaixador Daniel Zonshine está no centro dessa controvérsia. Integrantes do Planalto entendem que houve uma sucessão de erros políticos e diplomáticos nas últimas semanas por parte dos israelenses. Ao mesmo tempo, o Itamaraty procura preservar os canais abertos para viabilizar o diálogo no médio e longo prazo.
O Ministério das Relações Exteriores não quer qualquer movimento brusco até que os brasileiros retornem em segurança. Até o desfecho da crise dos repatriados, os diplomatas mantiveram discretas as convocações do Embaixador ao Palácio para diálogos. Com a conclusão da missão de repatriação, no entanto, a pressão de atores no Executivo e Congresso tende a aumentar.
Três opções passam a ser avaliadas pelo Planalto: interromper o diálogo com Zonshine para pressionar a troca do diplomata, pedir a Israel que substitua o chefe da missão no Brasil, ou até mesmo expulsar o israelense.
Drástica, a terceira opção soa improvável para fontes da diplomacia. O último embaixador estrangeiro expulso do Brasil foi o encarregado de negócios venezuelano Gerardo Antônio Delgado Maldonado, em 2017, numa resposta à ação dos venezuelanos diante da decisão de Caracas de expulsar o embaixador brasileiro Ruy Pereira. A crise ocorreu no contexto pós-impeachment de Dilma Rousseff.
Daniel Zonshine disse em entrevista à CNN que Israel não está fazendo nada para impedir a saída de brasileiros da Faixa de Gaza e culpou o Hamas pela demora na saída de estrangeiros.
“Quem domina a Faixa de Gaza é o Hamas. Nos primeiros dois dias dessa semana não houve nenhuma saída por conta do Hamas, que decidiu que as pessoas não iam sair”, afirmou.
Sobre o encontro com Bolsonaro, o embaixador afirmou que a Embaixada convidou apenas parlamentares para o evento promovido no Congresso. E refutou qualquer cunho político no episódio.
“No meu ponto de vista, foi só um encontro, uma apresentação para parlamentares. Tenha talvez forças que querem fazer rixa entre Israel e Brasil, mas a relação entre Israel e Brasil são boas e vão continuar sendo boas”.
Ao ser questionado sobre a operação da PF, Zonshine disse: “Se escolheram o Brasil, é porque tem gente que ajuda”.
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