sexta-feira, novembro 22, 2024
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Conheça a cidade fantasma na Turquia que permanece vazia há mais de um século

Localizada na província de Muğla, no sudoeste da Turquia, Kayaköy é uma verdadeira cidade fantasma. Abandonada por seus antigos moradores e assombrada pelo passado, é um monumento congelado no tempo — um lembrete físico de tempos sombrios na história do país.

Há uma grande e imponente escola na cidade de Kayaköy. Suas ruas estreitas são ladeadas por casas que serpenteiam e se erguem nas encostas de um vale íngreme. No centro, uma fonte antiga resiste ao tempo. Há igrejas, uma delas com vistas milionárias do topo de uma colina sobre o azul do Mar Egeu. Mas, durante grande parte dos últimos 100 anos, não houve mais habitantes.

Com edifícios em ruínas lentamente engolidos pela vegetação e vistas infinitas, Kayaköy é também um lugar fascinante e de uma beleza austera. No verão, sob céus claros e um sol abrasador, o local tem uma aura misteriosa. Nos meses mais frios, envolto em neblina das montanhas ou do mar, o clima é ainda mais surreal.

Há pouco mais de um século, Kayaköy, então chamada Levissi, era uma cidade próspera com pelo menos 10 mil cristãos ortodoxos gregos, muitos deles artesãos que viviam pacificamente com agricultores turcos muçulmanos da região. Com o tumulto que acompanhou o surgimento da Turquia como república independente, suas simples vidas foram dilaceradas.

As tensões com a Grécia, após o fim da guerra greco-turca em 1922, levaram ambos os países a expulsar pessoas com vínculos com o outro. Para Kayaköy, isso significou uma troca forçada de população com turcos muçulmanos que viviam em Kavala, na atual região grega da Macedônia e Trácia.

Contudo, os muçulmanos recém-chegados não se adaptaram ao novo lar e logo partiram de Kayaköy.

Tristeza persistente


 avós de Aysun Ekiz
Os avós de Aysun Ekiz estavam entre os poucos turcos que permaneceram em Kayaköy • Barry Neild/CNN

Entre os poucos que ficaram, estavam os avós de Aysun Ekiz, cuja família administra um pequeno restaurante próximo à entrada principal de Kayaköy, servindo lanches aos turistas que visitam a cidade. Histórias daqueles anos difíceis foram transmitidas de geração em geração.

“Meus avós me contaram que os gregos choravam porque não queriam partir”, diz Ekiz, que agora vende joias feitas à mão aos visitantes. “Alguns até deixaram seus filhos para serem cuidados por amigos turcos, acreditando que retornariam, mas nunca voltaram”.

Ekiz diz que sua família se adaptou facilmente à vida nas margens da cidade. A maioria dos outros, porém, não gostou de viver em Kayaköy porque as paredes das casas eram pintadas de azul, supostamente para afastar escorpiões e cobras.

Resquícios desse azul ainda podem ser vistos nas paredes que restaram das cerca de 2.500 casas de Kayaköy, embora poucos outros detalhes decorativos tenham resistido após décadas expostas aos elementos. O que resta, no entanto, ainda vale a pena explorar como um retrato de um modo de vida antigo à beira da modernidade.

Jane Akatay, coautora de “Um Guia para Kayaköy”, acredita que um dos motivos para o abandono da cidade talvez seja a tristeza palpável que paira sobre o lugar após os eventos trágicos da década de 1920. A natureza também contribuiu para a deterioração de suas estruturas.

Terremotos e tempestades na cidade fantasma na Turquia

“Houve terremotos, houve tempestades. O clima, as chuvas… tudo isso impactou esse lugar tão interessante”, diz ela. “Também, ao longo dos anos, o reboco que segurava as construções desmoronou, e as coisas desabam quando não são cuidadas.”

Hoje, os visitantes pagam uma taxa de três euros (cerca de R$ 18,68) em um pequeno quiosque na estrada principal antes de entrar em Kayaköy. A partir daí, podem vagar a pé por suas vielas, às vezes íngremes e irregulares. Placas na entrada indicam onde fica a escola, as igrejas e a fonte de água.

Vale a pena reservar algumas horas para explorar tudo. Com poucos visitantes além de grupos turísticos ocasionais durante os períodos de pico, é fácil encontrar momentos de solitude, imaginando como a cidade era cheia de vida, especialmente na antiga praça central, onde moradores se reuniam para tomar chá e trocar histórias.

A maioria das casas, construídas no século anterior ao abandono, perdeu seus telhados, e as paredes desmoronadas ficaram tomadas pela vegetação. Algumas têm buracos no porão, antes usados para curtir peles de couro — a fabricação de sapatos era uma profissão comum ali.

Muitas ainda possuem cisternas intactas — essenciais para armazenar água em uma cidade sem encanamento.

“A água potável era trazida em burros”, diz Ekiz. Ela também relembra como, sem saneamento adequado, os moradores usavam roupas velhas cortadas em vez de papel higiênico. Esses trapos eram então queimados como combustível ou espalhados nos jardins como fertilizante.

Apesar da frugalidade dessas práticas, Ekiz afirma que Kayaköy era relativamente próspera e chegou a ser o principal centro comercial da região, superando o porto vizinho de Fethiye – que hoje é um próspero centro urbano e popular destino turístico.

Embora fosse claramente uma comunidade unida, Ekiz insiste que cada uma das propriedades de dois andares aqui foi cuidadosamente espaçada da vizinha. “Todas foram construídas de forma que ninguém tivesse sua luz solar bloqueada por outra casa”, ela diz.

“Reflexão amarga”

Um dos edifícios mais proeminentes da cidade é a Igreja Superior, uma grande construção com paredes de estuque rosa desbotado e tetos abobadados. Infelizmente, está fechado devido ao seu estado de deterioração, embora vislumbres tentadores possam ser apreciados de vários ângulos.

No ponto mais alto da cidade, as ruínas da antiga escola de Kayaköy oferecem vistas sobre a igreja principal e as casas abaixo. Hoje, há uma bandeira turca em um mastro sobre o edifício.

Do outro lado do vale, através das ruas sinuosas, a subida até a igreja menor vale o esforço. É uma escalada íngreme por rochas e pinheiros nos últimos metros, até que o caminho se abre no topo da colina.

“Isso já foi uma vila cristã, e agora o que vemos é uma reflexão amarga do que aconteceu”, diz ele. “Como a maioria dos edifícios continua de pé, é possível sentir como era a vida aqui.”

trilhas para caminhadas que passam por Kayaköy a partir de cidades próximas, mas é fácil se perder vagando pelas ruas. Algumas vielas terminam em becos. Portas abertas e escadas estão por todos os lados — embora, devido ao estado dilapidado de muitos dos edifícios, os visitantes sejam orientados a não entrar.

Do outro lado do vale, através das ruas sinuosas, a subida até a igreja menor vale o esforço. É uma escalada íngreme por rochas e pinheiros nos últimos metros, até que o caminho se abre no topo da colina.

Refletindo a cultura daqueles que viveram aqui, a igreja lembra as pequenas estruturas clássicas frequentemente encontradas nas ilhas gregas. É um edifício pequeno e modesto, com teto abobadado e janelas minúsculas sem vidro. O interior está completamente vazio.

Outra bandeira turca tremula ali, vermelha contra o céu azul profundo. Abaixo, através de uma colina densamente florestada, estão as águas reluzentes do Mar Egeu. É uma vista espetacular — e uma que pouco mudou desde os dias em que Kayaköy estava cheia de vida.

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Via CNN

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