Para aqueles que se reuniram ao longo dos séculos em Stonehenge — o imponente monumento pré-histórico que domina a planície de Salisbury, no sudoeste da Inglaterra, há cerca de 4.500 anos –, provavelmente ficou claro como o Sol pode ter interferido em seu design.
O eixo central do círculo de pedras estava, e ainda está, alinhado com o nascer do Sol no solstício de verão e com o pôr do Sol no solstício de inverno, as pedras enquadrando o nascer e o pôr do Sol quando estavam em seus dias mais longos e mais curtos. Mas será que Stonehenge — e potencialmente outros monumentos megalíticos ao redor do mundo — também se alinham com a Lua?
A ideia de que Stonehenge estava de alguma forma ligado à Lua ganhou força na década de 1960. No entanto, o conceito não havia sido explorado sistematicamente, segundo Clive Ruggles, professor emérito de Arqueoastronomia na Escola de Arqueologia e História Antiga da Universidade de Leicester, na Inglaterra. Neste verão, os arqueólogos estão usando um fenômeno lunar pouco conhecido que acontece a cada 18,6 anos para investigar por que Stonehenge foi construído.
Estagnação lunar
Assim como o Sol, a Lua nasce no leste e se põe no oeste. No entanto, o nascer e o pôr da Lua movem-se de norte a sul e vice-versa no espaço de um mês. Os extremos norte e sul também mudam ao longo de um período de cerca de 18 anos e meio. A estagnação lunar ocorre quando o nascer e o pôr da Lua mais ao norte e mais ao sul estão mais distantes.
“O nascer da Lua muda a cada dia e se você acompanhar isso por um mês, notará que há um limite norte e um limite sul além dos quais a Lua nunca nasce (ou se põe)”, disse Fabio Silva, professor sênior de Modelagem Arqueológica na Universidade de Bournemouth, por e-mail. E completou: “Se você observasse esses limites ao longo de 19 anos, notaria que eles mudam como um acordeão: se expandem até um limite máximo (a grande estagnação lunar) e depois começam a se contrair até um limite mínimo (a pequena estagnação lunar).”
Esta grande estagnação lunar está prevista para ocorrer em janeiro de 2025. Entretanto, até meados de 2025, a Lua pode parecer — para um observador casual — estar estranhamente baixa ou alta no céu noturno durante o mês lunar.
“Se você estiver em um desses 19 anos, de tempos em tempos verá a Lua nascendo ou se pondo muito mais ao norte ou ao sul do que na maioria das vezes. Nos anos intermediários, você nunca a vê lá”, disse Ruggles.
Apesar do nome do fenômeno, a Lua na verdade não está parada durante este período, ele comentou. “O que está parado são esses limites e o momento em que isso acontece é em janeiro do próximo ano [2025]”, acrescentou Ruggles. “Mas por cerca de um ano de cada lado, se você pegar o nascer da Lua no momento certo, você verá ela surgindo excepcionalmente baixa [no céu].”
Stonehenge é feito de dois tipos de pedra: as pedras sarsen maiores e as pedras azuis menores que formam dois círculos concêntricos. Ruggles disse que as pedras estacionárias de Stonehenge — que formam um retângulo ao redor do círculo — se alinham aproximadamente com as extremidades da Lua durante a estagnação lunar. Como esse alinhamento lunar foi alcançado, se foi por design e qual seu propósito potencial, é o tópico de debates que a equipe deseja investigar.
Investigando as conexões celestiais de Stonehenge
Embora não existam documentos escritos que elucidem o significado e a importância de Stonehenge, os arqueólogos há muito acreditam que seus alinhamentos solares são intencionais. Tais conformidades foram identificadas em muitos lugares ao redor do mundo e teriam sido relativamente fáceis para os construtores antigos identificarem, dado que o conhecimento do ciclo anual do Sol e sua conexão com as estações teria sido essencial para a subsistência.
No entanto, é muito mais difícil dizer se Stonehenge realmente tem uma conexão com a estagnação lunar. “Eu não acho que podemos dizer definitivamente, mas para mim, existem algumas evidências que me fizeram pensar que foi deliberado”, disse Ruggles.
Uma pista foi o fato de os arqueólogos terem encontrado restos humanos cremados agrupados no sudeste, perto de onde ocorrerá o nascer mais ao sul da Lua. “Eu acho que há uma possibilidade de que eles estivessem cientes dessa direção da Lua e que isso se tornasse algum tipo de direção sagrada”, disse Ruggles.
Desde abril, Ruggles e Silva, junto com colegas da Universidade de Bournemouth, da Universidade de Oxford e do English Heritage — a organização que administra o local –, têm documentado o nascer e o pôr da Lua em momentos cruciais, quando a Lua está alinhada com as pedras estacionárias. Espera-se que a Lua se alinhe com o retângulo de pedras estacionárias duas vezes por mês entre fevereiro de 2024 e novembro de 2025, disse Silva.
“Isso acontecerá em diferentes momentos do dia e da noite ao longo do ano, com a lua estando no lugar certo em diferentes fases a cada mês”, disse Silva em um comunicado de imprensa em abril. A equipe deseja entender quais padrões de luz e sombra a Lua cria em Stonehenge e se eles podem ter tido significado para as pessoas que construíram e usaram o monumento.
Outros monumentos com possível ligação lunar
Stonehenge não é o único monumento megalítico potencialmente ligado à estagnação lunar. Nos Estados Unidos, Erica Ellingson, professora emérita de Astrofísica na Universidade do Colorado em Boulder, está investigando os alinhamentos lunares em Chimney Rock, uma crista rochosa a cerca de 300 metros acima do solo de um vale no Colorado, nos Estados Unidos. O ponto de referência apresenta duas grandes rochas em forma de pilar que enquadram o horizonte.
Entre os anos 900 e 1.150, os ancestrais do povo Pueblo construíram edifícios de vários andares e espaços rituais neste local de difícil acesso com sua vista dramática, disse Ellington. Ainda, é um local importante para os 26 grupos nativos americanos que têm laços tradicionais ou culturais com a área.
“A vista extraordinária do céu entre os picos gêmeos sugere uma conexão astronômica, mas o intervalo está ligeiramente muito ao norte para que o Sol jamais brilhe através dele. A Lua, no entanto, pode ser vista nascendo lá quando está próxima de sua posição mais extrema ao norte, durante a temporada de grande estagnação lunar”, ela disse por e-mail.
Evidências adicionais de observação da Lua vêm da datação de anéis de árvores de vigas de madeira nos edifícios antigos próximos, o que indica que sua construção está ligada às datas das estagnações lunares há quase mil anos, acrescentou ela. As Pedras de Pé de Calanais, situadas na Ilha de Lewis, na Escócia, e erguidas antes de Stonehenge, também podem ter uma ligação com a estagnação lunar, disse Ruggles.
Bradley Schaefer, professor emérito do departamento de Física e Astronomia da Louisiana State University, nos Estados Unidos, disse que estava profundamente cético de que os antigos estivessem cientes da estagnação lunar e construíssem monumentos alinhados com ela. Ele sugeriu que isso foi, mais provavelmente, uma coincidência.
“Cada sítio antigo tem dezenas a centenas de linhas de visão potenciais e uma ou mais sempre apontarão para algum lugar próximo a uma das oito direções de estagnação”, ele disse por e-mail. A estagnação lunar é difícil de ser reconhecida por um observador casual, acrescentou ele, e só é realmente visível em dados detalhados sobre análises do nascer e pôr da Lua.
Embora a mudança na posição do satélite seja sutil e os registros históricos documentando a estagnação lunar sejam raros e difíceis de interpretar, Ellington disse que acha que a ligação é plausível porque muitas pessoas antigas observavam o céu muito de perto. “Um observador da Lua teria a visto começar a nascer ou se pôr fora desses limites, movendo-se cada vez mais para fora dos limites à medida que a grande estagnação lunar se aproximava”, disse ela.
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