Quando ocorrem acidentes com viagens aéreas, como a fatal colisão aérea perto de Washington, DC, nos Estados Unidos, as consequências podem se estender muito além das pessoas diretamente afetadas pela tragédia: também pode aumentar o medo de voar, conhecido como aerofobia.
Muitas pessoas já passaram por atrasos em voos devido a problemas mecânicos, clima ou outros motivos, mas não aterrorizadas com o que poderia acontecer.
“Quase toda pessoa já teve um pensamento do tipo: ‘Ah, meu voo está atrasado. Espero que tudo esteja seguro e bem’”, disse a Dra. Gail Saltz, professora associada de psiquiatria do Weill Cornell Medical College em Nova York.
Mas não é tão simples para todos. “Algumas pessoas têm uma tendência a deixar um pensamento se tornar obsessivo”, acrescentou Saltz.
“Elas não gostam do pensamento, mas ele fica na mente e elas não conseguem tirá-lo. Esse tipo de evento é um gatilho típico para as pessoas terem um aumento da ansiedade sobre voar ou desenvolverem uma verdadeira aerofobia.”
Como uma das fobias mais comuns, a aerofobia afeta mais de 25 milhões de adultos nos Estados Unidos, conforme a Cleveland Clinic. Ela costuma ser mais comum entre pessoas de 17 a 34 anos — “uma época da vida em que ocorrem mudanças significativas, como formatura, casamento ou nascimento de filhos”, observa o site da clínica. “As pessoas podem ter medo de que voar coloque sua vida em risco em um momento tão importante.”
Pouco depois da trágica colisão de um avião com um helicóptero na quarta-feira à noite, Saltz discutiu os sintomas da aerofobia e como as pessoas podem lidar com a fobia para ajudá-las a se recuperar em vez de limitar suas vidas.
Esta conversa foi levemente editada para clareza.
CNN: Qual a diferença entre ansiedade de voo e fobia de voo?
Dra. Gail Saltz: A ansiedade de voo é apenas ansiedade em relação a voar. Mas, diagnosticamente, há uma definição de aerofobia, e as pessoas que a têm apresentam um conjunto de sintomas. Existem sintomas físicos desse medo: batimento cardíaco acelerado, suor, tremores, tontura, náusea, falta de ar, dor no peito ou vômito. Há também sintomas emocionais, como sensação de pânico e preocupação.
Podem haver sintomas comportamentais que levam alguém a cancelar um voo na última hora devido ao pânico ou decidir pegar um trem por um número absurdo de horas para evitar voar. A pessoa pode escolher não fazer viagens de férias ou de negócios e buscar constantemente garantias sobre a segurança das viagens com outras pessoas.
Esses sintomas podem ocorrer até na semana anterior ao voo ou a qualquer momento durante o voo. Para que a ansiedade de voo seja considerada uma fobia de voo, esses sintomas precisam ter ocorrido por seis meses ou mais. Eles devem estar interferindo na vida da pessoa de alguma forma. As pessoas que buscam tratamento geralmente têm uma fobia debilitante.
CNN: O que causa a aerofobia?
Saltz: Não há uma única causa para qualquer fobia, incluindo o medo de voar. Mas você tem mais chance de desenvolver aerofobia se já tiver uma alta ansiedade. Outro fator é o trauma, como uma experiência de desastre natural ou um acidente de carro terrível — algo em que sua vida parecia estar em risco. Crianças que têm um pai ou mãe com medo de voar podem adquiri-lo dos pais.
CNN: Quais fatores podem preocupar uma pessoa com aerofobia?
Saltz: Às vezes, não é nem mesmo o ato de voar em si. Às vezes é o medo de estar em um ambiente fechado no ar e não poder sair. Pode ser um medo de altura, de enjoar e vomitar, de doenças contagiosas ou do momento da decolagem, aterrissagem, tempestades ou turbulência. Todo mundo pensa que você está aterrorizado de que o avião vai cair, mas isso é apenas uma pequena parte das fobias de voo.
CNN: Quais formas de lidar com a aerofobia são inúteis?
Saltz: Quando você evita ou cancela um voo, sente uma grande sensação de alívio. Esse alívio fornece um reforço positivo para o seu cérebro, dizendo: “Isso foi bom. Eu evitei o perigo. Agora me sinto melhor.”
No entanto, o seu mundo fica um pouco menor, e o seu medo, sendo reforçado por isso, fica maior. A única coisa que você não deve fazer é evitar, e por mais difícil que isso seja, ajudará a diminuir seu medo.
Além disso, evite beber ou tomar comprimidos para dormir ou outros medicamentos (para lidar com a fobia) a menos que sejam prescritos por um médico. Isso pode ser perigoso, causar dependência e não lhe dará o benefício terapêutico de se expor ao voo e caminhar na direção da recuperação.
CNN: Como alguém pode lidar ou superar o medo de voar?
Saltz: As fobias, de modo geral, são uma das condições de saúde mental mais comuns, e elas são muito tratáveis. O tratamento é a exposição e prevenção da resposta — você precisa se expor de alguma forma àquela situação temida e impedir suas respostas habituais, que só pioram a fobia. Isso é feito com um terapeuta que te guia e ensina todas essas técnicas de relaxamento e terapêuticas para lidar com a ansiedade conforme ela surge. Com o tempo, você basicamente se torna dessensibilizado a esses gatilhos. O tratamento de realidade virtual guiado por um terapeuta também pode ajudar.
Veja o que você pode fazer ao longo do caminho para tornar o voo o menos desagradável possível. Quando estiver se sentindo em pânico, meditação, relaxamento muscular progressivo e 10 minutos de respiração profunda com ritmo podem ajudar. Inspire pelo nariz contando até cinco, segure por um ou dois segundos, depois expire pelos lábios franzidos contando até sete. Assistir ou ouvir algo que te relaxe pode desviar sua atenção dos pensamentos ansiosos. Se você estiver viajando com alguém, converse sobre seus pensamentos com essa pessoa.
Para muitas pessoas, o medo está relacionado ao voo parecer uma tarefa impossível. Educar-se sobre a mecânica da aerodinâmica pode ser útil. Isso é chamado de intelectualização, como um mecanismo de defesa.
CNN: Algumas pessoas podem pensar: “Embora acidentes de avião sejam raros, nunca sei se estarei em um daqueles voos que terminam em desastre.” Como elas podem lidar com essa consciência?
Saltz: Embora eu tenha dito que esses medos são irracionais, é claro que qualquer medo pode ter um fundo de verdade, e a maioria desses medos tem. Uma coisa que os especialistas fazem é educar os pacientes sobre as estatísticas para colocar as coisas em perspectiva — como, por exemplo, o fato de você estar muito mais propenso a morrer em um acidente de carro, ser atropelado por um carro enquanto atravessa a rua ou até ser atingido por um raio do que a morrer em um acidente de avião. E você entra no seu carro ou atravessa a rua todo dia.
Há muito pouco na vida que realmente não tenha risco algum. Todos os dias, caminhamos por aí aceitando uma certa quantidade de risco para viver nossas vidas. E felizmente, a maioria de nós não fica pensando: “Melhor não atravessar a rua porque posso ser atropelado por um ônibus.” A maioria das pessoas consegue pensar coisas que permitem seguir em frente, como “vou olhar para os dois lados antes de atravessar a rua” ou “vou reservar com uma companhia aérea conhecida.”
CNN: Como os pais podem falar com as crianças sobre acidentes de avião sem fomentar uma fobia?
Saltz: O tom é muito importante. Se você soa alarmista, não importa o conteúdo — seu filho ficará alarmado. Se você não consegue falar sobre isso calmamente porque está muito agitado, vá embora e volte quando estiver mais calmo.
Tente manter as notícias e as redes sociais longe do seu filho. Você entende que está vendo o mesmo evento sendo postado repetidamente, mas para a criança, parece que o evento está acontecendo repetidamente. Diga que responderá às perguntas da melhor maneira possível e que o incidente foi algo incrivelmente raro, e que milhões de voos seguros acontecem o tempo todo. Reafirme para eles que você não os levaria a algo que não considera seguro.
CNN: Quanto tempo leva para superar a aerofobia?
Saltz: Pode ser diferente para cada pessoa, mas algumas pessoas realmente melhoram em oito ou dez sessões semanais de terapia. A fobia de algumas pessoas é resistente, então a recuperação pode demorar mais e ser muito difícil. Mas muitas pessoas respondem em um período de tempo mais curto.
A terapia pode manter a fobia afastada por anos ou, para algumas pessoas, permanentemente. Outros podem precisar voltar e se envolver novamente no tratamento. É difícil — se você tem uma fobia e pensa que a coisa mais aterrorizante que poderia acontecer é ser exposto a algo que te deixa com tanto medo, então você precisa ter uma certa quantidade de fé e confiança e acreditar que esse (tratamento) pode te ajudar.
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