Com a morte do papa Francisco, o Vaticano se prepara para escolher o novo chefe da Igreja Católica. Até a eleição, o Colégio dos Cardeais assume a condução da instituição, com poderes limitados às decisões urgentes.
A Igreja Católica compreende o Conclave como um momento profundamente espiritual, no qual os cardeais se reúnem em oração e discernimento, buscando a orientação do Espírito Santo para eleger o novo papa.
A Igreja ensina que homens tomam a decisão final, mas fazem isso sob a orientação do Espírito Santo, que age sem anular a liberdade humana. Nesse sentido, o encontro deve começar de 15 a 20 dias depois do óbito do pontífice. Estão aptos a votar 135 cardeais com menos de 80 anos — entre eles sete brasileiros.
Aveline pode marcar retorno da França ao papado

O cardeal Jean-Marc Aveline, natural da Argélia e radicado na França, surge como um dos favoritos. Além disso, ele mantém forte afinidade com o legado de Francisco, especialmente em temas como imigração e diálogo com o Islã.
Sob a orientação de Francisco, Aveline avançou rapidamente. Como resultado, tornou-se bispo em 2013, arcebispo em 2019 e cardeal em 2022. Em setembro de 2023, organizou uma conferência internacional com a presença do papa. Se eleito, seria o primeiro papa francês desde o século 14.
Erdo representa ala pragmática

O húngaro Peter Erdo, de 72 anos, já foi cotado no Conclave anterior. Especialista em direito canônico, tornou-se bispo aos 40 anos e cardeal aos 51. Com discurso teológico mais conservador, defende as raízes cristãs da Europa e evita confrontos diretos com outras alas da Igreja.
Durante a crise migratória de 2015, Erdo contrariou Francisco ao se opor ao acolhimento de refugiados. Mesmo assim, permanece como nome viável para setores que desejam contenção doutrinária.
Grech tornou-se aliado do papa Francisco

Natural de Gozo, ilha de Malta, o cardeal Mario Grech dirige o Sínodo dos Bispos. Nomeado pelo próprio Francisco, ele tornou-se símbolo da abertura pastoral da Igreja. Inicialmente com discurso supostamente conservador, Grech passou a defender acolhimento a “famílias” contemporâneas e fiéis da comunidade LGBT.
O Vaticano recebeu bem sua mudança de tom. O papa, portanto, chegou a elogiá-lo publicamente depois de um discurso em 2014. Aos 68 anos, Grech pode representar uma continuidade reformista.
Omella encarna o catolicismo voltado à justiça social

O cardeal espanhol Juan José Omella, de 79 anos, construiu sua carreira priorizando o serviço aos pobres. Ele atuou como missionário na África, liderou campanhas sociais e trabalhou com instituições humanitárias por quase duas décadas.
Francisco o promoveu a cardeal em 2016. Omella é visto como um líder discreto, mas coerente com a visão social do atual pontificado.
Parolin tem experiência diplomática e apoio interno

O italiano Pietro Parolin, de 70 anos, ocupa o posto de secretário de Estado desde 2013. Considerado o “vice-papa” na hierarquia do Vaticano, Parolin tem longa carreira na diplomacia e participou de negociações sensíveis com China, Vietnã e Venezuela.
Embora moderado nos debates culturais, ele já criticou leis de casamento entre pessoas do mesmo sexo. Sua candidatura, por exemplo, tem força entre os que desejam uma hipotética estabilidade institucional.
Tagle representa o “avanço” da Igreja na Ásia

Luis Antonio Tagle, das Filipinas, carrega o apelido de “Francisco Asiático” por seu perfil pastoral e sua dedicação à justiça social. Foi arcebispo de Manila e hoje lidera o Dicastério para a Evangelização. Caso eleito, será o primeiro papa asiático da história.
Sua origem filipina e ascendência chinesa reforçam seu apelo em uma região onde o catolicismo ainda cresce. Tagle reúne apoio de setores missionários e progressistas.
Tobin quebra padrões e defende “inclusão”

O norte-americano Joseph Tobin, de 72 anos, dirige a arquidiocese de Newark, nos Estados Unidos. Ele se destacou pela forma como conduziu um dos maiores escândalos de abuso sexual envolvendo a Igreja no país. Ganhou respeito ao tornar públicos acordos com vítimas.
Tobin, entretanto, já declarou ser alcoólatra em recuperação e defende maior abertura à comunidade LGBT.
Turkson representa a África em “crescimento”

Nascido em Gana, Peter Turkson é um dos nomes mais antigos no Vaticano entre os candidatos. Com experiência pastoral e passagem por diversos órgãos do Vaticano, ele participou ativamente de debates sobre justiça social, meio ambiente e economia global.
Turkson seria o primeiro papa da África Subsaariana. Sua trajetória atrai simpatia de quem deseja descentralizar o poder Vaticano.
Zuppi pode recolocar um italiano no trono de Pedro

Matteo Zuppi, de 69 anos, lidera a Igreja na Itália desde 2022. Apelidado de “Bergoglio italiano”, prefere ser chamado de Padre Matteo e usa bicicleta em vez de carro oficial. Focado em migrantes e pobres, Zuppi representa a ala pastoral mais próxima de Francisco.
Como resultado, ele sofre resistência de conservadores e é criticado pela demora da Igreja italiana em lidar com casos de abuso. Ainda assim, seu nome é cogitado como símbolo de continuidade.
Burke defende o retorno à doutrina firme e ao rigor moral da Igreja

O cardeal norte-americano Raymond Leo Burke, de 75 anos, figura como um dos nomes mais preparados e firmes entre os cardeais conservadores.
Ex-arcebispo de St. Louis e antigo chefe do mais alto tribunal do Vaticano, Burke construiu uma trajetória marcada pela defesa da tradição católica, da clareza doutrinária e da integridade moral da Igreja.
Com profundo conhecimento canônico, Burke tornou-se referência entre fiéis que se preocupam com o avanço de interpretações pastorais que, em sua visão, colocam em risco os fundamentos da fé católica.
Ele propõe, por exemplo, uma Igreja centrada nos sacramentos, no ensino claro da doutrina e na fidelidade às verdades perenes do magistério.
Além disso, durante o pontificado de Francisco, o cardeal não hesitou em questionar mudanças consideradas ambíguas, como a possibilidade de comunhão a divorciados recasados e a abertura irrestrita a novas formas de família.
Burke também expressa preocupações com a perda de identidade da Igreja frente ao mundo moderno. Nesse sentido, Burke ressalta que o catolicismo precisa voltar a ocupar o lugar de farol moral num mundo cada vez mais relativista.
Acima de tudo, sua defesa da liturgia tradicional, do papel da família e da vida desde a concepção tem atraído católicos de todas as idades — especialmente jovens que buscam firmeza e coerência.