É inegável que a vida de um papa atiça a nossa curiosidade. O rosto e as ações públicas do líder da Igreja Católica são conhecidos nos cantos mais recônditos do mundo. A vida privada, porém, não é colocada a luz. E com razão: no fim do dia, o pontífice também é um ser humano. Mas aqueles que desejam ter um vislumbre da intimidade de um papa têm endereço certo.
A 25 quilômetros de Roma, em uma pequena comuna à beira de um lago, o Palácio Papal de Castel Gandolfo serviu por séculos como a residência de verão dos papas. Inaugurado no século 17 por Urbano VIII, o suntuoso palácio foi o local escolhido para as férias de dezenas de pontífices, que chegavam aqui geralmente nos meses mais quentes do ano.
Porém, o que antes era acessível somente ao papa e seu círculo mais próximo, agora pode ser visto de perto com nossos próprios olhos. Desde 2016, a pedido do Papa Francisco, os cômodos onde acontecia a vida privada e cotidiana do Sumo Pontífice estão abertos como parte de um complexo museológico.
A quebra de tradição ecoou o legado de simplicidade de Francisco, mas o que o próximo papa fará com a residência ainda é incerto. Independente da decisão, digo com certeza que a cidadezinha de Castel Gandolfo é ideal para ser colocada em um roteiro bate e volta a partir de Roma. Além da visita aos cômodos e jardins do palácio, os arredores nos reservam muita comida boa, vinhos e história – afinal, estamos na Itália. Ciao!
Visita ao Palácio Papal
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Daniela Filomeno em Castel Gandolfo, com destaque para a entrada do Palácio Papal ao fundo • CNN Viagem & Gastronomia
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Interior do palácio possui alguns cômodos mais ostentosos, com decorações e obras de arte suntuosas • CNN Viagem & Gastronomia
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Visita ao Palácio Papal oferece um vislumbre da vida cotidiana de dezenas de papas, que usam o local desde o século 17 • CNN Viagem & Gastronomia
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Obras de arte retratando os papas ao longo dos séculos ficam espalhadas pelo interior do palácio; na foto, representação do Papa João Paulo II • CNN Viagem & Gastronomia
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Jardins do Palácio Papal têm destaque próprio e foram abertos ao público antes mesmo dos cômodos interiores • CNN Viagem & Gastronomia
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Além do quarto dos papas, passeio possibilita ver cômodos administrativos e salas recheadas de arte • CNN Viagem & Gastronomia
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Exemplos de trajes usados por diferentes cargos da corte papal • CNN Viagem & Gastronomia
A morte do Papa Francisco e o início de um novo conclave coincidiu com as gravações na Itália da nova temporada do CNN Viagem & Gastronomia. Depois de alguns dias em Roma, decidi dar um pulinho em Castel Gandolfo para conhecer um pouco da vida papal fora do Vaticano.
O Palácio Papal é a grande atração na comuna. A propriedade soma 55 hectares, sendo maior que o próprio Vaticano, o menor país do mundo, que possui 44 hectares de área. Antes fechado a sete chaves, o palácio foi revelado aos poucos.
Em 2014 foram abertos os jardins, que continuam esplendorosos e bem preservados em seu estilo italiano clássico, cheios de simeteria, terraços e fontes.
Eles são mais do que apenas bonitos: a história nos diz que foram construídos sobre as ruínas da vila do Imperador Domiciano, nos levando diretamente à época romana no século 1 d.C.
Depois, em 2015, foi aberta a Galeria dos Retratos, um dos espaços mais importantes para visualizarmos a história do papado através dos séculos. Trata-se de uma coleção de retratos de diversos papas, nos mostrando, através dos rostos, a linhagem da liderança da Igreja Católica.
Por dentro do quarto do papa

Hoje, além destes locais, podemos ter uma experiência única de caminhar pelos aposentos papais e até pelas áreas privadas que antes eram restritas ao clero. O quarto em que os papas se deitavam faz parte da visita: simples e funcional, acomoda uma cama de solteiro, uma escrivanhina e um armário. Adjacente ao quarto há ainda uma capela privada e uma biblioteca.
Curiosamente, dois papas falaceram neste cômodo: Pio XII, em 1958, e Paulo VI, em 1978. O último a passar férias aqui foi Bento XVI, já que Francisco abdicou do local. E você já ouviu a expressão “bebês do papa”? Ela pode ter nascido aqui, já que cerca de 40 crianças nasceram neste quarto, na cama do papa, durante a 2ª Guerra Mundial.
Explico: durante bombardeios em 1944, as Vilas Pontifícias, que fazem parte do palácio, foram abertas para abrigar entre 12 e 13 mil deslocados. Assim, o local também carrega um simbolismo de hospitalidade.
Depois de caminharmos pelos espaços internos e externos, que carregam uma alma de serenidade, nada melhor que sermos recompesados com uma vista privilegiada. Isso porque o palácio está voltado diretamente ao Lago Albano, cuja água de nuances azul e esmeralda ocupa uma cratera vulcânica que ladeia toda a cidade. Se quiser dar uma espiada a mais por dentro do palácio, aperte play no vídeo abaixo:
É cobrada uma taxa para entrarmos no Palácio Papal e nos jardins. Ingressos inteiros saem por 12 euros (cerca de R$ 78). Jovens entre 7 e 18 anos pagam ingresso reduzido, de 5 euros (R$ 32) e crianças abaixo de 7 anos não pagam. Os bilhetes podem ser comprados no site.
Mas as curiosidades não acabam por aqui. O interessante é que a Igreja mostrou-se uma apoiadora de avanções científicos desde o século 16. Prova disso é o Specola Vaticana, um observatório astronômico situado dentro do complexo. Antes, o observatório ficava no Vaticano, mas na década de 1930 foi transportado para Castel Gandolfo. A cúpula pode ser visitada e tem ingresso separado, com preço cheio de 8 euros (R$ 52) por pessoa.
A região de Castelli Romani
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Lago Albano fica em cratera vulcânica e garante paisagens lindas em Castel Gandolfo • CNN Viagem & Gastronomia
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Região dos Castelli Romani é repleta de restaurantes deliciosos, como as fraschette, que servem comidas locais e vinhos do Lázio • CNN Viagem & Gastronomia
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Castel Gandolfo é a cidadezinha mais famosa dos Castelli Romani e tem ruas pitorescas • CNN Viagem & Gastronomia
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Castel Gandolfo é o coração dos Castelli Romani, região encantadora que abraça pequenas cidades e vilarejos recheados de construções medievais. Não há um número definido de localidades que fazem parte da região, mas elas ficam em um raio de 20 a 30 quilômetros a sudeste de Roma, desculpa ideal para um bate e volta ou para um fim de semana tranquilo a partir da capital.
Além de muita história e paisagens esbeltas, somos presenteados com a tradição gastronômica do Lázio, que abusa dos antipasti, com embutidos de porco, feijão com linguiças e queijos.
Aqui ficam as famosas as fraschette (fraschetta, no singular), que são antigas bodegas onde o dono servia o próprio rótulo com comidinhas locais. Hoje o vinho ainda está na mesa, mas a carta aumentou, assim como a oferta de pratos. Porém, a alma simples e despretensiosa permanece.
Por falar em vinhos, os rótulos do Lázio são conhecidos por seus brancos frescos e aromáticos, como o Frascati, que vem desde o Império Romano – há uma vila na região com o mesmo nome. Ele é feito principalmente com as uvas Malvasia e Trebbiano. Mas vale apostar também nos tintos, com uvas como Cesanese e Merlot, por exemplo. Eles refletem a herança romana e o solo vulcânico da região, caindo bem com a culinária local.
Durante minha visita, me encantei com Castel Gandolfo, que é uma cidade minúscula e potente, assim como suas vizinhas. Inclusive, há um restaurante indicado pelo Guia Michelin por aqui, o Antico Ristorante Pagnanelli, em atividade desde 1882 e que possui uma vista privilegiada para o Lago Albano.

Vale também o giro por localidades nos arredores, como as comunas de Albano Laziale e Ariccia. Esta última, além da linda Piazza di Corte, no estilo barroco europeu, possui um restaurante estrelado, o Sintesi, com menus à la carte e degustação que equilibram tradição e modernidade.
Mas a minha escolha para um almoço foi a Hostaria da Sora Lella, com mesas de toalha quadriculada e receitas superitalianas. Para começar, o menu tem porchetta tradicional da cidade (comum nas fraschette daqui), prosciutto, carnes curadas e embutidos. Entre os principais? Massas à matriciana, cacio e pepe, carbonara e como era época, ainda completei com trufas. Mais italiano, impossível!
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