sexta-feira, julho 5, 2024
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Conheça quatro pesquisas científicas mais estranhas já publicadas

Ao mesmo tempo em que a curiosidade humana desconhece limites, a ciência continua a expandir nosso conhecimento com pesquisas fascinantes e, às vezes, peculiares. 

Enquanto alguns estudos recebem Prêmios Nobel por suas contribuições revolucionárias, outros são agraciados com o humorístico Prêmio “Ig Nobel” por sua natureza inusitada. Entre esses extremos, há inúmeros estudos que ajudam a construir a montanha do conhecimento humano (ainda que de forma estranha), como os quatro exemplos discutidos a seguir.

Algumas das pesquisas mais estranhas já publicadas

Experimento do Papel em Branco

Primeiro, temos um artigo de Dennis Upper, publicado em 1974 no Journal of Applied Behavior Analysis, intitulado “Fracasso no autotratamento de um caso de bloqueio criativo”.

Folha em branco, simbolizando o insucesso do autor em superar seu bloqueio criativo. Crédito: Dennis Upper/Reprodução BBC

Esse estudo consistia em uma página em branco, simbolizando o insucesso do autor em superar seu bloqueio criativo. A revisão por pares foi igualmente cômica, com um revisor afirmando não ter encontrado nenhuma falha no design ou na escrita, recomendando a publicação do artigo sem alterações. 

A publicação incluía comentários que destacavam o fato de o estudo ser o mais conciso que o revisor já havia visto, mas com detalhes suficientes para que outros pesquisadores pudessem replicar o fracasso. 

De acordo com os pareceres, este estudo, apesar de parecer trivial, exemplifica como até os fracassos podem ser valiosos ao excluir possibilidades e refinar hipóteses. Ele também ressalta a importância de documentar todas as etapas do processo científico, mesmo aquelas que não levam a descobertas imediatas.

Corante alimentar na comida das lagartas altera a cor das asas das borboletas?

Outro estudo curioso é um publicado em 2002, que investigou “Os efeitos do corante alimentar azul na espécie de lagarta Vanessa cardui“. Os pesquisadores tentavam descobrir se a adição de corante à alimentação das lagartas alterava a cor das asas das borboletas. 

Infelizmente, o estudo enfrentou diversos problemas metodológicos, incluindo registro inadequado de resultados, contagem errônea de borboletas, e mistura de datas e rótulos. Na seção de discussão do artigo, os pesquisadores admitiram honestamente que esses erros comprometeram os resultados, destacando a importância de uma metodologia rigorosa em pesquisas científicas. 

Pesquisadores queriam descobrir se a adição de corante na alimentação das lagartas mudaria a cor das borboletas. Crédito: esiuL – Shutterstock

Eles enumeraram os problemas enfrentados: não registraram todos os resultados corretamente, calcularam mal o número de borboletas mortas, misturaram as datas e os rótulos e tiveram problemas com os recipientes das borboletas, inclusive com alguns caindo e derrubando o grupo de controle. 

Embora os resultados não tenham sido conclusivos, o estudo ainda contribuiu para a compreensão dos desafios experimentais na biologia. Ele serve como um lembrete de que a ciência é um processo contínuo de tentativa e erro, e que mesmo os estudos que não alcançam seus objetivos iniciais podem fornecer lições valiosas.

Estudo científico investigou as fezes dos pinguins

Em um exemplo de pesquisa bem-sucedida, um estudo publicado em 2003 na revista Polar Biology examinou a defecação de pinguins. Intitulado “Pressões produzidas quando os pinguins fazem cocô: cálculos sobre a defecação de pássaros”, o artigo relatava como os pesquisadores calcularam as pressões geradas pelos pinguins-de-barbicha e pinguins-de-adélia ao expelirem suas fezes. 

Os cientistas descobriram que essas aves produzem uma pressão significativa, suficiente para evitar que suas fezes atinjam os ninhos, mas não desperdiçam energia com fluxos turbulentos. 

Essas pressões foram calculadas para diferentes tipos de material expelido, desde substâncias aquosas até dejetos de maior viscosidade. 

Análise de “cocôs” de pinguins faz parte de uma das pesquisas mais estranhas já publicadas. Crédito: Meyer-Rochow, V.B., Gal, J. Polar Biol 27, 56–58 (2003).

O estudo ainda deixou questões abertas sobre o comportamento dos pinguins em relação à direção do vento, sugerindo a necessidade de mais pesquisas no futuro. Essa pesquisa demonstra que até os tópicos mais inesperados podem oferecer perspectivas valiosas sobre o comportamento animal, contribuindo para nosso entendimento da fisiologia e ecologia das aves.

Polvo causa curto-circuito

Por fim, o levantamento da BBC destaca o intrigante comportamento dos polvos, uma demonstração clara de como a curiosidade animal pode levar a descobertas inesperadas. 

Em 2008, funcionários do Sea Star Aquarium, na Alemanha, descobriram que um polvo chamado Otto estava causando curtos-circuitos ao borrifar água em uma lâmpada. Aparentemente, Otto não gostava das luzes brilhantes e, à noite, subia pela lateral de seu tanque para esguichar água na lâmpada, desligando a eletricidade do aquário. 

Este comportamento não é exclusivo de Otto. Um polvo em um laboratório na Nova Zelândia fez o mesmo, levando a instalação a soltá-lo no mar devido aos custos de reparo.

Polvos têm aversão à luz e podem até provocar curtos-circuitos para apagar uma lâmpada. Crédito: Victor1153 – Shutterstock

Ações como essas foram inicialmente observadas por Peter B. Dews em 1959, que destacou a aversão dos polvos a luzes brilhantes em um artigo no Journal of Experimental Analysis of Behavior

Ele documentou como os polvos podem desenvolver comportamentos complexos para lidar com seu ambiente, como esguichar água em objetos que os incomodam. Esses incidentes oferecem novas perspectivas para a biologia comportamental. 

Eles também ilustram a importância de observar e documentar o comportamento animal em diferentes contextos, pois isso pode levar a descobertas que desafiam nossas expectativas e expandem nosso conhecimento sobre as capacidades cognitivas e adaptativas dos animais.

Embora possam parecer triviais ou humorísticos à primeira vista, estudos como os citados acima demonstram a importância de investigar todos os aspectos da natureza e do comportamento.

Cada estudo, com suas descobertas e desafios, contribui para o vasto mosaico do conhecimento humano, lembrando-nos de que até mesmo as pesquisas mais inusitadas podem ter um impacto significativo na ciência e na nossa compreensão da vida. 

Via Olhar Digital

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