Qual é a montanha mais alta da Terra? A resposta pode ser mais debatida do que você imagina. Se medirmos a altitude acima do nível do mar, o Monte Everest, com 8.849 metros e localizado na fronteira entre o Tibete e o Nepal, é claramente o ponto mais alto do mundo. Mas se medirmos da base até o topo, o Mauna Kea, um vulcão inativo no Havaí, nos Estados Unidos, com 10.211 metros, é ainda mais alto.
Há também outro concorrente: o Monte Chimborazo, um estratovulcão inativo na Cordilheira Ocidental dos Andes, no Equador. Medido a partir do nível do mar, o Chimborazo é cerca de 2.585 metros mais baixo que o Everest, mas seu pico fica 2.072 metros mais distante do centro da Terra, tornando-se o ponto mais próximo das estrelas no mundo.
“Se imaginar a Terra como um ponto azul no espaço, é o lugar mais distante do centro desse ponto que você pode estar”, explica Derek van Westrum, físico da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA).
Isso se deve à localização do Chimborazo, a apenas 1,5 graus ao sul do equador, onde o planeta tem uma leve protuberância devido à sua rotação. Essa protuberância faz com que Chimborazo esteja mais longe do centro da Terra do que montanhas como o Everest.
O Equador tem promovido Chimborazo como um destino para aventureiros comuns, em contraste com o Everest ou o Aconcágua, que exigem mais preparação e investimento financeiro. A apenas quatro horas de Quito, Chimborazo oferece uma oportunidade acessível para os amantes de montanhas.
Escalando o Chimborazo
Embora o Chimborazo seja apenas a 39ª montanha mais alta dos Andes quando medido a partir do nível do mar, no século 19, pensava-se que fosse o ponto mais alto do mundo. Alexander von Humboldt tentou escalá-lo em 1802, alcançando cerca de 5.900 metros. Sua tentativa inspirou muitos europeus a seguirem seus passos, incluindo Edward Whymper, o primeiro a atingir o cume em 1880.
Atualmente, cerca de 500 montanhistas tentam chegar ao topo a cada ano, com apenas metade conseguindo, devido à altitude e às condições climáticas.
A temporada principal para escalar vai de setembro a fevereiro, quando o clima é mais ameno. No entanto, a montanha pode ser escalada durante todo o ano, graças à sua localização tropical e temperaturas relativamente constantes.
As montanhas mais altas do país têm um clima surpreendentemente ameno, considerando que estão localizadas nos trópicos, e a quantidade de luz solar ao longo do ano varia muito pouco. A maioria dos picos também fica perto de cidades como Quito ou Cuenca, facilitando o acesso. O Chimborazo, por exemplo, está praticamente no meio do caminho entre as duas, próximo à Rodovia Pan-Americana.
“Cada vez mais pessoas estão vindo para se preparar e treinar para grandes desafios no Chimborazo”, diz Santiago Granda. “Aqui, você está mais longe do centro da Terra e mais perto das estrelas do que em qualquer outro lugar com os pés no chão — e isso é um grande atrativo.”
Quem se aventura a subir o Chimborazo geralmente faz isso em dois dias, bem diferente dos dois meses que seriam necessários para escalar o Everest. Claro, é importante fazer uma semana de atividades de aclimatação antes da subida, explica Christian Valencia, CEO da Activexpedition, uma agência de montanhismo de Quito.
Valencia sugere que, antes do Chimborazo, os aventureiros comecem escalando montanhas menores, como o Cayambe, o Iliniza Sur ou o Cotopaxi, descendo a altitudes mais baixas a cada noite para facilitar a adaptação. “É uma escalada técnica, então você precisa praticar com crampons e machados de gelo antes de encarar o Chimborazo”, acrescenta ele.
Mercadores de gelo e sacrifícios incas
Valencia, como muitos guias do Equador, também oferece opções de aventuras mais tranquilas no Chimborazo. Caminhadas de um dia, subindo até 5.180 metros, vêm geralmente após quatro dias de aclimatação na famosa trilha do Quilotoa Loop. Além disso, os visitantes podem explorar o Refúgio Whymper, a Lagoa Condor Cocha, que reflete como um espelho, e as geleiras tropicais que são símbolos das mudanças climáticas.
Muitos vão até essas geleiras para conhecer Baltazar Ushca, o último “hielero” (vendedor de gelo) do Chimborazo. Por gerações, homens indígenas extraíam blocos de gelo para vender nas comunidades locais, mas com o surgimento da refrigeração, essa tradição quase desapareceu. Hoje, Ushca, já com mais de 80 anos, é o único que continua a descer a montanha carregando blocos de gelo até Riobamba, onde são usados em uma bebida famosa chamada “quebra-pescoço”.
Outros visitantes vão ao Chimborazo pela sua paisagem alpina única. “Para muitos equatorianos, é a primeira vez que veem neve”, comenta Granda. “Mesmo que não venham para escalar, eles visitam a lagoa, que se tornou um destino muito popular.”
A montanha também é o lar de 8.000 vicunhas selvagens, os ancestrais das alpacas, e abriga o maior beija-flor do mundo, que voa ao redor de uma planta chamada chuquiraga. Há também florestas de queuña, que são árvores que conseguem sobreviver em altitudes maiores do que qualquer outra espécie.
Outro aspecto fascinante é a história pré-colombiana do Chimborazo. Nos tempos incas, jovens mulheres e crianças eram sacrificadas na montanha, acreditando-se que esses rituais trariam boas colheitas. Até hoje, os povos indígenas reverenciam o Tayta Chimborazo, o “Pai Chimborazo”, como um deus protetor. Lendas locais falam de sua relação tempestuosa com o Tungurahua, um vulcão menor e mais ativo.
Valencia diz que o Chimborazo tem um significado profundo para todos os equatorianos, aparecendo até no brasão nacional. “Não importa quantas vezes eu vá”, ele diz. “Sempre sinto uma energia poderosa toda vez que visito”.
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