No início dos anos 2000, o Catar ainda oferecia poucas atrações culturais para turistas e moradores. No entanto, o Museu Sheikh Faisal Bin Qassim Al Thani — conhecido como FBQ Museum — já se destacava como um destino alternativo ao então modesto Museu Nacional do Catar.
Visitar o museu era uma aventura por si só: era preciso agendar com antecedência, dirigir pelo deserto (se perder algumas vezes no caminho era quase inevitável), mas, ao chegar, os visitantes eram recebidos na exuberante Fazenda Al Samriya com chá e bolo.
O grande atrativo era um espaço abarrotado de prateleiras e vitrines recheadas de artefatos ecléticos, de espadas a moedas, além de algumas raras carruagens e automóveis espalhados pelos jardins.
Não era um museu convencional, mas era, sem dúvida, um lugar que valia a pena conhecer.
Coleção privada de carros
Hoje, o FBQ Museum cresceu e se consolidou como um dos maiores museus privados do mundo, com mais de 30 mil itens. Entre eles, há uma frota de tradicionais veleiros dhow, uma infinidade de tapetes e até uma casa inteira que veio diretamente de Damasco, na Síria.
A coleção abrange desde fósseis da era Jurássica até edições antigas do Alcorão. Há também uma seção dedicada à história da extração de pérolas no Catar e joias datadas do século XVII.
Mais recentemente, o museu incorporou itens da Copa do Mundo da FIFA de 2022, como réplicas de troféus, bolas usadas nos jogos, ingressos, camisas de futebol e até uma coleção um tanto peculiar de bonecos e pelúcias infantis.
Algumas exibições podem ser controversas, como uma sala dedicada a objetos do Terceiro Reich e vitrines contendo anéis identificadores de aves. Há até rumores de que, atrás de uma porta trancada, existe uma sala exclusiva para poucos visitantes, contendo vestidos e pertences da princesa Diana. Outro espaço, agora fechado ao público, abriga uma coleção dedicada a Saddam Hussein.
“Para o público desfrutar”
O museu começou a ganhar forma em 1998, quando Sheikh Faisal Bin Qassim Al Thani decidiu abrir sua coleção ao público, na fazenda a cerca de 20 quilômetros de Doha.
Membro distante da família real do Catar, fundador de um dos maiores conglomerados do país e um dos empresários árabes mais influentes do mundo, Sheikh Faisal sempre teve uma paixão por colecionar objetos históricos e curiosos que contam a história da região.
Em entrevista à TV Alrayyan, em 2018, ele revelou que tudo começou como um hobby: “Eu colecionava sempre que tinha oportunidade. Conforme meus negócios cresceram, minha coleção também aumentou, até que decidi abrir o museu para o público aproveitar.”
O que começou como um pequeno acervo pessoal evoluiu para um complexo de 130 hectares. Além do museu, o local abriga uma reserva de órix, uma escola de equitação, um lago de patos e até uma mesquita com um minarete inclinado. Há também um hotel cinco estrelas da rede Marriott, dois cafés e o restaurante Zoufa, especializado em culinária libanesa contemporânea.
Mas, claro, a grande estrela do museu é sua impressionante coleção de carros, que abriga desde Rolls-Royces clássicos a jipes de guerra e Buicks coloridos. Do lado de fora, pavões circulam livremente, enquanto placas alertam motoristas sobre a presença de cavalos e até avestruzes.
Os visitantes podem explorar os jardins e até entrar nos estábulos para interagir com os cavalos.
Passeio imperdível
Siham Haleem, guia turístico há 15 anos, afirma que Doha agora conta com diversos museus modernos de alto nível, com o Museu Nacional do Catar sendo seu favorito. Ainda assim, ele considera a visita ao FBQ Museum indispensável.
“Para quem deseja conhecer o patrimônio do Catar e da região, o museu é uma parada obrigatória. Sou fascinado pela coleção de carros, pelos fósseis e, principalmente, pela casa síria, que foi meticulosamente desmontada e reconstruída peça por peça.”
Stephanie Y. Martinez, gerente de mobilidade estudantil na Texas A&M University no Catar, gosta tanto do museu que inclui a visita em todos os roteiros para alunos vindos do campus principal no Texas.
“As visitas guiadas são muito detalhadas, e a variedade de itens no acervo é impressionante. Sempre há novas histórias para descobrir. Meus favoritos são os carros e os móveis incrustados com madrepérola. É um dos meus museus preferidos no Catar; cada visita traz uma nova descoberta.”
Raynor Abreu, da Índia, também elogia a diversidade do acervo: “Cada item tem sua própria história, o que torna a experiência ainda mais interessante. Saber que Sheikh Faisal começou essa coleção ainda jovem torna tudo ainda mais especial, pois reflete sua paixão pela história e cultura.”
Com tantas peças reunidas sem explicações detalhadas, explorar o museu exige tempo e curiosidade. Mas não há como negar o esforço de Sheikh Faisal em criar um espaço único, capaz de contar a história do Catar e do Oriente Médio de uma maneira inusitada.
Sarah Bayley, do Reino Unido, visitou o museu recentemente com a família, incluindo adolescentes de 16 e 19 anos, e ficou encantada com sua excentricidade. “É um lugar incrível. Adorei. É simplesmente maluco!”.
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